Leandro.Bonizi 19/12/2022
Maior reseprentante brasileiro do simbolismo!
Cruz e Sousa (1861 — 1898), filho dos escravos alforriados, foi desentendido por quase todos os críticos de sua época, não só pela inovação de sua poesia, como pelo fato de ser negro. Em respota às críticas na primeira edição antes de começar a obra ele cita Baudelaire em cujo trecho ele pedia a Deus e graça de compor versos que demonstrassem que ele não era inferior aos homens que desprezava. Bela resposta!
Alguns críticos foram exceção. Sílvio Romero fez o contraponto à poesia parnasiana da época chamando de "o rei da poesia sugestiva". Mário de Andrade definiu como "acorde harpejado" e também como "polifonia poética".
Ninguém como Cruz e Sousa usou tanto a frase nominal, a justaposição de frases sem verbos que, pode-se dizer, é sua marca registrada. Há em broquéis inúmeros poemas com sequências de duas ou mais estrofes deprovidas de verbo. O poema que inaugura a obra, "Antífona", o verbo principal aparece no 19º verso e há apenas um secundário no final da terceira estrofe. As sequências sem verbo são constituídas pela enumeração caleidoscópia de prismas diferentes do mesmo assunto, da mesma impressão ou da mesma atmosfera.
A obra é muito rica em estilística, Cruz e Sousa abusa de diversas figuras de linguagem, como harmonias imitativas. Os poemas possuem feição onírica e freudiana. Imagens representam os lampejos do inconsciente. É comum o emprego de letras maiúsculas sem necessidade gramatical e a reiteração do sinal de reticências.
Exalta com frequência a cor branca, significando pureza e religiosidade:
"Braços nervosos, brancas opulências,
Brumaes brancuras, fúlgidas brancuras,
Alvuras castas, virginaes alvuras,
Lactescencias das raras lactescencias"
É comum a enumeração de adjetivos, como em:
"Rolos d'incensos alvadios, finos
E transparentes, fúlgidos, radiantes,
Que elevam-se aos espaços, ondulantes,
Em Quimeras e Sonhos diamantinos"
Um exemplo de uso de aliterações ritmadas:
"Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Tudo nas cordas dos violões ecoa
E vibra e se contorce no ar, convulso..."
Utiliza-se vagueza, abstração, projeção de conteúdos psicológicos, e sugestão cromática. As unidades significantes do textos se unem mais por justaposição sensorial do que pelo nexo lógico-sintático.Também demonstra religiosidade.
"Ah! Lilases de ângelus harmoniosos,
Neblinas vesperais, crepusculares,
Guslas gementes, bandolins saudosos,
Plangências magoadíssimas dos ares...
Serenidades etereais d'incensos,
De salmos evangélicos, sagrados,
Saltérios, harpas dos Azuis imensos,
Névoas de céus espiritualizados.
Ângelus fluidos, de luar dormente,
Diafaneidades e melancolias...
Silêncio vago, bíblico, pungente
De todas as profundas liturgias"
Trata de vários sentidos como no trecho sinestésico que se segue. Há movimentos e nuanças cromáticas, aos quais associa uma sutil musicalidade e certos tons odoríferos:
"Mais claro e fino do que as finas pratas
O som da tua voz deliciava...
Na dolencia velada das sonatas
Como um perfume a tudo perfumava.
Éra um som feito luz (...)"
Nos poemas eróticos, a constante cumulação de metáfora sobre metáfora, de adjetivo sobre adjetivo, de cor sobre cor produz a impressão de que o poeta deseja redimensionar o mundo. Enumeração caleidoscópia de aspectos abstratos da motivação sexual. Musicalidade abstrata e transparência luminosa dos termos se harmonizam com a concepção platonizante e contemplativa do amor. E a imagem da serpente associada à luxúria. A luxúria é acompanhada de imagens coloridas de vermelho e negro. Há imagens da morte também.