Carol 17/07/2022Impressões da CarolLivro: O outono da Idade Média {1919}
Autor: Johan Huizinga {Holanda, 1872-1945}
Tradução: Francis Petra Jansen
Editora: Cosac Naify
656p.
Há seis anos a jovem quatrocentista de Petrus Christus me julgava: Vossa Graça lerá "O outono da Idade Média" ou irá usá-lo como enfeite de estante? Aceitei o convite da @lilieolivro para, juntas, galgarmos esse monumento literário.
Não sei se pela edição da Cosac conter tantas ilustrações ou pelo marketing, eu acreditava que 'O Outono' fosse um estudo de pinturas medievas de artistas franceses e dos Países Baixos. Mas não. É um livro muito mais amplo em termos culturais.
Que tipo de ideia podemos formar de uma época, se não olharmos para as pessoas que a viveram? - parece nos questionar Huizinga - e, assim, nos apresentar figuras como o cronista da corte, Georges Chastellain, Carlos, o Temerário, o pregador de multidões, Olivier Maillard, o místico Dionísio Cartuxo, o orgulhoso Filipe, o Bom, a poetisa Christine de Pizan, entre outros.
A partir da paixão dessas pessoas, da condição espiritual de uma época, ele percorre temas como o declínio, a importância do simbolismo na arte, o pensamento medievo tardio, a preocupação com a morte, a literatura, o sonho do amor e do heroísmo, os códigos de honra e a religião. E apresenta sua tese fundamental - a que cravou o nome de Huizinga no Hall da Fama historiográfica - a íntima imbricação entre o Medievo e o Renascimento: não há rupturas profundas na história, apenas continuidades.
Como todo estudo, existem fragilidades no 'Outono', é preciso lê-lo numa perspectiva atual. Huizinga trata da época como um só bloco e ignora variações regionais e sociais. Há passagens em que o tom do texto torna-se condescendente, puramente pela visão pessoal do autor, como quando ele afirma que a pintura medieval é superior à literatura e prossegue sem justificar tal apontamento. Outro ponto negativo é o tanto que Huizinga se repete ao longo do 'Outono', a falta de um editor cobra um preço.
O veredito de uma leitora curiosa, fora da área de História ou das Artes, é que ler "O outono da Idade Média" dá trabalho, mas é muito recompensador.