Tuca 26/12/2022Charlotte Brontë é mais conhecida por sua obra-prima “Jane Eyre”. Ao contrário do que muitos pensam aqui no Brasil, ela não foi uma mulher de um livro só. Charlotte publicou também Villete, Shirley, O professor, além dos seus trabalhos de juvenília. “Shirley”, o romance do qual vou falar, é uma narrativa tão boa quanto “Jane Eyre”, apesar de não ter sido recepcionada da mesma forma pelo público à época, e que traz mais liames políticos e uma maior variedade de personagens, além de mocinhos mais suaves do que Rochester.
“Shirley” é uma história de amor e acima de tudo de amizade. Caroline Hesltone e Shirley Keeldar seriam duas amigas improváveis. Shirley uma herdeira orfã que se porta perante a sociedade como um homem. Ela gerencia seus próprios negócios com seu sócio Robert Moore, ela se impõe diante das tentativas do tio de casá-la com um homem rico, ela decide com o que gastar seu dinheiro, quais caridades ajudar, e ela coloca sobre suas asas a sobrinha do clérigo Helstone, senhorita Caroline Helstone, seu quase exato oposto. O que Shirley tinha de razão, Caroline era pura emoção, porém com um grande entendimento do funcionamento da sociedade. Uma jovenzinha completamente apaixonada pelo primo Robert Moore, homem cujo único amor parecia ser sua fábrica.
Na representação dessa mulher forte e determinada, mas também apaixonada e amorosa em sua própria medida em Shirley, Charlotte faz um tributo à sua irmã, Emily, que havia falecido no período de escritura do romance (assim como morrem também nessa época seu irmão Branwell, e depois sua irmã Anne). E dizem que a doce Caroline seria baseada na própria autora.
Em meio à revolução industrial e às guerras napoleônicas, a Inglaterra está uma frenesi. Essas duas mulheres e seus respectivos terão que não apenas lidar com os próprios sentimentos, mas com as dificuldades práticas da sobrevivência de um matrimônio, e os questionamentos sociais das diferenças de classes. A discussão acerca do progressismo e da modernidade social embebida no conservadorismo dos costumes e da opressão feminina. Eu que pensei que iria encarar mais um mocinho meio dúbio depois de Rochester em “Jane Eyre”, ainda mais pelo início de Robert Moore, me surpreendi com dois homens dignos e apaixonantes, e com a amizade encantadora dessas duas mulheres que realmente pareciam irmãs.
“Shirley” é um romance que foi escrito na dureza do luto, mas que se aproxima de um refúgio de um mundo que mesmo cruel pode ter seus finais felizes. Ele ainda traz suas semelhanças com o universo industrial de “Norte e Sul” da amiga e também biógrafa de Charlotte, Elizabeth Gaskell, não somente no contexto, mas em um paralelo entre Thorton e Moore.
site:
IG: https://www.instagram.com/tracinhadelivros/