Marcel.Trocado 15/11/2022
O arco de aventuras do menino que amava sua porquinha
Logo no princípio da história percebe-se que Zezinho não é de fato o dono da porquinha, batizada de Maninha e criada com muito carinho pelo menino desde quando era uma "leitoinha", ela está sujeita às decisões do pai do garoto.
Zezinho, assim como o autor do livro, Jair Vitória, tem sua infância ligada intimamente com a vida na zona rural, sendo assim, a leitura tem um ar de nostalgia por quem escreve, assim como Zezinho Jair também, possivelmente, brincou em terreiros com outras crianças, caçou passarinhos com estilingue e passou pelo risco de levar uma sova do pai quando aprontava alguma desaprovação. A história é narrada em terceira pessoa, repleta de pensamentos do protagonista, descrevendo possivelmente algumas das lembranças de quando o autor era um menino.
O protagonista, que é um dos seis filhos de "Seo" Odilo e Dona Leonor, irá lutar de todas as formas para manter a Maninha sob seus cuidados. Seu pai em mais de uma oportunidade tem a chance de vender a porquinha, porém Zezinho, com muita paciência e perspicácia, está sempre a um passo a frente, promovendo o cancelamento da venda da Maninha. Algumas passagens do título são bem duras com o protagonista, seu pai é rude com os todos os filhos, sobretudo com o Zezinho, pois esse, na sua tentativa de ficar com a porquinha, deixa de realizar certas obrigações para alcançar seu objetivo.
Mas não só a duras penas a história é contada, há passagens cômicas como o leva e trás de ofensas entre colegas da escola (p. 64-65):
"- Cadê o Zezinho, Orlando (irmão de Zezinho)?
- Sei lá. Aqui no meu bolso é que ele não tá.
- O pessoal tá falando por aí que ele fugiu de medo do Valtério.
- E ele precisa ter medo dum frango molhado daquele?
Um dos meninos que estava perto gritou:
- O Orlando falou que o Valtério é um frango molhado.
- Frango molhado é ele que é um porco sujo de barro - Valtério falou [...].
- Ah, o Valtério falou que o Orlando é um porco sujo de barro. Escutou só, Orlando?
- Porco sujo de barro é ele que carrega veneno de chupão no corpo.
- Você virou chupança, Valtério? - O Orlando que falou.
- Ele que é um cachorro bernento e rabugento.
- Falou que você é um cachorro bernento e rabugento, Orlando.
- Ele é que vem no cachorro pra ver se o cachorro não estraçalha a cara dele.
- Escutou só, Valtério? O cachorro vai te morder."
Além de algumas passagens engraçadas, notavelmente, destaca-se o estilo das ilustrações do livro que destoam bastante do restante dos títulos da série Vaga-lume, mas não por isso deixam de ser um ponto positivo, pois são ilustrações a lápis com traços suaves, meio apagados, que resultam em desenhos sempre realistas. Boa parte de coleção é finalizada em desenhos em nanquim, com linhas bem definidas igualmente interessantes às presentes nesse título.
Assim, texto e imagens narram a vivência de um menino, na sua inocência, que vai amadurecendo em meio aos seus pensamentos e pequenas vitórias. A porquinha constantemente está em um destino de desesperança, o protagonista nos cativa pela sua determinação, além de sua coragem sempre renovada na defesa de seu bem maior. Portanto, trata-se de um percurso que não há muita fantasia e sim lições trazidas pelo amor de um menino ao seu querido animal de estimação.