Liége "Astreya" 21/11/2013
Envolvente aventura!
Minha relação com esse livro é muito especial. Eu conheci o trabalho da Gisele antes mesmo de ter coragem de publicar o meu próprio livro. A Gisele escrevia em um blog de RPG que eu frequentava (e que infelizmente foi desativado) e lembro que eu fiquei fascinada com o jeito como ela divulgava os livros dela. Além disso, achei muito legal o fato de que ela mesma ilustrava as capas e o interior das suas obras. Posso dizer que a Gisele me motivou a fazer algo parecido, e foi uma das pessoas que levou a ter coragem de publicar meus escritos. Não sei se ela sabe disso, mas, bem, agora estou falando :D .Talvez seja por esse fator um pouco “emocional” que eu demorei tanto para conseguir resenhar o livro. Mas, chega de conversa fiada sobre mim mesma, e vamos à história?
Amberblades e o Coração de Lua se passa no mundo ficcional de Kathros, criado pela Gisele. Nesse sentido, ele é um livro de alta-fantasia (olha o que eu aprendi com a Melissa, olha!), pois existe toda uma ambientação e um mundo novos onde a história se passa. Devo dizer que existe também um panteão de divindades engendrado pela autora. Isso é importante porque em Kathros os deuses realmente tem um papel importante e ativo no mundo, chegando a interferir nos acontecimentos, o que me lembrou a mitologia grega (entre outras), de uma forma bem sutil.
O Coração de Lua é o primeiro livro de uma série de três, e nele conhecemos a triste história do deus Sol e da deusa Lua, que se amam mas são obrigados a viverem separados, só se encontrando nos raros momentos de eclipse. A personagem principal, Lena Amberblade, é uma elfa que vive no reino de Woodysiel, um refúgio élfico em meio à floresta. Ela é praticamente uma princesa, pois é filha da líder de seu povo, Astalirande. Pois bem, Lena um dia descobre que Astalirande e Jidea – o guardião de sua mãe – vivem uma história de amor bem parecida com a do Sol e da Lua. Os dois estão separados por suas condições sociais e também por causa de um problema grave que Jidea vive, uma maldição. Tudo isso toca Lena profundamente e ela, a partir daí, decide que precisa sair de Woodysiel para ajudar sua mãe e seu amado. Para isso, terá a companhia de dois amigos: Analiele, a elfa que viveu algum tempo junto ao povo oriental de Kathros e prefere ser chamada de Yomiko, e Joh, um personagem recluso e misterioso que parece preferir o silêncio e os livros. O destino dos amigos é a Biblioteca dos Povos, uma torre onde estão guardados os segredos e os maiores conhecimentos de toda Kathros (posso falar que adoro o fato de que a Deusa do conhecimento é uma professora XD?). No meio dessa jornada, Lena acaba encontrando o mago humano Zak, que se une a eles por motivos pessoas, e a partir de então eles descobrem que o mesmo artefato que pode ajudar Jidea e Astalirande – o Coração de Lua que dá nome ao livro – é aquele que está sendo usado para causar um grande mal ao mundo.
O enredo basicamente é esse: temos a busca de um grupo de amigos em um mundo perigoso e cheio de incertezas, e isso tem tudo a ver com o RPG. É aqui que percebemos a influência do jogo com maior intensidade, e isso me agradou muito. Por experiência própria, que tem até mesmo a ver com o meu livro, sei que tem gente que não curte muito esse esquema, mas eu particularmente prefiro acompanhar a jornada de um grupo do que a jornada de um único personagem e seus coadjuvantes (por mais importantes que sejam) que aparecem aqui e ali. Embora Lena seja a personagem principal, a Gisele consegue muito bem criar um grupo com personalidades distintas, e balanceia legal as interações entre eles. Deixo aqui registrado que Joh é meu personagem favorito, e achei o que a Gisele fez com ele na trilogia incrível. Ele não é um personagem criado para ser o “cara misterioso galã” que muitas vezes aparece na ficção por aí, sem profundidade ou história. Existem coisas a serem descobertas, e isso é bem instigante. (Adendo: eu também gostei muito dos vampiros que aparecem em Kathros, que são bem diferentes mas não perdem suas características clássicas e seu jeito ameaçador).
Além disso, o livro tem de tudo: romance, ação, combates, golpes marciais com nomes que me lembram muito as animações japonesas… surge até mesmo um pouco de tecnologia, que se mescla muito bem à magia. A Gisele não teve medo de misturar as coisas e eu a respeito muito por isso. Não tenho lá muita coragem e, em alguns casos, nem gosto de sair muito do lugar comum em questão de ambientação, mas a Gisele faz isso, usando também referências de mangás e animes. Inclusive há um reino com forte influência oriental no mundo de Kathros. O que eu acho legal nisso é que o mundo dela possui um leque abrangente de estilos, e eu imagino que seja capaz de agradar a diversos perfis de leitores. Isso porque Kathros não vira uma salada confusa, é um mundo palpável, mesmo com a mistura de referências.
A história é simples, mas eu adoro simplicidade e O Coração de Lua foi uma leitura muito gostosa para mim. A personagem principal demonstra inseguranças e dúvidas e, embora possa incomodar quem prefira uma protagonista mais forte (olha, sinceramente, hoje em dia eu acho que as pessoas tem um conceito muito errado de “força”), Lena é palpável e coerente com a sua idade e sua situação. Ela é uma princesa que viveu protegida a vida inteira, mas que tem muita boa vontade e amor por seus familiares – e é isso que a impulsiona, não teimosia ou vontade de se provar. Surge no livro um triângulo amoroso, mas calma… a Gisele não é muito de enrolar não (a narrativa é rápida, bem dinâmica). A resolução dos conflitos não se arrasta por páginas e páginas e desde o começo desconfiamos que o coração da jovem Lena já decidiu quem ela quer.
O Coração de Lua é o primeiro livro da Gisele e o primeiro da série Amberblades, que, aliás, acompanha diferentes gerações dessa família, em narrativas independentes mas também conectadas (Adorei isso!). Como todo primeiro livro, O Coração de Lua tem sim coisas que poderiam ser mais enriquecidas (eu queria saber mais sobre certos personagens, por exemplo, principalmente sobre a Yomiko e uma pessoa especial que aparece na vida dela…), e uma escrita que está se firmando em alguns pontos, mas a narrativa é bem fluida e não cansa. Em alguns momentos, eu desejei que a história tivesse desacelerado um pouco, exatamente para saber mais sobre algumas coisas. Mas Amberblades não é o tipo de livro que é tão corrido que se torna incoerente, não, não. Tanto que segue sendo o meu favorito dos três, pela história singela e querida que me conquistou.
Para quem não curte muito essa influência do RPG (onde cada personagem terá um certo “papel” dentro do grupo) , mangá e não gosta de romance, eu não recomendaria, mas se você gosta de histórias leves com tudo isso, aproveite e conheça o trabalho da Gisele logo!! Vale a pena, mesmo porque a série já está toda publicada. A Gisele, pelo que eu sei, tem planos de publicar o ebook na Amazon e também disponibiliza as obras dela no Clube de Autores. A diagramação dela é muito caprichada, dando baile em muita editora por aí, e as capas dos livros também são muito bonitas. Há ilustrações internas nos livros, tudo feito por ela. Além disso, a Gisele tem um blog muito bacana onde ela posta mais informações sobre a série e sobre outros trabalhos dela. Conheçam! Corram, corram, corram para Kathros!!
Resenha originalmente publicada no blog Livros de Fantasia (www.livrosdefantasia.com.br).
site: http://amberbladesbibliotecadospovos.blogspot.com.br/