Annie 12/10/2011O Despertar, por Ana Nonato.Espaço
Toda a área que abrange os dragões, em especial a casa de Dryfr e os reinos de Nova Roma, Nova Esparta, Ûnya e Califados Árabes Reunidos.
• Caracterização: É muito descritivo, aos moldes de um vídeo-game, RPG. Não cansa (exceto em raros momentos). Mesmo narrada em 1ª pessoa, a descrição dos espaços é um predominantemente fria, semelhante ao modo como um jogador de Age Of Empires(e jogos semelhantes) veria.
Tempo
Tempos longínquos, além da memória.
• Caracterização: Há uma certa confusão no começo, já que povos que não foram contemporâneos (por exemplo, Roma em seu esplendor - e com um rei! - e Esparta como potência militar, além de estes conviverem com religiões como Cristianismo - que é adotado pelo Império Romano perto de sua crise - e o Islamismo - meados do século VII d.C., séculos depois da queda do Império Romano do Ocidente e da tomada de Esparta e da Grécia por Alexandre Magno). Ao longo do livro é possível tentar entender o que aconteceu, mas as conclusões não são muito absolutas ou certeiras - não há como ter certeza disso. A conclusão a que se chegou é a de que os humanos foram trazidos deste planeta (Terra) para o planeta dos Dragões (por isso os nomes Nova Roma, Nova Esparta e afins) o que possibilitaria a co-existência dos povos acima mencionados (trazidos de épocas diferentes para o mesmo local).
Personagens
À exceção de Dryfr, as personagens não apresentam uma grande profundidade psicológica, já que quem narra o livro é o próprio Dragão Dourado e, como tal, tem uma visão subjetiva e própria do mundo. O modo como Dryfr se porta é digno de um grande guerreiro e do sábio que se tornou; além disto, há a sua personalidade nada convencional - o que ele considera uma influência dos humanos indesejáveis. Normalmente é polido e inteligente, mas pode se tornar bem imprevisível. É difícil imaginá-lo como um Dragão, já que a sua narração dialoga com o leitor (assemelha-se muito a uma conversa, um relato) e a descrição de suas ações como tal é fundamental (alusões às escamas, ao voo são essenciais para que a imagem humana de Dryfr não sobreponha a desejada, o dragão dourado).
Coerência entre espaço, tempo e personagens
A coerência é razoável, não é o ponto chave do livro. Não é algo que influencie a leitura, mas é nítida a independência de uns frente aos outros.
Enredo
Segue uma linha de raciocínio subjetiva, próxima a um relato. O enredo tem como finalidade, sob a temática dos dragões, levar o leitor a refletir sobre os estragos que a espécie humana tem feito, suas incoerências, egoísmos e afins. Traz a visão de Rousseau:
A sociedade perverteu o homem natural que vivia harmoniosamente com a natureza, livre de egoísmo, cobiça, possessividade e ciúme. Para Rousseau, o homem nasce bom e a sociedade o corrompe, ou seja, o homem através da história torna-se mau , com o objetivo de lesar o outro. (Fonte: Unicamp)
Além disto, o livro também traz como proposta (embora secundária) a função da religião, dos governantes e a necessidade desenfreada que o sexo tem, em contrapartida aos seres ditos superiores, os dracos, que tem sociedade definida, lealdade e um relacionamento harmonioso com a natureza, mesmo que isto os leve à arrogância.
A evolução de uma espécie com sua extinção (de certa forma, um pensamento derivado da Teoria Darwinista), embora tratada de forma superficial neste livro (há o gancho para as próximas edições), também é uma das propostas.
Por baixo de uma trama semelhante a um RPG, a um video-game, com traços predominantes de literaturas épicas como O Senhor dos Anéis e a novidade das personagens principais serem os dragões, O Despertar pretende uma visão mais filosófica e reflexiva de nosso mundo, sociedade e costumes.
Em contrapartida, há alguns acontecimentos bem óbvios (principalmente nos capítulos finais), o que pode diminuir a empolgação do leitor,
Capa e Sinopse
A capa é muito bem feita e pertinente ao enredo: o Dragão Dourado ao centro e os "enfeites" delicados em volta, tal como a tradição de imagens de um povo tão antigo quanto o universo (ou multiverso, como Dryfr e os demais dragões o denominam).
A sinopse confirma a proposta do livro como reflexão das condições humanas em meio ao aparente entretenimento.
Estrutura física
É um material agradável ao toque e que permite a lombada ser aberta com folga. Por ser mais fina, a capa tem uma tendência maior a amassar ou marcar, mas nada que a cautela não evite.
As letras são boas e os capítulos bem divididos de acordo com temática, evitando assim muitas interrupções ou alternâncias bruscas entre picos de tensão e calmaria.
Quanto às regras gramaticais, há alguns erros consideráveis de pontuação e uma ortografia praticamente perfeita.
Gostou da obra?
Gostei muito mesmo. Em muitos momentos eu me imaginei jogando Age of Empires (meu jogo favorito) e vendo tudo aquilo acontecer. Até mesmo simulei a batalha entre Ûnya e Nova Roma (em proporções menores)... Percebi influências positivas de livros como O Senhor dos Anéis e uma vasta pesquisa histórica. A esposa de Dryfr, Wyryn, me lembrou demais a Saphira de Eragon com suas viagens astrais... E a proposta do livro me agradou igualmente. Apenas algumas descrições foram um tanto exageradas, como na passagem em que Ûnya coloca as pontes móveis para passar ao lado de Nova Roma na cidade de Quatro Pontas, o que me cansou bastante; os acontecimentos finais não me surpreenderam muito também, mas nada que diminuísse consideravelmente a minha vontade de ler até o último ponto final.
Avaliação
- Enredo: 9,5
- Capa: 10
- Caracterização das personagens e entrosamento entre as mesmas: 9
- Caracterização do tempo e espaço e coerência entre os mesmos: 8
- Aspectos gramaticais: 9
- Estrutura física: 9,5
- Sinopse: 9
Nota: 9,1 (4 Estrelas - Muito Bom!)
Recomendações
A adolescentes e adultos que queiram uma aventura épica, reflexão sobre o mundo ou, o que é melhor ainda, ambos juntos. Não recomendado para crianças por passagens de cunho sexual.
Veja mais em: http://seismilenios.blogspot.com/2011/10/resenha-draco-saga-o-despertar-vol-1.html