O Idiota

O Idiota Fiódor Dostoiévski




Resenhas - O Idiota


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Clio0 29/04/2022

O Idiota é uma história rica em significados e metáforas que compõe a crítica moralista contra o nihilismo, algo visto em outras obras do autor. Mas, diferente de clássicos como Crime e Castigo e Irmãos Karamazov, não há praticamente nada com o ponto de vista do personagem principal - o príncipe Michkin - quase toda a a narrativa é composta em terceira pessoa ou pelo olhar dos outros personagens que interagem com ele.

O motivo de tal estilo deve-se provavelmente a tentativa de imitar uma parábola, pois sim, O Idiota é uma versão russa de As Tentações de Cristo.

Michkin é um homem espadaúdo de feições finas, tez clara, cabelos loiros - uma óbvia representação da antiga iconografia de Cristo. Sua ações são sempre generosas, sua bondade é inata... e as várias digressões trazidas em sua fala remetem a velhos conhecidos como "Atirai a primeira pedra quem nunca pecou" e "Deixai vir a mim as criancinhas".

Exatamente como na bíblia, as pessoas simples recorrem a ele... mas o resto da sociedade o ridiculariza e o taxa de Idiota, leia-se aqui imbecil ou cretino. Embora hoje em dia essas palavras sejam sinônimos de burro ou ingênuo, seu significado original remetia a algum tipo de doença ou deficiência mental.

O fato de que Michkin é epiléptico faz com que suas opiniões e ações - sempre contrárias a norma seguindo o rigor da moral cristã - sejam consideradas como desvarios de um simplório.

A figura do diabo em sua forma hedônica é apresentada em Rogzhin, o amigo que disputa a atenção da bela Nastasya. Essa é a Maria Madalena, porém sua caracterização assume tons terrenos, forçando uma ambientação russa e contemporânea ao seu caráter e abandonando o canône religioso.

A força impactante da obra se revela no absoluto desprezo que o autor parece sentir pelos ícones da trama. Não há momentos de leviandade, e mesmo os constrangimentos e os incidentes agem sobre o paradigma conflito-ideia moral-solução imoral.
Felipe.Camargo 01/05/2022minha estante
Mais uma resenha maravilhosa, parabéns!


Pedróviz 02/05/2022minha estante
Show de resenha!!


Leticiahrocha 24/06/2022minha estante
Ótima resenha!


Joseni.Carvalho 15/11/2023minha estante
Li certa vez que o nome do livro seria O Príncipe, mas o governo russo proibia usar referências à monarquia. O fato é que o título ficou ótimo assim, considerando a doença do protagonista.




Cristopher 18/10/2011

Intenso!
Que história impressionante! Peguei este livro para ler despretensiosamente, é o primeiro que leio de Dostoievski, queria ver se conseguiria ver na obra do autor tudo aquilo que ouço dos amigos que já a leram. E só o que posso dizer é que esta obra "O Idiota" é infinitamente melhor do que eu poderia imaginar.

A beleza dramática do texto é absurda. As situações vividas pelas personagens são muito vivas, envolvem sempre muita paixão. Este livro conseguiu, ao longo de suas diferentes passagens, despertar em mim os mais diversos sentimentos, como intensa alegria (que risadas gostosas eu não dei ao ler as trapalhadas do maravilhoso príncipe!), ansiedade para que tudo desse certo nas idas e vindas amorosas do protagonista, terror diante das situações mais nefastas, e um profundo sentimento de tristeza pelas personagens em alguns momentos...

O livro é intenso, muito intenso. Terminei de ler ontem a noite e até agora não consigo parar de pensar no final. As passagens eufóricas e alegres fazem um contraste absurdo com esses trechos lúgubres. Fiquei realmente pasmo, definitivamente eu não estava preparado para um final desses!!

É realmente difícil resenhar esse livro, pois assim como ele causou em mim uma avalanche de sentimentos durante a leitura, ao relembrar das passagens esses sentimentos retornam e se embaralham na mente.

A dica que eu posso dar é: leiam o livro!! Vale MUITO a pena! Até agora estou muito impressionado com a história. Uma das melhores leituras que já fiz. Leiam, leiam!!
Kennedy 31/12/2011minha estante
"definitivamente eu não estava preparado para um final desses"

Sério?! Tipo, que ele ia voltar para lá eu fiquei surpreso - nem tanto. Mas o que aconteceu com Nastássia foi meio que inevitável - impressionante , porém.


Cristopher 31/12/2011minha estante
Kennedy, é meio complicado comentar isto aqui no skoob devido a questão dos spoilers (realmente às vezes pareço chato em relação a isso, mas só quem já leu acidentalmente um spoiler que estragou um bom livro sabe o quanto isso é ruim! hehe), então só o que posso dizer é que o fim da Nastássia e ainda mais especialmente o fim da Agláia me surpreenderam bastante. Eu já havia imaginado vários desfechos no decorrer da leitura, mas nada passou perto do final dessas personagens. Inclusive esse pra mim é outro ponto forte da obra, pois a história teve uma reviravolta muito grande nas últimas 100 páginas mais ou menos, de momentos extremamente eufóricos para esse final absolutamente lúgubre e cinzento.


Katsumi 12/03/2013minha estante
Tirou toda a minha necessidade de fazer uma resenha. Descreve perfeitamente o que eu senti!


Vivi 08/10/2014minha estante
Doida pra ler, e depois dessa apresentação vai pra minha lista. Li Crime e Castigo e achei fantástico!


Guy 23/02/2016minha estante
Valeu pela dica, comentário bem escrito e expressando o sentimento perante o livro.


Lenicio 02/04/2020minha estante
O Príncipe reúne todos os atributos virtuosos: bondade, honestidade, gratidão, generosidade, indulgência, humildade, paciência.
Exatamente por isso não se encaixa na sociedade e é tido como um idiota.
Essa contradição central se espraia em inúmeras situações ao longo da obra, numa narrativa envolvente que nos leva a refletir sobre o que realmente importa em nossas relações.


Marli.Ramires 06/04/2021minha estante
Então espero que vc já tenha lido Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazov, que são, ao meu ver (ou melhor, ao meu ler) muito superiores! Estou nos 52% ainda e estou sim querendo pegar esse príncipe no colo e imaginando o tanto que essa sociedade julgadora e egoísta ainda não vai aprontar com ele.
Sigamos!


Ju.Meneghel 07/08/2021minha estante
Estou lendo "Maravilhosa graça" de Philip Yancey, ele cita o livro ", depois dessa resenha vou ler com certeza!


Marcos.Azeredo 09/08/2021minha estante
O escritor que eu mais gosto.


Marcos.Azeredo 18/10/2021minha estante
Eu estou O idiota pela editora Nova Fronteira e estou gostando.




Pedróviz 17/06/2021

O Idiota
Em O Idiota, bela e densa obra de Dostoiévski, nos é contada a história do Príncipe Liév Nikoláievitch Míchkin, ou Príncipe Míchkin, que retorna à Rússia após um longo período de tratamento de epilepsia, na Suíça. O temperamento do protagonista, associado com o estigma da doença, fazem com que a sociedade de São Petersburgo o taxe de idiota injustamente, quando certamente sua inteligência emocional é superior a de todos à sua volta. A índole essencialmente cristã do Príncipe Míchkin o tornou um alvo do riso fácil e também o porto seguro dos aproveitadores. Dostoiévski, talvez por ter escrito o livro durante um período em que padecia de crises de epilepsia, passa ao enredo a tensão entre uma sociedade mesquinha e um grande indivíduo com suas limitações. Se nem o protagonista parece ter uma pró atividade em benefício próprio, tampouco outras pessoas cooperam com ele, de modo que Míchkin acaba perde9ndo uma fortuna para oportunistas e fazendo uma escolha amorosa desastrosa que decidiu a história (estava indeciso entre Nastasia Filippovna e Aglaia Epantchiná). O clima psicológico do livro é denso e os personagens se tornam mais complexos à medida que se aproximam da centralidade da trama.
Avaliação 4,5/5

Lendo o livro O Humanismo Ateu, de Henri de Lubac, tem-se uma análise excelente da obra de Dostoievski. O seguinte trecho, citado do autor Henri Troyat, fala sobre o Príncipe Míchkin:

«Todo o romance se reduz a isto: a incursão da inteligência principal na inteligência secundária. Essa inteligência principal, que é a inteligência subterrânea, a inteligência do sentimento, vai causar distúrbios no ambiente onde for transplantada. Nesta atmosfera confinada, a chegada de Muichkine produz como uma lufada de ar. Seu passo é saudado por uma risada. Ele é grotesco, ele é um idiota, sua própria mãe o chamou. Mas pouco a pouco esse idiota, esse louco, questiona os princípios mais solidamente fundados. Este pobre espírito faz os sábios pensarem. Este intruso torna-se indispensável. Este fraco domina o forte. E os domina sem querer. Ele está convencido de que todos são generosos e que todos que vivem ao seu redor o amam... As pessoas se tornam boas porque ele as quer assim, porque as vê como boas. Está no centro de um campo de forças... Aos olhos de todos é testemunho de uma outra existência, de um outro mundo possível...»

O seguinte trecho, contudo, explica a extrema passividade do Príncipe:

«Muichkine, o santo, não sabe agir, não sabe amar. Se você tentar trabalhar, você está errado. Não só não ajuda ninguém, como compromete as situações mais felizes. O papel desse homem 'absolutamente bom' ao longo do livro termina com um assassinato e três ou quatro dramas familiares. Quanto ao 'homem absolutamente bom', ele enlouquece. Ele falhou em se adaptar à condição humana. Não soube tornar-se homem...»
Marcio 18/06/2021minha estante
Estou no último quarto do livro. Mais uma vez o Dodô não entrega nada fácil nesse livro. Rs


Pedróviz 18/06/2021minha estante
Já é complicado analisar o caso entre Míshkin, Aglaia e Nastacia, quanto mais a obra toda eheh.




Carolina.Gomes 15/09/2022

O idiota
Logo após concluir a leitura de Irmãos Karamazov, resolvi ler O idiota e, talvez, não tenha sido o melhor momento.

Comecei super empolgada e fluiu. A medida que o autor ia introduzindo os personagens e foi delineando a personalidade do príncipe Míchkin, eu fui me encantando por sua bondade, sua humildade além da singular capacidade de ler o ser humano, a partir de uma conversa.

As duas primeiras partes, do romance, me ganharam e eu pensei: será um favorito.
Na terceira, porém, o autor introduziu vários personagens secundários sem qualquer relevância para a história e eu não sabia mais quem era quem no meio daqueles diálogos confusos. A narrativa truncada me fez perder o ritmo e eu prossegui a leitura, às cegas, tentando me achar. O narrador, quando você mais precisa dele, desaparece.

Daí em diante, eu não sabia bem no que ia dar e a impressão que tenho é que nem Dostô sabia o que faria do livro a partir da segunda metade.

Procurei contextualizar a obra com o momento de vida do autor: as muitas mudanças, perda da filha, perseguição por dívidas, constantes crises epiléticas e ai, talvez se justifique o caráter obscuro e confuso que o livro assumiu, para mim.

Ler Dostô não é tarefa fácil, mas de todos os livros lidos, esse foi o mais difícil, para mim.

No fim, a bonomia do príncipe se transformou em apatia e a sua inação, diante de alguns acontecimentos, me fizeram concluir que o personagem é contraditório, incoerente e realmente um grande idiota.

Gostei de ter lido, mas não está entre os meus preferidos, do autor.
Daniel 15/09/2022minha estante
Ótima resenha, Carolina! A melhor parte foi a conclusão. ????


Carolina.Gomes 15/09/2022minha estante
Obrigada, Daniel! Resenhar sobre clássicos é desafiador ?


Joao 15/09/2022minha estante
Resenha maravilhosa, Carolina! Pena que a leitura não foi das melhores :/


Carolina.Gomes 15/09/2022minha estante
Pois é, John! Queria ter amado.


Eliza.Beth 15/09/2022minha estante
Acontece! Vamos agora de Memórias do Subsolo


DANILÃO1505 26/09/2022minha estante
Parabéns, ótimo livro

Livro de Artista

Resenha de Artista!




Michela Wakami 13/03/2023

O nosso protagonista é alguém que você vai levar na memória, para sempre, na minha opinião o único que se salva na história.
Os outros personagens são pessoas difíceis de lidar.
Eu tive bastante dificuldade para concluir essa leitura, abandonei o livro duas vezes.
Embora tenham partes interessantes que me prenderam a atenção, infelizmente me deparei com outras tediosas, tornando a leitura em alguns pontos muito cansativa.
Mas no geral, achei um livro bom, mas longe de ser espetacular.
Geraldo Marçal 17/03/2023minha estante
?


Michela Wakami 17/03/2023minha estante
Geraldo, você já leu esse?


Geraldo Marçal 17/03/2023minha estante
Ainda não, mas pretendo. Comprei um "Box Digital" do autor contendo todas as suas obras inclusive essa.


Michela Wakami 18/03/2023minha estante
Que maravilha, ótima aquisição.????


Geraldo Marçal 18/03/2023minha estante
?????


Tay 19/04/2023minha estante
Eu ainda estou doida para ler esse livro .. agora q lançou na versão da Penguin ?


Michela Wakami 19/04/2023minha estante
Tay, depois que você ler, me conta o que achou. Torcendo para você gostar.




Cinara... 25/02/2023

"I think I'm dumb... Or maybe I'm just happy..."
"Eu discordo e fico até indignado quando o chamam - bem, quando alguém o chama - de idiota; o senhor é inteligente demais para receber tal denominação; mas o senhor também é estranho o suficiente para não ser como todas as pessoas, convenha o senhor mesmo."

Já dizia o Kurt Cobain... "I think I'm dumb... Or maybe I'm just happy..." E acho que esse é o caso do príncipe Míchkin.
O livro é repleto de personagens todos eles desprezíveis, arrogantes, abusivos e maldosos com o coitado do Míchkin que só perdoa e segue sua vida com seus devaneios de felicidade. Agora sim entendo a comparação que fazem com Cristo e Dom Quixote, um sonhador que perdoa todo mundo 70x7.
É um dos livros mais lentos que já li de Dostoiévski, não tira do meu favoritismo Crime e Castigo e os Irmãos Karamazov, mas está em terceiro lugar de favorito.
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Lis 13/08/2009

Um homem aparentemente inocente, e por isso considerado bobo pelos demais, mas que na verdade guarda profunda complexidade e de índole impecável.
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DeaGomes 20/02/2024

Qual é preço da bondade?
Vale a pena ser bom? Se sim, qual é o preço? Existe um limite para a prática do bem?

Terminei a leitura tentando responder a essas questões... Ler Dostoiévski sempre mexe comigo ??

Não foi um dos melhores livros que li do escritor, mas acabei gostando. Não fiquei com a sensação de que perdi meu tempo, sabe?
CPF1964 20/02/2024minha estante
Refletindo ???


CPF1964 20/02/2024minha estante
Talvez nos dias atuais ser "bonzinho" seja sinônimo de "idiota"....


DeaGomes 21/02/2024minha estante
Pois é, mas o mais intrigante é que o Dostoiévski compara a bondade e a compaixão do protagonista com a bondade de Cristo. Não sou cristã, mas nos faz refletir: Jesus era um idiota? Acho que se realmente existe um Jesus que voltará, ser for aquele da bíblia, certamente passará por um idiota aos olhos de muitos.


CPF1964 21/02/2024minha estante
Concordo, Andrea.




Isadora1232 10/07/2020

Dostoievski é mestre em transmitir os mais extremos sentimentos em seus leitores. Entusiasmo, indignação, angústia, desilusão, tudo é sempre muito intenso. O Idiota não é uma exceção a essa regra - chame-o do que quiser, menos de insosso.

É impossível sair indiferente dessas páginas e da história do Príncipe Michkin, um misto de Cristo e Dom Quixote, perdido em meio a uma sociedade aristocrática, interesseira, cheia de preconceitos e vaidades. Mas é claro que essa premissa simplista é inútil. Assim como em todos os trabalhos do autor, nada é superficial. Os personagens, por mais cretinos ou irritantes que sejam, são desenvolvidos de forma bem complexa e tridimensional, o que, na minha opinião, é uma das melhores marcas de Dostoievski.

Não é, contudo, uma leitura fácil. Os diálogos e o ritmo narrativo refletem a mente dos personagens, por isso temos alguns saltos e, por vezes, ideias embaralhadas e difíceis de decifrar. Como bem explicou Paulo Bezerra no prefácio desta edição, "esses elementos estilísticos são índices caracterológicos e parte inalienável do perfil de cada personagem (...), sua omissão representaria uma lacuna no conjunto da imagem de cada personagem (...)" (p. 8).
O ideal é o leitor já estar acostumado ao estilo de escrita do autor e escolher uma boa tradução. Aliás, os livros da 34 são sempre excelentes, mas essa edição de O Idiota me surpreendeu. Tradução impecável como sempre e muitas notas de rodapé que enriquecem na medida certa essa leitura.

É um romance que gera excelentes e demoradas reflexões, e com certeza uma única leitura não será suficiente pra extrair tudo dessa grande obra.
10/07/2020minha estante
Estou quase no fim e já é um dos meus livros preferidos ? genial


Isadora1232 10/07/2020minha estante
Fê, a leitura é sensacional né? Demorei muito pensando nele depois que terminei de ler, e até agora continuo com esse sentimento. Dá vontade de fazer altas rodas de discussão pra florescer ainda mais as ideias! Haha


11/07/2020minha estante
Muito! Eu estou lendo com um grupo de leitura em voz alta, lemos um capítulo por encontro e discutimos muuito sobre tudo que acontece. É ótimo!




sizifu 27/05/2021

O Homem Bom em ?O Idiota?
(Fragmento da matéria "Os Abismos do Sofrimento Humano em Dostoiévski" texto na íntegra em: apistajornal.com)

No romance ?O Idiota?, Dostoiévski nos apresenta o Príncipe Lev Nikoláievitch Míchkin (ou Príncipe Michkin), um personagem perfeito em sua concepção: uma moral incontestável, uma bondade excessiva e uma compaixão cega e desmedida ao próximo, tal qual a imagem de Cristo, como exemplifica Elena Vássina:

?O Príncipe Michkin para Dostoiévski era o ?Príncipe Jesus?, nos rascunhos ele escrevia assim: ?Eu quero escrever um Romance sobre um Príncipe Jesus?, ou seja, é um personagem absolutamente belo, como o próprio Dostoiévski o definia. E esse personagem vem ao mundo e no final das contas é derrotado, o bem e o amor absoluto não conseguem sobreviver no mundo de Dostoiévski.?, explica a Professora.

Na figura do Príncipe temos a personificação da bondade e da compreensão incondicional, frente a personagens que o tratam de forma ostensiva e que reproduzem em sua essência imperfeições deploráveis inerentes a humanidade, como a ganância, inveja, traição, pessimismo e outros males. Tais personagens contrapõem diretamente com a figura de nosso protagonista, que mesmo com suas qualidades é incompreendido ? tido como um Idiota ? na tentativa falha de conciliar todas as situações ao seu redor.

Outra peculiaridade do livro é que o autor retoma a discussão sobre a pena de morte, expondo sua visão e romantizando por meio do ?texto ideológico? alguns trechos e diálogos do episódio que vivenciou:

?Traga um soldado, coloque-o diante um canhão em uma batalha e atire nele, ele ainda vai continuar tendo esperança, mas leia para esse mesmo soldado uma sentença como certeza, e ele vai enlouquecer ou começar a chorar. Quem disse que a natureza humana é capaz de suportar isso sem enlouquecer? Para quê esse ultraje hediondo, desnecessário, inútil? Pode ser que exista um homem a quem leram uma sentença, deixaram que sofresse, e depois disseram: ?Vá embora, foste perdoado?.? O Idiota, Fiódor Dostoiévski.

O escritor tomou como inspiração e referenciou diretamente o livro ?O último dia de Um Condenado? (1829) de Vitor Hugo para sustentar sua argumentação, que era claramente oposta à pena capital. Além desse traço autobiográfico, o Príncipe Michkin também carrega o fato de sofrer de epilepsia: a mesma condição que afligiu o autor durante sua vida. A doença proporcionou a Dostoiévski escrever largas descrições de sintomas e aflições que uma pessoa epiléptica ?no limiar do próprio ataque? sofre ? material de grande relevância psicanalítica (Dostoiévski e o Parrícidio, Sigmund Freud ?1928).
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joaoggur 24/09/2023

Idiota; aquele que é conivente perante a podridão mundana.
Tolstoi definira ?O Idiota? como ?caótico?. Não consigo achar nenhum outro adjetivo que melhor pode exprimir os sentimentos ao lê-lo.

Como toda a obra Dostoiévskiana, acompanhamos um personagem principal (O Príncipe Michkin, uma especie de ?Dom Quixote Cristão-Ortodoxo) e vários outros personagens que o acompanham, adentrando e saindo de sua vida pelos mais variados motivos.

A ?idiotice? do personagem principal, apelido que até nomeia o livro, é o ponto mais interessante da obra. O autor, tal como em todas as suas ?Magnum opus?, dispõe-se não só de mostrar a podridão humana, mas estudar seus radicais (digo, entender a raiz de tais pensamentos e atos).

O protagonista é completamente deslocado da sociedade, um homem sem qualquer habilidade social, somado a sua ingenuidade e seus constantes ataques epiléticos. Se observarmos de caráter elitista, isto é, observarmos de uma perspectiva burguesa (onde o personagem está incluso, mas não inserido?), ele é um completo pária. A ingenuidade não tem vês em um contexto de ardis. Por diversas vezes o príncipe é renegado, tido como louco, incapaz de casar-se e, acima de tudo, não percebe este estigma posto em seus ombros. Tudo isso torna-o, idiota.

Não é uma leitura fácil. Sinto que, para se ler Dostoiévski, precisa de uma extensa bagagem literária; não só dado ao fato que ?não vale a pena começar a refeição com a sobremesa?, mas sim a perspicácia do autor ao não temer mostrar da sofreguidão (ademais, o sentimento de achar alegorias na história é imenso; tal como é difícil acompanhar os questionamentos morais, filosóficos, sociológicos e religiosos aqui presentes). Há uma pluralidade de personagens (que muitas vezes ?enroscam em si mesmos?; admito que por diversas vezes tive dificuldade de saber quem estava falando, ou sequer sabia ?aonde estavam na (s) árvore (s) genealógica (s)?.), e cada um representa alguma punção humana. O final é arrebatador (e o plot twist é intenso), mas falar que é uma batalha fácil chegar nas últimas páginas é uma calunia.
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Victoria 25/07/2020

A beleza de Dostoiévski salvará o mundo.
A construção do personagem principal de O Idiota é a tentativa de Dostoiévski em transpor para a literatura o grau supremo de evolução do indivíduo, quando ele é capaz de sacrificar-se em total abnegação, totalmente isento de egoísmo. Este era o supremo ideal ético do próprio Dostoiévski, que só o considerava possível em Jesus Cristo. Junto a este se funde Dom Quixote, e assim temos o Príncipe Míchkin, com sua compaixão absurda, capacidade de perdão infinita e sua utopia do ser humano com solidariedade irrestrita por todos.

Tais características se chocam diretamente com seus antagônicos nos demais personagens do livro, de forma que me senti indignada diversas vezes durante a leitura. Míchkin me fez ter uma alternância de sentimentos opostos por ele de maneira que nenhum outro personagem dos romances de Dostoiévski que já li até agora. A sua bondade e beleza me fascinaram, mas também me chocaram, pois seu bem absoluto nem sempre trouxe felicidade. Ele é a prova de que intenções e até mesmo atos bons nem sempre conduzem a consequências boas, e é exatamente ai que reside uma das maiores forças do livro: a sua verossimilhança. Dessa maneira, sendo Dostoiévski o escritor filósofo e psicólogo por excelência, sabe como ninguém transpor essa realidade para a arte, mesmo com um personagem principal tão distante da maioria de nós.

O Idiota contém diversas referências aos evangelhos, como também a O Último dia de um condenado. Além disso, há vários elementos biográficos do Dostô, como a sua experiência de quase morte no paredão de fuzilamento - da qual decorrem passagens altamente filosóficas falando sobre o significado da vida e da morte - e a sua epilepsia. Também é notável algumas características típicas do autor, como a construção psicológica profunda dos personagens em um enredo aparentemente banal. Por fim, ele guarda uma sensação que sempre tenho ao ler um Dostoiévski, a de que estou lendo uma peça de teatro: os grandes diálogos se dão de forma visceral, os sentimentos humanos são destrinchados profundamente, as reações dos personagens são hiperbólicas e os desfechos trágicos.
Maria 11/06/2021minha estante
Mais uma resenha excelente!

Um dos mais belos personagens da Literatura Universal...




Iara 25/10/2020

Surpreendente
Como sempre, uma obra prima de primeira. Um raio-X do ser humano ainda muito atual.
Douglas 25/10/2020minha estante
Parabéns por concluir. Não é um livro pequeno.


Isadora1232 25/10/2020minha estante
Excelente!




re.aforiori 17/05/2021

O que mais me impressionou neste livro foi a enorme compaixão e bondade do príncipe Míchkin, um dos motivos pelo qual é ridicularizado como ?idiota?; a frieza de Rogójin, na cena do desfecho da história; e, sobretudo, a beleza dramática de acontecimentos que envolvem Nastácia Filíppovna - que age, às vezes, com histeria e, outras, de forma muito próxima a loucura.

Durante a leitura, teve partes que parecia que eu estava diante de uma bela peça de teatro. Dostoiévski é um gênio na construção de diálogos, que retratam com acuidade o psicológico de seus personagens e demonstram o quão é um grande conhecedor da alma humana.
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Madu | O corvo livros 10/10/2020

A leitura desse livro foi uma baita experiencia que durou um mês inteiro. Não tenho pretensão de fazer análises cultas ou algo do tipo, então vou escrever apenas as minhas percepções.
Achei um pouco longo demais, cansativo em algumas partes e confuso em outras.
Os personagens são muito controversos ao meu ver, foi difícil gostar realmente de algum deles, até mesmo do herói Míchkin, mas todos são interessantes à sua maneira, principalmente a Nastássia, o Rogójin e o Ippolit. Claro que o príncipe é o objeto de toda a curiosidade aqui, mas fora ele foram esses que mais me chamaram a atenção.
A Nastássia talvez tenha algum transtorno de personalidade levando em conta o seu passado, tendo perdido toda a sua família quando criança e sendo aliciada por um homem adulto durante a adolescência, ela tem explosões de raiva constantes e ao mesmo tempo se deprecia em comparação à figura do príncipe, não se considera uma mulher digna de estar com ele.
Do príncipe muito bem já falaram em outras resenhas sobre a inspiração para a sua criação e personalidade, no início senti bastante empatia e gostei dele, depois eu só me senti desgastada com toda a falta de ação dessa criatura.
O rogójin é detestável, sem dúvidas, mas ainda assim interessante.
O Ippolit levanta questões muito reflexivas em um momento que é um dos meus preferidos do livro.
Enfim, até agora não me decepcionei com Dostoiévski e quero seguir lendo suas obras, mas levando em consideração que essa é uma das suas maiores junto de crime e castigo eu ainda prefiro crime e castigo.
Nilton 22/11/2020minha estante
O Hippolit é o meu preferido! :)




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