jota 07/03/2014Entrando numa friaDo mesmo autor do ótimo Garotos Incríveis essa ficção especulativa tem certo parentesco com Complô Contra a América, de Philip Roth. Numa comparação pouco profunda, no entanto, vê-se que Roth soube melhor contar sua história do que Michael Chabon.
Enquanto o livro de Roth é interessante o tempo todo, o de Chabon é quase sempre um convite para que o leitor comum o abandone. Das mais de quatrocentas páginas, apenas em cerca de uma centena a leitura flui bem, é prazerosa. É quando o livro é menos “criativo” e mais narrativo, como, por exemplo, na história de Mendel (o assassinado) e suas curas e bênçãos.
Não que faltem qualidades ao livro, óbvio: o autor oferece doses generosas de jogos de palavras, humor cáustico, diálogos curtos e crispados e até mesmo faz pintar aqui e e ali um clima de policial noir, etc.
Chabon é muito imaginativo também: cria um estado judaico muito diferente do que conhecemos, situado não no Oriente Médio, mas no Alasca. E onde o céu é cinzento, neva o tempo todo, as ruas são sujas e habitadas por gangues e drogados, uma máfia judaica intimida e ameaça policiais e a trama envolve até mesmo “a crença no advento do messias e um possível plano para retomar à força a Terra Santa.”
Só que essas coisas todas vêm espalhadas pela história, já que aqui a história em si não é tão importante assim. Chabon nem de longe se preocupou em contar um caso policial clássico ou vibrante; os personagens – todos anti-heróis - é que se destacam e não o crime que um deles cometeu. Nas páginas finais a revelação do criminoso e de como ele cometeu o crime parece mais um relatório enfadonho de um policial do que outra coisa.
Então o livro de Michael Chabon é, como diz a sinopse, “uma homenagem renovada ao romance policial hard-boiled dos anos 1930 e 1940, que inspirou tantos filmes do gênero noir.”, caso de O Falcão Maltês, de Dashiell Hammett, livro e filme bastante conhecidos. Portanto, se for ler Associação Judaica de Polícia, preste atenção em todas as coisas ditas sobre o livro e não espere lá muita ação, emoção ou suspense. Que isso tem muito pouco mesmo. Quase nada.
Lido entre 26/02 e 06/03/2014.