spoiler visualizarSérgio 16/10/2023
Ótimo livro, mas com personagens horrorosos.
Esse livro retrata, com excelência a pusilanimidade da classe burguesa. Andar com o Príncipe Míchkin é uma jornada que nos deixa estupefato ao nos deparar com as mais diversas personalidades rasas da história. Palavra, não sei por onde começar. É como se Dostoievski nos colocasse defronte aqueles personagens idealizáveis e idealizados de realezas da literatura e nos mostrasse que, não só eles são "gente como a gente" mas são pessoas completamente irrisórias; o que por sinal é feito de maneira genial. A história é extremamente cativante, apesar de às vezes um tanto quanto espaçadas e bagunçadas, o que faz necessitar um tempo de leitura mais dedicado; para mim isso é ótimo. O livro é recheado de alegorias e questões filosóficas extremamente curiosas e, acredito até originais. Ao nos depararmos com um príncipe estupidificado para outras pessoas como uma pessoa até relativamente inteligente e sábia é um contra-cheque a todos aqueles imbecis que o rodeiam (salvo exceções). Queria ressaltar que aqueles últimos atos do príncipe são muito chocantes e, por assim dizer, genial. Não sei se essa era a intenção de Dostoievski, mas depois de eu acreditar que o príncipe não era idiota e sim uma pessoa atípica a sociedade, ele agir como um completo estafermo e imbecil me deixou boquiaberto. Parece um choque de realidade que, a gente leitor nem deveria ter; afinal de contas, ninguém, a não ser quem leu, acreditou que o Príncipe também não era alguém pusilânime. Enquanto o príncipe se torna cada vez mais ensimesmado realizamos que o Príncipe só é inteligente de dentro, e isso só a gente vê. A medida que as consequências de seus atos revolucionários aparecem, ele se torna, com o perdão da palavra, uma batata. O príncipe é aquele revolucionário atual que se veste com as melhores ideologias mesmo vendo que, na maioria das vezes é completamente disfuncional na realidade e contexto social em que vive. Aquele ideólogo que tem as ideias para si mais perfeitas e utópicas, mas não consegue colocar em prática. Minha nossa, falar desses personagens é completamente irritante, a ponto de, ao nos depararmos com a falta de profundidade deles nos perguntamos, como ousam ser tão cheios de si, se nem profundidade vocês têm? Não percebem a que papel de ridículo vocês, literalmente são? Misericórdia! Eu teria vergonha de ser assim, e eu falo isso porque, mesmo sendo personagens, eles são tão reais que parece que eu estou lendo uma biografia. Hippolit; um falso prepotente tão cheio de si mesmo sabendo que só se torna importante ao plantar intrigas; Gania uma pessoa tão vazia que parece uma abelha zumbindo em seus diálogos; Liebédiev um idiota idiossincrático que me fazia pensar: ele não vai pagar por ser tão leva e trás? Nastácia o puro suco da egolatria, aquela pessoa que fala: ai como eu sofro, sofro mais que todo mundo por favor me amem! Mas na verdade é só uma moleca de dar pena. Aquela família que é mais imbecil do que qualquer coisa que eu haveria de pensar: O general Iepantchin um imbecil em trajes de servidor que até hoje me pergunto como isso ele é; a bocó da generala Iepantchina uma doidivanas que precisa de um psicólogo porque, além de tudo é paranoica e as garotas Iepantchina que são as três porquinhas, mas na verdade as três são meninas irritantemente displicentes que construíram as três a casa de palha; e por fim, Rogojin, um pateta abilolado completamente maluco. Essas pessoas são tão rasas que não medem a consequência de seus atos por simplesmente não terem essa capacidade. Gente do céu, Dostoievski foi genial aqui em mostrar como a classe alta e em ascensão pode ser tão rala, insossa, vazia e podre.