Galileia

Galileia Ronaldo Correia de Brito




Resenhas - Galiléia


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Astier 11/02/2009

um sertão com Radiohead
Ok, literatura sobre o sertão, o que é que vem à mente? Galhos secos, xiquexiques, macambiras, vaqueiros encourados, arcaísmos, algo como uma Feira de Caruaru, com bonecos de Vitalino, cantadores desdentados com violas com fitas?
Ronaldo Correia de Brito, que escreve como quem filma, joga sua grande angular em outras paisagens. Ele passa a sua bic nos lugares comuns do sertão. "Galiléia" é um movimento de revisita. Os três primos vão para o aniversário do avô Raimundo Caetano, só que o velho está mais pra lá do que pra lá - a imagem pode ser batida, mas o patriarca apodrecendo, num morre-mais-não-morre, é metáfora para aquele sertãozão.
Os personagens dos primos parecem encaixados numa espécie de programa de cotas. Tem o loiro David, musico descoladinho que diz que tocou em um pub em Nova Iorque; o médico burguesinho, Adonias, narrador do romance; e o índio e malucão Ismael, com passagem pela Noruega.
O que é bacana? A cena em que Adonias, após um assassinato, refugia-se no quarto em que um tio se escondeu após matar a mulher. A sina dos personagens, da estória, é revisitar, é refazer, é repetir e, como dizia o bigodudo de "O Nascimento da Tragédia", a história se repete como farsa. O fantasma do tio assassino propõe um pacto com Adonias numa das cenas - sim, há um lance cinematográfico muito foda e uma citação muito evidente ao "Fanny & Alessander", do Bergman - que dão um vigor à estrutura da trama.
Veneno. Prestem atenção no tio Salomão. É um personagem inspirado no escritor Ariano Suassuna e Ronaldo não alivia.
Num dos momentos da viagem, com os campos com plantios de maconha em vez de cana-de-açúcar, a trilha não poderia ser Antônio Nóbrega, como não foi, mas sim, "Paranoid Android".
Lector69 11/02/2009minha estante
Muito boa a resenha, sobretudo porque instiga imediata vontade de ler a obra. Manda brasa.


Lima Neto 21/09/2009minha estante
belíssima resenha. parabén.s, deixa, realmente, o leitor desejoso de conhecer o livro "Galileia"




Vilamarc 21/10/2021

Abrindo a enferrujada arca da família
Já disse Tolstoi: As famílias infelizes são infelizes cada uma a sua maneira.
Primeira leitura de Ronaldo Correia Brito, sempre muito elogiado, e fico profundamente satisfeito de ser Galileia, um misto pulsante de tragédias familiares gregas ou de quaisquer lugares, e de histórias bíblicas, muito presente nos nomes dos personagens e situações criadas, remetendo as tragédias rurais do imenso Nordeste.
Que família não tem seus causos quase míticos?
Aqui 3 primos regressam a fazenda Galileia em Arneiroz, Sertão dos Inhamuns, região super seca e pouco povoada do Ceará, mas cheia de tradições populares. O objetivo, o aniversário ou velório do patriarca Raimundo Caetano, o único da família sem nome bíblico.
Já na viagem saindo de Recife, as tensões familiares começam a ser relembradas e o regresso a fazenda, traz consigo, muitos segredos e revelações que evidenciam os destinos que levamos inconscientes pela vida toda.
Leitura muito fluída e, para mim, cheio de boas recordações de uma infância bucólica vivida nesses interiores rústicos, de açudes, cercas e veredas, riachos secos, casas de alpendre, vaquejadas, fogão a lenha, banhos de chuva, frutas no pé... e muitas histórias contadas ao cair da noitinha.

Um livro especial e repleto de poéticas do sertão nordestino.
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Vitor Y. 10/06/2021

Marcante
Conflito na família é um tema que sempre me fascina. E o Ronaldo fez excelentemente bem nessa obra. Mentiras, segredos, mágoas, inveja, estupro...

O fato da estória se passar no sertão é interessante pelos elementos físicos do local. Mas não se trata de uma obra regionalista (inclusive há um trecho com uma provocação bacana sobre o tema "Regionalismo" - p. 163/164).

Adorei como o Ronaldo respeita o leitor e deixa sutilmente as coisas na obra. Como o momento que Davi simplesmente sumiu com um garoto do bar que havia feito amizade...não está dito o que de fato aconteceu, mas os elementos estão sutilmente lá (p 40). O próprio desfecho do livro mostrou bem as "minhas suspeitas" faziam sentido.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 17/05/2010

Ronaldo Correia de Brito - Galiléia
Editora Objetiva - Selo Alfaguara - 236 páginas - Publicação 2008

Neste romance, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2009, Ronaldo Correia de Brito conseguiu reunir em sua narrativa algumas histórias que se cruzam para evidenciar os contrastes entre a vida no mundo contemporâneo e as tragédias de uma família tradicional. Os primos Ismael, Davi e Adonias retornam, após muitos anos, para a fazenda de Galiléia no sertão cearense com a finalidade de se despedirem do avô Raimundo Caetano que apodrece em seu leito de morte.

Ismael, filho ilegítimo, vem da Noruega onde estava preso por agressão à mulher. Davi viajou pela Europa e Estados Unidos como pianista e é considerado o gênio da família. Adonias, o narrador do romance, mora no Recife e estudou medicina na Inglaterra. Adonias é quem melhor define o sentimento de todos nesta viagem de retorno, quando cruzam de carro o sertão cearense: "O calor me enfada. Ele vem das pedras que afloram por todos os lados, como planta rasteira. Nada lembra mais o silêncio do que a pedra, matéria-prima do sertão que percorremos em alta velocidade".

Os personagens interagem em um certo clima de realismo fantástico que permite diálogos entre os mortos e os vivos, tudo para contar as histórias de tragédia e violência da família. Histórias que incluem assassinatos, estupro e discriminação. O autor não teme o rótulo de regionalista como afirma nesta declaração: “O meu sertão é a paisagem através da qual eu interpreto o mundo, o de hoje, o globalizado, o que rompeu com as tradições. Interessa-me a decadência, a dissolução. Meus personagens migram, sofrem o embate com as outras culturas. Sei que tenho sido vítima de preconceitos pela escolha dessa paisagem". Portanto, ninguém deve estranhar, quando "Paranoid Android" do Radiohead for citado logo no primeiro capítulo, neste momento percebi logo que estava diante de um romance diferente.

Ronaldo Correia de Brito escreveu os livros de contos As Noites e os Dias (1997), editado pela Bagaço, Faca (2003), Livro dos Homens (2005), e a novela infanto-juvenil O Pavão Misterioso (2004), todos publicados pela Cosac Naify.
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Lima Neto 10/10/2009

Obra marcante, das mais belas e significativas da literatura brasileira deste ano, "Galiléia" é muito mais do que uma história de retorno ao passado, às suas origens, ao berço de uma família. Muito bem construída e arquitetada, com personagens marcantes, o autor conseguiu dar um desfecho completo, sem, contudo, liberar para o leitor as respostas para todas as perguntas relativas ao passado dos personagens, aos seus dramas e motivações (e esse recurso, de deixar o leitor livre, foi colocado com uma maestria impressionante).
Mistérios do passado são apresentados (e desvendados) ao leitor, relações do homem com a sua terra, com as suas raízes, são exploradas, dando, à trama, um ar de "saudável saudade".
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Thiago Corrêa 09/04/2010

As vísceras do Sertão mítico
Um livro sobre o Sertão. Galiléia, romance de Ronaldo Correia de Brito, é um ensaio ficcional sobre essa região que se instalou com tons míticos em nosso imaginário. Nele, o autor usa como pretexto a viagem de três homens (Adonias, Ismael e Davi) ao Sertão dos Inhamuns, no Ceará, para desconstruir essa imagem de um lugar isolado do mundo, preso a um tempo onde os homens adquiriam a aparência rústica da luta pela sobrevivência diária, sob a sombra da vocação para a tragédia.

Autor da peça Baile do Menino Deus e dos livros de contos Faca e Livro dos Homens, Brito estréia no romance, desfrutando a vastidão espacial do gênero como se estivesse vagando no vazio do Sertão. Uma transição textual que se revela num trabalho meticuloso, de construção em cima de longos diálogos, no emaranhado de tramas e em experimentações na linguagem, como o recurso visual de simular a desatenção de Adonias com espaços em branco isolando palavras e em cortes não-lineares.

leia mais no http://www.vacatussa.com/2009/03/galileia-ronaldo-correia-de-brito/
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José Vitorino 28/09/2019

Se, por um lado, o ritmo está na combinação entre orações econômicas, febris, que findam bruscamente mal rebentam, com a narração em primeira pessoa, que confere certo relato fantasmagórico ao texto, por outro, a substância narrativa estrangula a consciência cosmopolita frente ao argumento campestre, violento e ensolarado.

Gosto desse tipo de proposta, que encara o regionalismo cutâneo com algum desdém, que aponta o dedo para a condição humana, sem se afastar do meio; a propósito de que mais somos feitos, senão do que nos rodeia?
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mardelivross 09/06/2022

Um livro sobre o sertão, sobre jovens que deixaram a vida no interior ainda muito cedo e dela só carregam lembranças. Carregado de conflitos e traumas familiares, achei bem forte.
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