Aline Memória 29/05/2015
Ótimo, senão pelo mocinho (um detalhe?)
Taí um livro que tinha tudo para ser bom... mas desanda totalmente!
Eu amo Esplendor da Honra da mesma autora, então esperava um livro maravilhoso. Já tinha abandonada Meu Querido Guerreiro por ter achado um livro cru demais, e comecei a leitura da primeira metade de Desejo Rebelde super empolgada: a história era interessante, bem escrita, diálogos instigantes, uma boa mocinha... mas aí do meio pro final o encanto se perde.
O motivo para isso foi o mocinho. Bradford começa sentindo algo por Caroline diferente do que ele já havia sentido, mas não é aquela velha história lenga lenga de amor-à-primeira-vista-não-sei-o-que-está-acontecendo, foi sim por ter sido ela a primeira pessoa que enfrentou a sua arrogância de igual para igual, sem abaixar a cabeça pra ele. Então, ele decide que quer tê-la, e fica obcecado em encontrá-la. Quando a encontra, passa a frequentar compromissos sociais (algo que não fazia) e não desgruda mais do lado dela. Essa parte é legal, ele tentando conquistá-la com a ajuda (?) de seu amigo Milfred (um ponto bom da história). Aí ele desanda totalmente: quer conquistar Caroline só com coisas materiais pois acha que todas as mulheres são assim, tem ataques de ciúmes possessivos, sempre pensando o pior dela, é egocêntrico e grosseiro... algumas horas ele até ameaça bater nela (e ela acha engraçado, só pode):
"- Vais explicar por que estavas na biblioteca com o St. James senão vou espancar-te até me contares."
Outra parte revoltante:
"- Compreende de uma vez por todas, Caroline, eu sou o único que permite neste casamento. Tu, não,"
E não sei se foi problema da edição, que parece que comeu uma página importante, pois achei sem nexo a parte em que ela vai pensando no que sente por ele e depois, do nada, decide-se por fazer de tudo para que dê certo, como se ele merecesse. Afinal, faz todo o sentido a declaração de amor dela:
"Acho que a afeição por ti brotou espontaneamente em mim, mas as verrugas também aparecem espontaneamente, portanto essa não é uma explicação satisfatória, é?"
E depois vem aquele papo chato dela de "não posso ficar com você se você não confia em mim"... é algo válido, mas não o livro TODO esse mimimi, dando tanta importância a ponto de eles morarem em casas separadas "só" por causa disso ficou muito cansativo. A parte em que eles estão casados é a pior. Acho que com tanta idiotice que ele fazia, ela focou na menor. E depois vem a autora com aquelas explicações de por que o coitadinho ficou assim, sem confiar nas mulheres... não me convenceu nem um pouco. Achei que a trama/mistério do final também se resolveu muito rapidamente.
Falando assim, parece que só senti abuso do livro, e não é verdade, pois ele tem sim pontos positivos. Como eu disse, a primeira metade é muito boa, os diálogos são muito bons; gostei da forma como traduziram a linguagem, com um certo formalismo da época (não gosto muito de livros contextualizados antigamente em que as pessoas são tão informais quanto hoje), acho que esse formalismo nos ajuda a transportar mais para essa época... os personagens secundários também são ótimos: Milfred, o amigo de Bradford; o pai de Caroline - aliás, achei toda essa trama familiar bem original e diferente, já que mesmo com tanto tempo separados, o pai dela nunca deixou de amá-la, achei bem bonita essa relação, e destaque para a prima de Caroline, Charity, e sua história de amor, interrompida por um acidente que deformou seu noivo, o que fez com que ele sumisse do mapa.
Ah, outro ponto interessante foi a autora ter introduzido um personagem verdadeiro, Beau Brummel, que eu pesquisei depois e descobri ser o precursor do dandismo, um estilo elegante de homens se vestirem e portarem. O cara não era rico, não tinha origens nobres, tinha apenas uma coisa: estilo, o que fazia com que ele fosse imitado por um monte de gente, tão importante a ponto de exercer grande influência nas festas, nas quais ele era o astro principal. Em suma, um Rei do Camarote antigo. Adorei esse detalhe que a autora introduziu.
Então, apesar de um mocinho que faz você ter vontade de desistir do livro, há pontos que fizeram com que a leitura, quando penso depois, tenha sido prazerosa. Só lamento realmente porque poderia ser um ótimo livro!