Boêmios Errantes

Boêmios Errantes John Steinbeck




Resenhas - Boêmios Errantes


5 encontrados | exibindo 1 a 5


MatheusPetris 23/01/2023

Tortilla Flat é o título original deste romance coletivo. Apesar da tradução ser interessante, Boêmios Errantes não capta o principal deste livro: a origem, o meio em que as personagens estão inseridas; que elas são boêmias & errantes, isto é inegável, mas se elas estão afundadas, estão nas lamas de Tortilla Flat. São dali e de nenhum outro lugar.

É possível traçar um paralelo com O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Assim como Azevedo, Steinbeck constrói seus personagens em torno de uma estrela central. Tudo gira em torno do Cortiço e da Tortilla Flat. Se Azevedo tece a “serpente de pedra e cal” por meio de descrições espaciais muito minuciosas, John Steinbeck nos insere em Tortilla Flat muito mais pelos olhos de seus personagens, por meio de diálogos. Em ambos, há uma miríade de personagens fadados ao sofrimento. Seriam intrinsecamente fracassados ou afundados por seu meio? A asserção de Rousseau estaria comprovada por essas narrativas? Sim e não. Enquanto em O Cortiço existe uma estrutura cíclica, uma continuidade geracional de personagens, onde tudo se repete — o que comprovaria a tese rousseauniana e, num certo sentido, as motivações naturalistas —, em Boêmios Errantes há uma suspensão, as personagens voltam para seus começos, para suas origens. Não há modificações profundas, apenas temporárias. Enquanto O Cortiço cresce, se multiplica, Tortilla Flat se mantém intacta.

Em ambos os romances há um personagem mendicante que guarda todas as suas esmolas ao longo da vida. Os destinos deles são diferentes: um é roubado e perde tudo, o outro cumpre sua promessa e ganha amigos. É claro que no segundo caso falamos de Steinbeck, pois neste romance há uma chama de esperança. Por mais que as personagens estejam afundadas na lama e cometam algumas atrocidades, elas ainda mantêm suas bondades particulares, seu senso de coletivo.

Steinbeck, por mais irônico que seja ao longo do seu livro, ao comparar os amigos com os Cavaleiros da Távola Redonda, acerta no ponto crucial: na igualdade dos membros daquela casa. A única diferença: Danny dorme em uma cama. Ele abdicou de todo o resto em prol da união. O fim deste personagem e de seus amigos só comprova o senso de coletivo e, principalmente, as motivações sociais que impregnam as entranhas destes e mantém suas condições intactas. Entretanto, eles não foram corrompidos por seu meio. Mesmo em meio a lama, eles continuam se limpando. Juntos. A coletividade e a esperança não morrem, apenas adormecem.
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Cesar AS 12/02/2009

Como é bom beber
Este livro me instroduziu ao mundo de Steinbeck, se bem que nenhum outro livro dele é parecido com este. Li duas vezes seguidas porque não queria que acabasse. A história de uma turma de "dorme sujo" vivendo feliz sem ter que ter o que todo mundo tem.
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Craotchky 09/07/2016

Os vagabundos devassos
Denny: "Sou o herdeiro dele. Eu, o neto predileto."
Pilon: "És o único neto."

O livro narra de forma leve, descuidada e descontraída, as quixotescas desventuras de um grupo de amigos permanentemente embriagados. Todos acabam se reunindo numa uma casa em Tortilla Flat, um lugarzinho que fica em uma colina, muito próximo à cidade boêmia de Monterey, na costa da Califórnia. Os personagens são uma atração à parte, com seus nomes, no mínimo, singulares.

Danny - 25 anos, pequeno, moreno. O afortunado do grupo pois herdou 2 casas após a morte de seu avô. Uma delas, na qual, o grupo todo irá viver. Alcoólatra. 🍺

Pilon - O malandro do grupo, o sagaz, dotado de uma sapiência questionável. É aquele que tem as ideias mirabolantes. O personagem mais divertido. É alcoólatra. 🍺

Big Joe - Um cara grande, que possui vasta experiência carcerária pois passa muito tempo na cadeia detido por embriaguez e conduta desordeira. Também é alcoólatra. 🍺

Pirata - Grande, forte, barbudo. Mora num galinheiro abandonado com seus cinco cães: Enrique, Pajarito, Rudolph, Fluff e Señor Alec Thompson. Igualmente alcoólatra. 🍺

Jesus Maria - Bondoso em sua essência elementar, procura sempre o comportamento correto. Inclinado a filantropia e altruísmo. Assim como os companheiros, é alcoólatra. 🍺

Os amigos desocupados vivem seus dias com apenas uma coisa em mente: conseguir um dólar ou dois para comprar garrafões de vinho que consomem em pouquíssimo tempo. Por esse motivo, estão sempre desprovidos da totalidade de suas faculdades, e passam por constantes situações inusitadas envolvendo outros personagens secundários, também peculiares.

Pilon: "Fomos amigos durante anos. Quando precisou, nós o alimentamos. Quando sentiu frio, o agasalhamos."
Pablo: "Quando foi isso?"
Pilon: "Ora, nós teríamos feito isso, se ele precisasse e nós tivéssemos."

Piadinhas irônicas, sarcásticas permeiam o livro e dão um tom de deboche e até uma imagem subversiva à hipocrisia da condição humana, da conduta moral e ética de todos nós nas situações quotidianas. Passagens com humor são constantes e procurei ilustrar esta resenha com algumas. Sei que esta história deve ser bem diferente das outras obras de Steinbeck, mas já gostei desse meu primeiro contato com ele.

Denny: "Demos nossas vidas pela pátria e agora não temos um telhado para nos abrigar."
Pilon: "Nunca tivemos."
Marcelo Marques 25/06/2020minha estante
Cara, que resenha fascinante! Li o livro faz um bom tempo, mas ainda me recordo de todos os pontos que foram destacados por você. Lembro-me de ficar profundamente emocionado com o final, o que é uma evento normal para os escritos do Steinbeck, vide "Homens e Ratos" e "O Inverno da Nossa Desesperança".

De Boêmios Errantes, umas das partes que se gravaram em minha memória:
"É atordoante descobrir que o fundo de uma coisa má e negra é branco como a neve. E é triste descobrir que as partes ocultas dos anjos são leprosas"


Craotchky 25/06/2020minha estante
Agradeço o comentário elogioso, Marcelo. De fato, a matéria prima do Steinbeck parece ser o humano em todas as suas diversas complexidades. O trecho que você citou demonstra bem a ambiguidade humana.
Lá se vão alguns anos dessa resenha que tinha como objetivo trazer um tom mais humorístico do que outra coisa. Acho que só fiz ela porque o livro contava com pouquíssimas resenhas.
Li Homens e ratos e As vinhas da ira, os dois muito bons com destaque especial para este último. Ainda quero ler A leste do Éden e O inverno da nossa desesperança...




MatheusA 02/01/2012

Os vagabundos, iluminados ou não, de Steinbeck, buscam felicidade vivendo em prol do prazer. Ainda que este prazer, na maioria das vezes, não passe nem perto da sensualidade ou do ideal romântico.

Aqui, atinge-se o prazer através da camaradagem entre homens. Tortilla Flat, do título original, é um reduto de amigos desocupados, reflexivos, e extremamente alcoolatras.

Há forte apologia ao ócio como constante diária, ao descompromisso com quase tudo que se apresentar possibilidade de obrigação, à embriaguez sem ressaca moral.

Paradoxalmente, há também forte sentimento de respeito à moral cristã. Os personagens pensam de acordo com os valores cristãos, mas acabam agindo de forma a ceder às tentações mundanas.

Nunca se atinge a meta estabelecida. Há sempre um desvio mais sedutor. E os personagens - quase todos homens, quase todos protagonistas - acabam por optar pelo desvio, que não chega a ser nem atalho nem caminho mais fácil. Apenas se enganam em suas escolhas. Como tantas vezes acontece na vida.
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Barbara 25/06/2012

Tinha uma enorme espectativa em relação a esse livro, já que foi ganhador do prêmio nobel de literatura... Pensei "puxa, deve ser um livro completamente maravilhoso e inovador"... Ledo engano!

Achei uma historia completamente boba e "sem sal", não me impolguei (e me esforcei bastante pra ler pelo menos ate a metade")... Realmente pensei bastante sobre o porque do prêmio nobel pra esse livro!

Enfim, não recomendoo... Não sou a favor desse termo, mas acho que e uma leitura completamente "ultrapassada".
alan 03/01/2014minha estante
Barbara,
o nobel do Steinbeck foi por "As vinhas da Ira". Ainda nao li o Boêmios, mas dizem que difere bastante do estilo do autor. Recomendo Ratos e Homens. ;)


MatheusA 01/09/2016minha estante
Não me impolguei. Me empolguei.




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