Outras cores

Outras cores Orhan Pamuk
Orhan Pamuk




Resenhas - Outras Cores


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Higor 06/03/2021

"Lendo Nobel": sobre o mundo colorido de um escritor
Poucos autores me chamavam tanto a atenção desde que comecei meu projeto “Lendo Nobel” que Orhan Pamuk. Talvez fosse a cultura, uma mistura ora intrigante, ora turbulenta entre ocidente e oriente, as aulas de arquitetura sobre a Turquia ou até mesmo a vontade de conhecer uma literatura tão diferente, pontuada em uma religião minoritária no Brasil. O fato é que eu comprava os livros de Pamuk torcendo para que os devorasse e se tornasse meu autor favorito.

A leitura de “O castelo branco” e principalmente de “O livro negro” e repeliram de maneira impensada. Em contrapartida, “Neve” e “Uma sensação estranha” me hipnotizaram. Já o magnum opus, “Meu nome é Vermelho” eu estou com receio de encarar, detestar, e ele figurar no primeiro grupo, confesso. Por conta disso, decidi andar na contramão e ler “Outras cores”, um livro íntimo e que fala muito sobre o processo de escrita de Pamuk.

Minha surpresa, no entanto, foi ver que o autor vai muito além do processo de escrita, ou então nos dando pinceladas breves sobre sua vida e ascensão de escritor. Dividindo em cinco assuntos em comum, que vão desde a vida pessoal e leituras, passando até mesmo por política, algo que ele volta e meia admite não gostar de falar sobre, tanto que decidiu abordar o assunto apenas em Neve. Aliás, é justamente “Neve” o livro mais recente de autor quando da publicação de “Outras cores”, onde sabemos também que está nascendo o que viria a ser, anos depois, “O museu da inocência”.

Além disso, temos também discursos de prêmios recebidos ao longo da vida, seja por serviços prestados à literatura ou até mesmo à paz - em um país que conflitos não só de aspectos culturais, mas religiosos e políticos são intensamente explorados - incluindo o sentimental “A maleta do meu pai”, proferido na ocasião do Nobel de Literatura.

O que fez com que eu me apaixonasse por “Outras cores”, para ser franco, foi todo o caminho trilhado por este autor, desde os seus 22 anos, quando decidiu abandonar sua rotina de estudante de arquitetura, para se dedicar exclusivamente à escrita, mesmo que tenha conseguido publicar seu primeiro livro apenas sete anos depois. Eu me encaixo em alguns detalhes, seja como estudante de arquitetura, ou com meus manuscritos na gaveta e que espero, sinceramente, que vejam a luz do sul um dia.

Assim como o pai de Pamuk entregou sua maleta ao filho, para que o mesmo abrisse quando o pai viesse a falecer, este livro funcionou como um diário, um relato íntimo sobre tudo o que o autor, à época com 50 anos, viveu e experimentou, tanto de bom quanto de ruim, para que pudesse ter seu lugar sólido no mundo e, principalmente, na literatura.

Um livro com muitos prismas, “Outras cores” funciona apenas para quem já leu Orhan Pamuk. Sempre sincero com o leitor e consigo mesmo, o autor costura vários assuntos distintos de maneira sublime, mesmo que isso venha manchar sua imagem. Basicamente, ele não tem medo de mostrar o mundo colorido de um escritor, mesmo que, às vezes, as cores desbotem.

Este livro faz parte do projeto "Lendo Nobel". Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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jota 26/01/2019

Muito além de Istambul...
O mais recente vexame internacional protagonizado pelo governo turco foi que dias atrás o presidente Erdogan declarou apoio incondicional à ditadura do asqueroso venezuelano Maduro. Outras Cores, o livro de Orhan Pamuk traz várias histórias reais de sua terra, que demonstram estar a Turquia muito mais vinculada a governos autoritários do que propriamente aos democráticos. Ele mesmo, em 2005, foi acusado e processado pelas autoridades locais por “denegrir a identidade turca” numa entrevista concedida na Suíça.

Se esse volume trata de política no entanto trata muito mais de outro assunto, aquele que verdadeiramente nos faz ter interesse por esse curioso país que nem é bem oriente nem é bem ocidente: sua literatura. Pamuk, ganhador do Nobel em 2006, autor de Istambul, Neve, Meu Nome é Vermelho e outras obras conhecidas, confessa que escreve para ser feliz. É na literatura, lendo os livros dos outros (é fã de Dostoievski, Tolstoi, Kafka e Thomas Mann, entre outros), mas principalmente escrevendo os seus próprios, coisa que faz há mais de trinta anos, que se sente realizado.

Desse modo, o leitor que quer conhecer não apenas os livros de Pamuk, mas também saber algo mais sobre a própria vida e o trabalho de um respeitado escritor vai apreciar bastante Outras Cores. Que traz mais de setenta textos (ou ensaios), uma ficção, o conto Olhar Pela Janela, uma entrevista dada à revista Paris Review e os discursos em cerimônias no exterior que já foram publicados anteriormente, inclusive o do recebimento do prêmio Nobel, A Maleta do Meu Pai, que também dá titulo ao pequeno volume que a Companhia das Letras publicou em 2007.

Nos ensaios ele fala de si mesmo, cidadão e escritor, de sua família, da Turquia, da Europa, dos Estados Unidos. O volume é dividido em seis partes, contém um pequeno prefácio, os créditos das ilustrações (poucas, todas em preto e branco) e um índice remissivo. Em Viver e Preocupar-se, primeira parte, Pamuk trata basicamente de sua vida como criança, escola, diversões, vida em família, sua filha, etc. Tudo muito interessante mas nada como a segunda parte, Livros e Leituras. E tome Laurence Sterne, Victor Hugo, Dostoievski, Nabokov, Camus, Thomas Bernhard, Mario Vargas Llosa, Salman Rushdie e outros mais. Pamuk se detém bastante em Dostoievski, em Os Irmãos Karamazov e Os Demônios, obras-primas do escritor russo.

A terceira parte, Política, Europa e Outros Problemas de Sermos Quem Somos, trata de um velho dilema turco, aquele de ser ao mesmo tempo um país ocidental e oriental, um tema que se encontra em praticamente toda a sua obra (pelo menos nos livros que li). Na quarta parte estamos de volta à literatura, mas desta vez, sob o título de Meus Livros São Minha Vida, Pamuk trata, é claro, de sua própria obra: O Castelo Branco, O Livro Negro, A Vida Nova, Meu Nome é Vermelho, Neve etc. Como esses livros surgiram, histórias a eles associadas, detalhes que podem ter escapado ao leitor, tudo isso e mais um pouco encontramos nessa seção.

Imagens e Textos, a quinta parte, mostra Pamuk interessado em outras artes, ele mesmo que um dia tentou ser pintor e também arquiteto, mas que abandonou tudo quando descobriu que o que queria mesmo era escrever: “Escrever é transformar em palavras esse olhar para dentro, estudar o mundo para o qual a pessoa se transporta quando se recolhe em si mesma – com paciência, obstinação e alegria.” Finalmente, na sexta parte, Outras Cidades, Outras Civilizações, temos basicamente suas impressões sobre os EUA, especialmente sobre Nova York, cidade onde morou por alguns meses.

Aprecio a literatura de Pamuk, este é o sexto volume dele que leio, sempre com muito prazer, então somente me resta nestes comentários recomendar a leitura de Outras Cores. Espero ler ainda neste ano O Museu da Inocência, outro volumoso título desse grande autor.

Lido entre 12 e 26/01/2019.
Alê | @alexandrejjr 19/02/2021minha estante
Creio que, após a leitura do teu texto, Jota, vou conhecer o "homem antes da obra".


jota 28/06/2022minha estante
Conheça ambos, e pode começar com Istambul ou Neve.




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