Alexandre 31/10/2014
A escalada de si mesmo
Esta é a narrativa da conquista da maior montanha do mundo, o Everest com 8848m de altura, pelo alpinista brasileiro Waldemar Niclevics.
Estudioso, dedicado e um alpinista já bastante experimentado, Waldemar havia feito uma primeira tentativa de escalar a montanha da sua vida em 1991, mas fracassou e daí para frente só conseguiu pensar nisso. Passei então a viver em função do Everest. Gastei todas as minhas economias e me endividei. Perdi um grande amor e me senti sozinho, tão sozinho como se estivesse perdido num deserto gelado.
Em 1995 finalmente se deu a nova oportunidade. Integrando uma equipe multinacional com 13 pessoas de mais de sete países Waldemar parte para o Nepal e inicia sua história.
Demonstrando um profundo respeito e conhecimento pela cultura nepalesa, bem como identificação pelo budismo e pelo hinduísmo, Niclevics da uma realidade mística à viagem de sua vida com um texto imensamente detalhista e, no entanto, simples.
Ao escutar quais as condições de sua equipe em Kathmandu, onde iniciarão as viagens pelo Himalaia que visam a adaptação dos alpinistas ao clima e a atmosfera, surgem as primeiras preocupações de Niclevics. A estrutura é mínima e o sucesso só depende de você, repetia para si mesmo ao pensar nos poucos recursos de que dispunham.
Durante a aclimatação (a adaptação do organismo à baixa oxigenação das grandes altitudes) Waldemar conhece e se entrosa com os outros do seu grupo, mas mantém certa individualidade, esforçando-se sempre para se manter independente, não querendo contar com ajuda para o sucesso. Muitos do grupo contam com os dois mais fortes, um russo e um polonês, para irem na frente e abrirem caminho, mas não Waldemar. Este conta sempre consigo mesmo, ou ao menos se esforça para isso.
E sua força de vontade realmente aflora quando partem para a definitiva escalada do Everest, também chamado de Sargamatha e Chomolungma, como conta Niclevics. Sempre buscando dentro de si novas forças, Waldemar parece lutar não contra a montanha, mas contra seu próprio eu, encontrando suas respostas nas paredes de gelo e nas escarpas afiadas, empreendendo uma verdadeira escalada de si mesmo.
Confio acima de tudo em mim mesmo (...) Pode ser difícil superar o vento o frio e a falta de oxigênio, mas é muito mais difícil superar-se a si mesmo. Num romance recheado de lendas do Tibet e do Nepal, Waldemar nos leva a refletir em busca de nossa própria autodeterminação. Um belo livro, com belas paisagens e lições de filosofia oriental.