Joselene.Monteiro 05/01/2012Há vários meses havia começado a ler esse livro, mas como as primeiras páginas não me prenderam, debrucei-me sobre outras leituras. Este ano foi por demais corrido e acabei deixando de lado a meta. Como medida desesperada, deveria ler quatro livros no mês de dezembro. Iniciei a leitura de "A ilustre casa de Ramires", insisti por duas semanas, mas, enfim, o livro me pareceu intragável, por enquanto. Diante de alguns livros que comecei, sem terminar, escolhi retomar a leitura de "Retrato de uma senhora".
A narrativa leve, a princípio, foi me prendendo aos poucos, de modo que a metade final do livro foi lida em dois dias, mas passei um tempo para digeri-la. Quando terminei, pensei: "não pode ser! deve haver alguma página a mais". Tive a sensação de o livro estar incompleto (existem alguns da meta que não foram terminados e já os odeio de antemão). Depois, ao longo da digestão do livro, percebi que o fim que eu desejava seria ridiculamente pior.
À medida que se passavam os acontecimentos do livro, eu percebia que deveria ou poderia tê-los previsto. Contudo, esse livro não é uma mera sucessão de fatos. Tal como Ralph queria saber o que Isabel queria fazer com a vida e o poder que um golpe de sorte reservou para ela; também quis eu saber o que aqueles personagens iriam fazer com o livro. Decerto, esse é o tipo de livro cujos personagens transcendem suas páginas. Quando leio algo assim, me ponho inevitavelmente a pensar o que se passaria com os personagens depois da última página. Todavia, percebo depois que a história termina (quando isso acontece intencionalmente e não por algum acidente de percurso) onde deveria terminar. Ou seja, no ponto que o autor queria que ela findasse, o que também pode ser significativo, tal como um silêncio.
Como disse, o mergulho no livro é gradativo. Penso que conhecemos os personagens desse livro tal como conhecemos uma pessoa: por mais que alguém nos descreva sua aparência e atitude geral, só se pode conhecer alguém de fato à medida que os anos passam e vemos como ela age em relação a situações adversas.
Achei o livro delicioso. Boa parte dele é bastante leve até, o que não significa, de modo algum, que seja superficial. Li em algum lugar que Henry James poderia ser considerado um dos mestres quanto à complexidade psicológica de seus personagens. Devo admitir que somente na última página percebi a extensão disso.