otxjunior 18/11/2021O Garoto que Seguiu Ripley, Patricia HighsmithComo toda sequência do talentoso Ripley, esta entrada da famosa série de Patricia Highsmith parte da gerência paranoica, mas que não o impede de correr riscos completamente evitáveis, da má reputação do anti-herói do título. A autora nunca retorna à urgência e aos temores do primeiro volume, mas passa a desenvolver novas facetas deste personagem complexo, que é indubitavelmente o motivo de lermos estes romances, cujo estilo reflete o caráter bon vivant de Ripley, numa combinação de requinte e perversão que só Highsmith é capaz dentro do gênero e que penso nenhuma tradução fazer justiça.
Dessa vez, o estudo de personagem é duplo. O garoto divide características com o protagonista, a ponto de confundi-los em alguns momentos, mas são nas diferenças, principalmente quanto à consciência de suas ações nefastas, que parecem ser o foco da narrativa, que chega a contemplar um conflito geracional. É curioso, por exemplo, ver Ripley criticar a falta de planejamento de seu mentorado, quando é difícil justificar ações do próprio, incluindo um homicídio dispensável, puramente instintivas e improvisadas. Com exceção do ato vilanesco e predeterminado de colocar o pé para uma criança de quatro anos cair!
Porque inusitadamente é o Ripley herói do dia que aparece mais frequentemente aqui. A relação de lealdade e amizade entre os parceiros (e uso "parceiros" consciente de seu significado para além da ligação profissional) do submundo é bonita de ver. O cenário gay da Berlim do fim dos anos 70 também tem seu charme, apesar dos esteriótipos da época. Ainda é notável a bagagem cultural para um livro policial, que instiga buscas externas a quadros, músicas e edifícios. O ritmo cadenciado é equilibrado com a prosa refinada da talentosa Highsmith e o fato de sua criatura, Tom Ripley, ser uma das mais estimulantes personagens que eu já segui na literatura.