O Povo da Névoa

O Povo da Névoa Henry Rider Haggard




Resenhas - O Povo da Névoa


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Marcia Saito 15/12/2013

Aventuras no passado
O Povo da Névoa (título original "The People of the Mist", publicado em 1894)ThePeopleOfTheMist

Por H.R. Haggard

Sem dinheiro e obrigado a se desfazer dos bens materiais, Leonard Outram e seu irmão Thomas fazem um pacto para enriquecerem, com intuito de recuperarem os bens recém-perdidos e o orgulho da família. Lançam-se em uma viagem à misteriosa África, em busca de tesouros que pudessem cumprir a promessa feita entre eles. Após sete anos, o sofrido Leonard se vê em uma nova empreitada. A escrava Soa convence Leonard com uma pedra preciosa a resgatar a jovem portuguesa Juanna Rodd, levada por mercadores de escravos. Mal sabe o ex-lord inglês, juntamente com seu fiel servo anão Otter, que sua nova empreitada levaria-o a uma caçada a tesouros ligado a um misterioso povo chamado "O Povo da Névoa" e que se entreporia em uma disputa de poder ligado a um deus-crocodilo.
Como toda história de caça ao tesouro, há vários momentos emocionantes de ação, onde os personagens vivem grandes tensões e a um fio do perigo.
A ambientação vai além da descrição de cenas, agregando fatos históricos coerentes ao local (escravidão e comércio de escravos e o empenho do império inglês de coibir o comércio escravagista). É o tipo de informação que acrescenta um nível a mais nesse tipo de narrativa. A descrição do ambiente é bem feita devido à vivência real do autor, que viajou e conviveu por lugares vividos por seus personagens. Ele soube descrever com muita fidelidade pois já esteve nesses lugares ou em lugares parecidos.

Arte interna livro1

Narrativa autêntica por experiência real e pessoal do autor. Com isso acrescenta conteúdo e detalhes que somente aqueles que viveram esse tipo de momento/experiência poderia captar, mesmo nas horas mortas. Horas mortas são significativas pois nelas a vigília é o momento de reflexão que voltamos pra nós mesmos e escutamos o interno.

Uma análise mais aprofundada pode-se constatar (o óbvio) o conflito de valores morais típicos da época vitoriana, onde a perda de dinheiro significava a ruina de família com nomes tradicionais.
Outro detalhe é a explanação do personagem considerado herói, Leonard. A motivação dele é gerada por um propósito ligado não necessariamente por dinheiro, mas que qualquer ajude a recuperar a honra da família. A cada ciclo vivido é renovado por um novo. É o rotor de impulso do personagem.
A cada paga de uma nova missão nunca é suficiente. O novo propósito é o prêmio que o personagem aceita. O valor material nunca é suficiente pois nunca chegará ao valor proporcional da motivação que o transformará. A evolução do personagem faz abandonar valores que só faziam sentido à sociedade que o rejeitou. O seu verdadeiro ser retorna à essência do que é ser um desbravador, inerente à sua família por gerações, esquecido sob as camadas de valores sociais que só tinha importância à sociedade vitoriana.
Com a transformação, adquiriu-se habilidades e a capacidade de adaptação social, ao ambiente selvagem e perigoso. Com isso, adquire-se a tolerância aos que foram também menosprezados como ele. Esse que foram Arte interna livro2menosprezados possuem valores que a simples aparência escondia.
A moral do herói se adapta a ponto de concordar com a morte do inimigo da forma mais dolorosa. Para os personagens que não possuem a moral talhada pela religião do homem ocidental, exerce uma justiça que chocaria a qualquer cristão ou protestante mais pueril.
O personagem herói e mocinha é explorado com multifacetas que não se encontra mais hoje em dia. O herói demonstra caraterísticas pouco usuais, como medo, ambição e outros. Características que foram planificadas e plastificadas para serem rigidamente definidos em seus papéis. Até mesmo a mocinha, havia momentos em que não dava para acreditar um mulher como ela agir de forma altiva, e que dava vontade de dar uns tabefes!
Coerente com a rudez do personagem, a confusão com relação ao amor. O mocinho não entende a mocinha, criando a tensão romântica que prende até o fim.
Há momentos de tensão sufocantes que quase me fez desistir, tamanha angústia que exprimia em certas partes.
Mas como toda aventura, valeu toda a narrativa e o conviver dos dramas.
É um livro que me fez respeitar mais os autores ingleses clássicos, mesmo que seja pouco conhecido aqui no Brasil.
Pois afinal de contas, pela enxurrada de novos livros, categorias e autores, como sobreviver uma história como essa no meio dessa torrente?
Pela menos da minha parte salvo-o da enxurrada e guardo-o com carinho em meu rol de autores favoritos.

Sobre o autor:H.R. Haggard

Escritor britânico, Sir Henry Rider Haggard foi o oitavo filho de William Meybohm Rider Haggard e Ella Doveton, Nascido a 22 de junho de 1856, Bradenham, Reino Unido, foi um dos autores mais prolíficos de sua época, com obras que enfatizavam histórias do tipo "aventura e caça ao tesouro" com viagens a lugares misteriosos e exóticos. Por sua vivência, sendo um funcionário da Coroa Britânica, viajava por lugares que eram ligadas ao Império Britânico. Era engajado na reforma agrícola por lugares que trabalhou.

Suas obras incluem As Minas do Rei Salomão, Ela, a Feiticeira, dentre outros.

site: www.torrenteliteraria.wordpress.com
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