Claire Scorzi 09/01/2011
Bebês, traições, sofrimentos... E Amor - II
Alguns erros 'técnicos', digamos.
No começo do romance, Roger é levado a dizer algumas palavras num enterro e recita versículos bíblicos do livro de Jó, capítulo 19 ("...Porque eu sei que o meu redentor vive..."); porém a autora diz que se trata de um salmo. Em outra passagem, Claire está fazendo listagens e diz que seu texto escrito está parecendo Deuterônômio - quando, pelo contexto, é mais provável que a comparação correta fosse o livro de Números.
O tomo II apresenta alguns momentos cansativos - os dois capítulos da viagem de Brianna com Ian pecam pelo extensão e o detalhismo; cansam; se menores, seriam melhores. Certas repetições de circunstâncias dramáticas, como sequestros, separações entre casais - recursos que Diana Gabaldon já explorou em volumes anteriores da serie - acabam não caindo bem porque se tratarem disso: repetições.
Contudo... se parte das peripécias deixa a desejar, o estilo com que Gabaldon as conta não o faz: exímia escritora, há no livro abundantes passagens tão bem narradas que sequências, diálogos, frases belíssimas tornam-se marcantes.
Continuo não sendo fã de Brianna, mas, outra vez, como ocorre em "Os tambores de outono", uma de suas melhores cenas é seu novo "duo" com Lord John Grey (tristemente ausente em "A cruz de fogo", ele reaparece aqui, em alguns capítulos da parte II); outra cena esplêndida é o reencontro de Grey com Jamie, capítulo notável pelo que mostra de contenção e sutileza; o defeito da cena é ser curta.
Ainda a dizer: é o volume dos bebês e das mulheres grávidas. Lizzie (gravidez tragicômica, para dizer o mínimo), Amy McCallum, a prisioneira escrava que tem seu bebê na cadeia com o auxílio de Claire, além de duas outras personagens - uma que é assassinada grávida (E Claire não consegue salvar o bebê, para tristeza sua) e outra cuja bebezinha revela ter problemas de coração que a medicina do século XVIII não pode resolver; e nem mesmo Claire.
É lugar comum dizer, mas é preciso: o trunfo de "Um sopro de neve e cinzas" concentra-se em Claire e Jamie, as maiores criações de Gabaldon. O amor deles atravessa duras provas em praticamente todos os livros da série, e sai triunfante; o carisma dos dois, em especial quando juntos, o compromisso amoroso que os une revela-se tão forte, tão poderoso e tão vivo como sempre. E, como sempre, impressionante. Sem qualquer favor, a maioria (não todos) dos grandes momentos de "Um sopro..." concentra-se no casal. Suas cenas juntos, entre paixão, amor, brigas, humor, erotismo, compreensão mútua, são responsáveis por uns 90% da beleza e do prazer em ler o romance.