Blog MVL - Nina 03/02/2012
Minha Vida por um Livro | www.minhavidaporumlivro.com.br | Marina Moura
“But I Love Him” é uma leitura perturbadora, que reflete a realidade de muitos jovens adolescentes em seus relacionamentos amorosos. Ao nos contar a estória de uma jovem que se apaixona por um rapaz complicado e autodestrutivo, Amanda Grace nos apresenta um universo repulsivo, sombrio e por muitas vezes, uma realidade a qual preferimos virar o rosto,e não enxergar. Imagino que a autora tenha feito seu próprio laboratório para lidar com este tema volátil e intrincado, mas de qualquer forma, e apesar do clima pesado e doloroso da obra, é impossível não observar o lirismo de sua narrativa, e o carinho com o qual ela escreve cada parágrafo.
Um relacionamento destrutivo não se forma com apenas uma pessoa, são necessários ambos os lados para que o agressor e a vítima ocupem suas posições. A autora deixa esse detalhe muito bem delineado em nos contar a forma como Ann se deixa vitimar por sentir pena do namorado. Ela se ressenti do passado de violência que ele conheceu e pensa que é a única salvação para ele. Ao se colocar no papel de mártir e salvadora ela abdica do seu próprio bem estar, de sua individualidade por um amor que nem ela mesma reconhece.
A narrativa segue uma ordem cronológica inversa, iniciando na comemoração de um ano de namoro dos protagonistas, quando Connor agride Ann ferozmente. Solitária, machucada e observando o mosaico em forma de coração que ela lhe dera de presente aos pedaços no chão, Ann conclui que já não pode mais viver daquela forma. E assim – em ordem contrária – o leitor vai descobrindo como sua vida chegou ao nível de estresse e terror no qual a estória culmina. Os pensamentos e emoções da protagonista se misturam de tal forma ao do leitor, que eu senti como se um punho firme apertasse o meu coração. É impossível não lamentar por Connor,que um dia já foi a vítima e carrega tanta agressividade e rancor dentro de si,que não consegue – simplesmente – ser feliz. O caminho da autodestruição começa quando você destrói aqueles a quem ama, um círculo vicioso que devasta tudo e todos ao redor, incluindo o próprio indivíduo.
Uma leitura capaz de nos fazer refletir e alertar jovens que estão apenas iniciando a vida amorosa e sexual, afinal, a inexperiência pode ser uma péssima auxiliadora em casos como o de Ann. Como saber se o seu relacionamento é abusivo? O seu namorado/marido precisa ser agressivo fisicamente? Não. Acredito que o X da questão em romances obsessivos e maléficos – seja na adolescência ou não –o controle. O controle que o outro detém sobre a sua vida, sobre os seus amigos e família. Aos poucos a vítima se isola de todos e de si mesma, se tornando apenas uma extensão de outra pessoa. Tudo isso é cuidadosamente abordado em “But I Love Him”.
Dor, agonia,terror e ainda assim,um relato de amor. Como, em tanto sofrimento, pode existir amor? Amanda Grace sabe como responder esta persgunta, e sobretudo,descrever o exato momento em que alguém descobre que amar a si mesma é mais importante do que tentar embarcar em um projeto de salvação. Como no caso da protagonista. “But I Love Him” é um livro que deveria ser distribuído em Escolas, ou que você deveria apresentar a sua filha,sobrinha,prima. É uma leitura que pode – quando lida pela pessoa certa, no momento certo – fazer a diferença entre se perder para sempre ou reconquistar a si mesmo.