O lobo da estepe

O lobo da estepe Hermann Hesse




Resenhas - O Lobo da Estepe


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Bookster Pedro Pacifico 21/01/2021

O lobo da estepe, de Herman Hesse
A primeira leitura de 2021 já começou muito marcante para mim. Como comentei com vocês, fazia algum tempo que não me identificava tanto com um livro. Já era um grande fã de Hesse depois de ter lido “Sidarta” e “Knulp” e, depois de “O lobo da estepe”, talvez possa falar que o autor está no meu top 10 de escritores favoritos.

Nessa obra, Hesse apresenta ao leitor a história de Harry Haller, um homem na faixa dos 50 anos que vive crises existenciais, e é por meio dos diálogos internos do protagonista que o autor, influenciado pela psicanálise, traz reflexões interessantíssimas sobre a condição humana.

No começo da narrativa, nos deparamos com um Harry cansado da vida e que, constantemente, é acometido por pensamentos suicidas. Esse estado psicológico do personagem deixa o começo da leitura até mesmo mais parada_ talvez tenha sido algo intencional, a fim de refletir a melancolia de Harry_, mas um acontecimento pouco inusitado em sua vida coloca o personagem de frente com “O tratado do lobo da estepe” e com novas amizades que trarão uma vontade de viver a Harry. É a partir desse momento que a narrativa se desenrola de forma extraordinária!

Há, também, uma crítica constante à hipocrisia que recai muitas vezes sobre a classe burguesa. Isso porque o protagonista tece diversos comentários contra a burguesia, esquecendo, por sua vez, que ele mesmo se enquadra como uma luva nessa faixa social.

Achei interessante que, no posfácio da obra, o autor avisa que leitores mais próximos da meia idade tendem a se identificar ainda mais com os pensamentos do personagem. Se eu já me identifiquei muito, fiquei com vontade de fazer uma releitura daqui a 20 anos. Com certeza as reflexões serão diferentes e mais profundas! Recomendo muitíssimo!

Nota: 10/10

site: http://instagram.com/book.ster
Sheila.Kamoda 23/01/2021minha estante
Sempre leituras enriquecedoras. Gratidão por partilhar ?


Sthefanny.Alcantar 24/01/2021minha estante
Livro que influenciou Clarice Lispector em A paixão segundo G.H. ?


Dieguito.Reis 30/01/2021minha estante
10/10 a resenha TB... Tou lendo depois de ler "Sidarta" e tou me identificando bastante.


Marcos Milone 11/03/2021minha estante
Um dos livros que mudou a vida de Clarice Lispector quando ela estava nos seus 20 anos.


Marcos Milone 11/03/2021minha estante
Um dos livros que mudou a vida de Clarice Lispector quando ela estava nos seus 20 anos. Quero ler... sua resenha me estimulou.


Mario.Silva 24/06/2021minha estante
Eu li em um tempo remoto suas obras


Renata 15/12/2022minha estante
Eu li esse livro em 2017. Até hoje é meu livro preferido. É perfeito!




Bell_016 06/12/2009

Tantos comentários de que o começo é chato e blá, eu tinha que vir aqui dar a minha opinião. O começo é parado, quer dizer: não tem uma ação rolando, são páginas de digressão filosófica. O que nem de longe é chato, é uma ótima, mas ótima mesmo, parte do livro, uma das melhores (talvez a melhor, depende do leitor que você é). Depois temos "ação" pelo resto do livro, e que livro... O que eu não daria para experimentar todas as atrações do Teatro Mágico... Um livro extremamente depressivo no início, mas que carrega claramente uma mensagem de esperança. Acho até que o li na época certa... Quando vi que Hesse gostaria que seu livro fosse lido por pessoas de 50 anos que estariam passando pela mesma situação de Harry, me senti uma velha, confesso... Muitas das angústias lá descritas não são novas para mim, mas vou também descobrindo os prazeres que ele demorou anos para aprender.


Peguei esse livro despretensiosamente numa biblioteca e com a mesma cara de espanto que fiz dezenas de vezes lendo o texto de Hesse eu o devolvo tendo certeza que o recomendarei para muita gente. Eu leio muito e procuro ler cada vez mais porque sei que nunca é suficiente e estou longe do que gostaria, já cruzei com livros ruins, outros maravilhosos, mas só alguns atingem profundamente nossa sensibilidade. O Lobo da Estepe pertence à última categoria, sua imagem irá sempre andar comigo. E, um bônus para os fãs da banda Teatro Mágico, não faltam nas músicas deles referências ao livro, trechos escondidos e por aí vai.


Leia, leia muito, mas aprenda a dançar também e nunca deixe de rir.


Só para loucos.
Só para raros.
Entrada ao preço da razão.
Marcos 19/01/2010minha estante
Só comentando, fui um dos que acharam o começo chato. O início é chato porque demora a se situar, a mostrar a que veio, diferente dos outros do mesmo autor, como Sidarta e Demian. Peguei o livro para ler sem ter qualquer idéia do que se tratava, de como seria sua abordagem. Talvez fosse mais fácil para você por ser fã da banda e já ter contato com algumas passagens do livro. Para mim, tudo foi novidade. Eu teria aproveitado melhor o livro se o tivesse deixado por último na trilogia. Ainda assim, um de meus favoritos.


Doug 17/02/2010minha estante
Como assim, 6 pessoas gostaram e "3 não gostaram", não entendo. Excelente resenha Bell, você conseguiu resumir toda a impressão que fiquei depois de ler o livro. Concordo com você.


dai_araujo 23/02/2011minha estante
Clarice Lispector sobre este livro: "Tomei um choque" http://youtu.be/2Orgxd9bD_c


ErickFernandes 22/06/2011minha estante
Gostei da Resenha e gosto muito de TM.
Fiquei instigado a ler esse livro logo...


Babi 07/01/2013minha estante
Bem,essa resenha me deixou com mais vontade de ler ainda.Conheci o livro pelo "Teatro Mágico",a trupe,a banda.Depois,li "Sonho de uma flauta",do mesmo autor,e que originou o nome de uma música da trupe.Mesmo lendo apenas "Sonho de uma flauta",vi como o escritor é incrível,e agora a vontade de ler ainda aumentou,como já disse,espero lê-lo muito em breve.


_lima_dani 19/07/2013minha estante
Eu já tinha ouvido falar do livro e com meu amor pelo Teatro Mágico me deu uma louca vontade de ler. Já estou à procura, pensando em comprar... Fico feliz em saber que é um livro excepcional, também para servir de inspiração para os Raros né?


Klerval 23/10/2013minha estante
Esse livro é incrível desde a primeira página, quem diz que o começo é chato é porque não entendeu o livro, ou teve preguiça de ler até o fim e deu essa desculpa.


Renata CCS 07/11/2013minha estante
Uma de minhas mais recentes aquisições. Depois de ler sua resenha, vou colocá-lo no início da fila de próximas leituras.


Keylla 27/05/2015minha estante
Parabéns pela resenha, Bell. Entrou na lista dos meus desejados!


Mickey 09/04/2020minha estante
Com toda certeza é um dos livros mais interessantes que tive o prazer de ler! Afinal, aborda a história de todos nós, onde temos um universo de personagens dentro de cada um...


Fábio M. Pacheco 13/10/2020minha estante
Um dos melhores livros de ficção que li na minha vida. Marcou-me bastante como ser humano.


Trovo 19/08/2022minha estante
Foi justamente o "começo" que me fisgou




David 11/08/2020

Estou bem impactado. Nessa obra Hesse proporciona profundas reflexões e olhares na alma humana, crua e verdadeira, visceral, com todas as suas qualidades e contradições.

Uma leitura um tanto filosófica e poética sobre vida, lugar na sociedade, complexidade das relações humanas, pertencimento...

Leitura recomendada para momento de disposição de reflexão.
Sávio 12/08/2020minha estante
Valeu, companheiro! Vai direto pra minha lista de desejo...


digo26 12/08/2020minha estante
tenho interesse . Já li um do HErmam HEsse e gostei.


digo26 13/08/2020minha estante
DEMIAN. muito bom. Hesse escreve maravilhosamente bem


Sávio 13/08/2020minha estante
Show! Valeu!


David 14/08/2020minha estante
Outro dele que li foi Sidarta e é ótimo! Gosto mesmo da escrita dele. Boa leitura pra vocês!!




Jpg 26/08/2011

É preciso aprender a morrer

Eu diria que quem não passou das primeiras páginas, realmente não precisa, ou não merece ler o livro. Só quem já foi até o inferno e voltou sabe o que se passa com Harry Haller; só quem já chegou ao ponto em que nem viver e nem morrer faz sentido algum, poderá aproveitar plenamente a obra. Só os raros.

Harry Haller deixou de viver há tempos, e só sobrevive ao mundo. Seu combustível é o medo da morte; ou seria da vida? Sua racionalidade aprisiona seus instintos, mas o lobo prisioneiro encontra modos de sair e destruir seu mundo lógico. O que Harry não compreende, é aquilo que só pela intuição podemos compreender: a vida é irracional, é uma música improvisada que exige uma dança, uma entrega, uma espécie de morte.

É preciso aprender a morrer, aceitar a incerteza; ser incerto, pois não somos um nem dois, somos vários dentro de nós mesmos, esperando a hora certa pra entrar na dança.

gabi 15/11/2012minha estante
excelente resenha


Sarah 21/11/2012minha estante
Já tinha vontade ler. Depois do seu comentário então...
Traduz exatamente o que sinto neste momento
"só quem já chegou ao ponto em que nem viver e nem morrer faz sentido algum, poderá aproveitar plenamente a obra. Só os raros."
E este não é um comentário romântico, mas do mundo , da sociedade. Preciso "aprender a morrer, aceitar a incerteza; ser incerto, pois não somos um nem dois, somos vários dentro de nós mesmos, esperando a hora certa pra entrar na dança"

Obrigada


elena.lima1 21/12/2016minha estante
Excelente! sua resenha.




Jorlaíne 12/09/2022

Só para loucos!
Como cita o próprio Hesse, talvez este seja um livro "só para loucos". A narrativa vai revirar a sua mente e fazer você sentir a depressão, a esquizofrenia e o psicodélico. Hesse não falha neste livro surreal!
Rayza.Figueiredo 12/09/2022minha estante
meu Deus, QUERO!


Will 12/09/2022minha estante
Foi pra minha lista de leitura futura depois dessa análise.




3.0.3 04/01/2024

Àquele que procura o sentido flutuante das coisas entre as ruínas da vida
Tido por muitos críticos como a grande obra de Hermann Hesse, O Lobo da Estepe une traços surrealistas com bases psicanalíticas. No livro, conhecemos Harry Haller, um homem de meia idade que vive fora dos padrões de sua época, empregando o seu tempo na alta cultura e padecendo diante da frivolidade humana. Atravessado por profundas crises existenciais e frequentemente assaltado por ideias suicidas, Harry traz a lume diversas reflexões sobre as circunstâncias que envolvem o homem e a vida.

Ao longo da narrativa, Harry vê constantemente o seu ego partido em dois: se, por um lado, vive um “eu” solar, sabedor das realidades que envolvem a vida e simpatizante de uma cultura aristocrata, nobre e elegante, do outro, vive um “eu” sombrio, que é o Lobo da Estepe, a sua dimensão animal, responsável por concentrar em si todos os seus impulsos agressivos, bárbaros e brutais.

Pensando durante anos que a sua vida se resumia somente a essas duas dimensões – a solar e a sombria –, Harry ganha na rua um folhetim, “O Tratado do Lobo da Estepe”, que disserta exatamente a teoria de suas características. A partir desse ponto, o narrador é posto em suspensão, é deslocado de seu centro, e a narrativa é desenvolvida de forma sublime e assombrosa.

Impulsionado pelas palavras daquele impresso, Harry conhece Hermínia, figura responsável por abrir os seus olhos, mostrando-lhe que a vida que ele julga conhecer é completamente escassa, limitada e insuficiente. Desse ponto, o livro abandona a sua perspectiva dual e, introduzindo outros personagens, progride com fortes traços surrealistas, que desvelam a cada movimento os fragmentos de uma vida mais multiforme e complexa, estilhaçada a ponto de cada figura se tornar uma partícula que forma o todo de Harry Haller.

Asfixiante, denso, dramático e profundamente existencialista, O Lobo da Estepe é, certamente, um livro que nos fisga desde o início e que nos coloca para pensar das primeiras às últimas páginas. Durante todo o percurso de leitura, persiste uma atmosfera de desassossego, como se alguma espécie de loucura nos espreitasse, desejosa para nos invadir e nos devorar.

Sem dúvida, umas das grandes leituras do ano.
Arthus.Mehanna 22/02/2024minha estante
Muito bom o livro e sua resenha.




Andre.Crespo 19/01/2011

Um livro para loucos; um livro para poucos.
"Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes - aquele animal extraviado, que não encontra abrigo nem alegria
nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreenspivel". É assim que Harry Haller, o personagem principal de "O Lobo da Estepe" se define. Alguém que não encontra sentido em nada, um niilista; um indivíduo que perambula pelos restaurantes mais caros ou pelos bares mais porcos, tentando encontrar um sentido para sua vida. Mas não o encontra.

"O Lobo da Estepe" fala de Harry Haller, um intelectual que se hospeda em vários lugares que tenham o "cheiro da burgesia", que ele tanto odeia, mas do qual não pode se desprender. Vive só, inteiramente só. Anda por vários lugares, lê vários livros, escuta Mozart, Bach, Handel, e mesmo assim não encontra satisfação em nada que faz. A vontade de pegar na navalha, cortar seu pescoço e tirar sua vida aumenta a cada dia, mas lhe falta a coragem. Enquanto não corta sua existência maldita e vazia, ele continua a viver sua vida ingrata.

Esse sofrimento perdura até o momento em que vê um anúncio que o leva ao encontro de uma pessoa. A partir daí, sua vida toma um rumo totalmente inesperado. Parece que daí em diante Harry Haller começa a viver realmente. Começa a achar um sentido em sua vida, e esconde cada vez mais o lobo que diz ter em seu interior.

"O Lobo da Estepe" é um livro profundo. Profundo e denso. É preciso muita atenção e força de vontade para se acompanhar o relato de Haller. Alguém que fala tão mal de si, e vive tão só, demonstra gostar tanto da sua solidão, chega a irritar qualquer um. Mas em suas palavras, nas descrições que faz de si mesmo, acabamos encontrando uma parte de cada um de nós. Eu pelo menos me reconheci um pouco na figura de Haller.

A falta de diálogos no começo do livro me deixou um pouco precoupado, mas me surpreendeu o fato de que a falta desses não prejudicou em nada o andamento do livro. Desde o começo foi se mostrando um ótimo livro, e com o advento dos diálogos, ficou magnífico! Todos bem elaborados, tais diálogos só deixaram o livro mais interessante ainda!

Definitivamente, "O Lobo da Estepe" é um livro mágico, encantador. Para aqueles que gostam de música clássica, vão adorar pelo fato das muitas citações feitas à artistas ligados ao ramo. Entretanto, gostando-se ou não de música clássica, quem o lê deve reconhecer o potencial que tal livro possui.

Um livro para poucos, isso com certeza é!
Carla Macedo 09/05/2011minha estante
Por sua resenha este livro vai pra minha estante. Parabéns e ótimas leituras.


meire 12/06/2012minha estante
caro alexander! lembrei de "confissões de felix krull", mais um romance de formação de t. mann em que o começo é denso, parágrafos inteiros em uma única página. quando chegam os diálogos, o livro alcança o ápice!




Joao.Alessandre 26/11/2022

Para loucos, raros, lúcidos, curiosos, fortes...
Livro vigoroso. Surpreendente em muitos aspectos. Toca em pontos sensíveis numa escalada de caos progressivo. Vários conceitos e valores da época são questionados e temas como agressividade, arrogância, autodestruição, abuso de substâncias psicoativas e confronto com a narrativa belicista do entreguerras são marcantes no steppenwolf. Não é uma leitura agradável. Não é para todos. O próprio autor esclarece que a obra pode ser assimilada maneira diversa considerando-se o momento de vida do leitor. Hesse nos pega com passagens inesquecíveis, profundas, esclarecedoras. Lança um facho de luz em pontos obscuros de nossa existência e nos conduz numa trilha perigosa e inquietante rumo ao autoconhecimento.
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Rafa 19/07/2020

Reflexivo
A 1ª metade do livro exagera no plano filosófico, o que torna a leitura maçante.
Contudo, a partir da introdução da personagem Hermínia o texto é revigorado. Em síntese, a obra apresenta voz contra padrões estabelecidos, bem como, desmascara a concepção sobre nossa natureza indômita.
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Fabio Shiva 10/12/2023

O HOMEM VÊ UM LOBO NO ESPELHO, OU SERÁ QUE É O LOBO QUE VÊ UM HOMEM?
Foi com Hermann Hesse que comecei a passar livros adiante. É que a cada leitura de um livro dele eu ficava tão impactado, tão extasiado, tão para além de mim que sentia a necessidade de expandir a minha leitura pelos olhos de outras pessoas. “Fulano precisa ler isso”, eu dizia, ou então: “Esse livro é a cara de Sicrana”. E alegremente eu passava o tal livro para Sicrana ou para Fulano. Tempos depois, ao encontrar outro exemplar do mesmo livro em um sebo, eu pensava: “está na hora de reler esse”.

Essa foi, em resumo, a história de meu relacionamento com tantas obras queridas de Hermann Hesse. E assim foi que li duas ou três vezes “Sidarta”, “Viagem ao Oriente”, “O Jogo das Contas de Vidro”, “Demian” e, é claro, “O Lobo da Estepe”.

Meu primeiro encontro com o Lobo aconteceu aos vinte e poucos anos. Foi uma porrada e tanto, pois me senti não só compreendido como devassado por aquele senhor alemão tão sisudo. Desnudamento semelhante com uma leitura só senti ao encarar “Os Irmãos Karamázov”, do igualmente sisudo Dostoievski.

Tais livros preciosos, que nos revelam pedaços de nossa própria alma, tão secretos que acreditávamos que ninguém mais no mundo soubesse a respeito, tais livros devem ser lidos repetidas vezes, penso eu. Ao nos medirmos novamente no espelho dessa leitura, podemos constatar de forma muito vívida o quanto caminhamos e nos transformamos desde a leitura anterior.

Pois então. Meu primeiro exemplar de “O Lobo da Estepe” foi para uma amiga poeta que, assim como eu, amava Mozart (uma figura central na trama desse livro). E o resultado foi que ela também se tornou uma devota de Hermann Hesse, lendo e relendo suas histórias repetidas vezes.

Mais de dez anos se passaram, e tive um segundo encontro com o Lobo. Dessa vez registrei minhas impressões em uma resenha (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2012/08/o-lobo-da-estepe-hermann-hesse.html), que também foi veiculada no quadro semanal que apresento na Atmosfera 102, programa de rádio conduzido pelo querido Fernando Bamboo (https://youtu.be/iUdS1KCX9LM?si=A_fbykbFIAVWD37S).

Dessa vez, ao terminar a leitura senti o ímpeto de passar o livro para um amigo músico que estava atravessando uma séria crise existencial. “Ou vai ou racha”, pensei. Rachou: tenho quase certeza de que ele não leu o livro, mas acabou se descobrindo um bolsonarista roxo, e logo depois aderiu ao culto de Malafaia. Vira e mexe me pego pensando se o Lobo o teria resgatado de tal sina...

Mais uma meia dúzia de anos, e pela terceira vez posso me contemplar no espelho de “O Lobo da Estepe”, ao encontrar um exemplar novinho em folha no Cantinho dos Livros (espaço para doação e troca de livros no Mercado Municipal de Itapuã). E agora, aos 50 anos, tenho a mesma idade que Harry Haller, o atormentado herói do romance e que também era um alter ego do autor.

Curiosamente, dessa vez nem de longe se agitaram em meu peito as tempestades das duas leituras anteriores. Achei tudo interessante e bonito, mas não me reconheci mais no espelho que tanto havia me revelado. Fiquei muito intrigado. Uma pista para explicar tal fenômeno encontra-se no posfácio escrito pelo próprio Hesse:

“Parece-me que de todas as minhas obras, O Lobo da Estepe é a que vem sendo mais frequente e violentamente incompreendida, e o curioso é que, em geral, a incompreensão parte mais dos leitores entusiastas e satisfeitos com o livro do que dos leitores que o rejeitaram. Em parte, mas só em parte, isso pode ocorrer com tal frequência em razão de este livro, escrito quando eu tinha 50 anos e tratando, como trata, de problemas peculiares a essa idade, cair não raro em mãos de leitores muito jovens.”

Outros trechos que me marcaram nessa terceira leitura:

“O homem devia orgulhar-se da dor; toda dor é uma manifestação de nossa elevada estirpe.” (citação de Novalis)

“E, naturalmente, não querem pensar: foram criados para viver e não para pensar! Isto mesmo! E quem pensa, quem faz do pensamento sua principal atividade, pode chegar muito longe com isso, mas sem dúvida estará confundindo a terra com a água, e um dia morrerá afogado.”

A edição que li nessa terceira vez traz um lindo brinde: “Sonho de uma flauta e outros contos”, que eu ainda não conhecia. Espero ler em breve.

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2023/12/o-homem-ve-um-lobo-no-espelho-ou-sera.html



site: https://www.instagram.com/fabioshivaprosaepoesia/
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Paty 20/02/2014

Um livro que passou a ser devorado como uma espécie de O Pequeno Príncipe da geração hippie. Claro que chegou até mim coberto das louros e absolutamente adorado por quase todo mundo que eu conheço. Não bateu. Fechei o livro com a sensação de algo superestimado e abaixo das minhas expectativas. Foi suficiente para impedir que fosse atrás das outras obras do escritor. Posso estar perdendo muito. Continuo achando que não.
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Bruno 16/09/2022

O lobo da estepe
Por anos fugi deste livro, recomendado por conhecidos que falaram que eu me identificaria. É meu quarto livro do Hermann Hesse e criei que li em um bom momento, caso contrário não teria capturado todas mensagens que capturei.

O livro narra a história do protagonista, que sendo um homem erudito vivia na constante dualidade interna entre viver na sociedade e administrar seu lobo interno que desejava estar sozinho e, quando em contato com a sociedade, sentia sede de morder e atacar as pessoas por sua falta de conteúdo e senso crítico.

Nosso lobo se prepara para desistir dessa vida, até que, por acaso, conhece uma jovem que o faz refletir sobre sua vida, personalidade e conceitos e preconceitos que carrega consigo. Nesse momento o protagonista começa seu caminho de redenção, de quebrar essa sua dualidade de homem-lobo por algo muito mais complexo e plural, passando a ver novo sentido na vida.

Recomendo.
Juliana 16/09/2022minha estante
Tô pensando em ler há alguns meses, coloquei no carrinho de compra on-line e olho de vez em quando. Essa resenha vai me fazer comprar agora mesmo!! Obrigada por compartilhar ?




Antonio.Araujo 30/03/2022

A obra-prima de Hermann Hesse.

Publicado dois anos antes da terrível depressão de 1929, "O Lobo das Estepes" é o romance mais famoso de Hermann Hesse, obra que dá a medida do talento desse visionário pacifista. É a obra-prima de Hermann Hesse.

O escritor alemão identificou-se plenamente com seu personagem principal, um solitário de cinquenta e poucos anos imbuído da imprecisão da alma do período entre guerras. As ideias reacionárias que estão ganhando terreno na Alemanha revanchista o preocupam profundamente e a cegueira dos seus contemporâneos.

Não está ancorado em certezas, está em perpétua busca da Verdade, com paixão e humildade.

O protagonista Harry Haller, 50 anos, servo da solidão poética de Goethe e da loucura febril de Mozart, é um intelectual tentando equilibrar-se à beira do abismo entre o eu-oco e o mundo que se abeira do fim em um futuro indefinível e cinzento.

Incapaz de se comunicar, o lobo quer a destruição daquele “que não o ouve”. Ele quer arrancar seus rostos, desfazer os laços que os prendem à instituição de uma família feliz da qual nunca se sentiu parte. E apenas entre os braços desolados de Hermínia é que esse lobo cansado julga que é capaz de encontrar algum abrigo, como qualquer cão vadio procura entre entulhos.

Há um grande número de pessoas como Harry. Muitos artistas em particular possuem o mesmo tipo de personalidade. Esses seres têm duas almas, duas essências. Profundamente influenciado pela psicanálise, a obra foi elogiada por Thomas Mann. Quem é o lobo, quem é o homem, qual é a parte materna do homem e a parte paterna, que parte em nós é a responsável pela aceitação do que é bom para nós e o que nega em nós mesmos a possibilidade da felicidade?
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Thamiris.Treigher 01/03/2023

Mais uma obra arrebatadora de Hesse
Harry Haller é um homem de meia-idade, desacreditado da vida, com pensamentos su1c1das, e que não se sente encaixado na sociedade, nem conectado com as pessoas. Ele acredita que tem duas personalidades antagônicas, e que brigam entre si, em um eterno conflito: o Homem e o Lobo da Estepe.

Em meio à sua crise, Harry 'recebe' um folheto, que se chama "Tratado sobre o Lobo da Estepe" e que, estranhamente, parece ter sido escrito exatamente para ele. É um retrato em corpo e alma inteiros dele mesmo. Uma das características de Harry, por exemplo, é criticar a burguesia, enquanto faz parte dela por meio de seus comportamentos e privilégios. Ao longo da leitura, podemos perceber também que ele apresenta traços esquizóides.

Outra parte marcante é quando Harry conhece Hermínia, que é uma espécie de "espelho de Harry", além de ser o componente feminino de Haller a partir do próprio nome (Hermann-Hermínia). Inclusive, como na maioria dos livros de Hesse, a narrativa é repleta de traços autobiográficos. Harry parece ser o alter ego do escritor.

A narrativa é densa, profunda e com uma presença forte de elementos da psicologia analítica. Li em dupla com a @carolinetreigher, o que foi muito bom, pois além de nossas trocas, ela é psicóloga justamente dessa abordagem. Ano passado, participei de um grupo promovido por ela e pelo @marcostreigher sobre Jung, e ele foi essencial para que eu compreendesse o livro.

O cerne do livro é o conflito entre os impulsos naturais e as contenções espirituais de sua contraparte. São apresentados diversos elementos de luz-sombra e consciente-inconsciente.

Com o decorrer da narrativa, percebemos que a dualidade homem-lobo é por demais simplificadora, pois dentro de cada um de nós há milhares de outros seres. A personalidade está sujeita a infinitas atitudes e labirintos. Esses eternos labirintos, inclusive, são acessados por Harry na parte final do livro, em uma experiência no Teatro Mágico. Após essa viagem ao inconsciente, é apresentada a "cura" para a situação de Harry, que eu não vou contar. Apenas leiam esse livro maravilhoso!

Hermann Hesse é um gênio, e me surpreende cada vez mais em cada leitura. Ele é, definitivamente, um dos meus escritores favoritos da vida.

"Este é um livro que não se lê inocuamente, por mera distração ou para se estar em dia com os sucessos do momento. É um livro que mexe, que altera, que subverte a estrutura psíquica do leitor e se coloca além do tempo e de suas influências por se ter transformado num clássico." - Prefácio do tradutor.

"O livro trata, sem dúvida alguma, de sofrimentos e necessidades, mas mesmo assim não é o livro de um homem em desespero, mas o de um homem que crê." - Hermann Hesse, 1961.
Michele Boroh 01/03/2023minha estante
"Ainda não li, mas vai pra lista!" ???


Thamiris.Treigher 01/03/2023minha estante
"Respeita nossa doença" ???




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