Xigubo

Xigubo José Craveirinha




Resenhas - Xigubo


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André Siqueira 15/01/2022

Xigubo foi a primeira obra de Craveirinha a deixar de ser ideia e se materializar em tinta e papel, no ano de 1964. E que obra. Sua poesia é a n’goma que “Grita!!! / Grita!!!” (20-21); é o som do xipalapala que chama seus iguais e “rasga o silêncio da terra” (32) e com seu berro, une os povos negros sob a bandeira da África livre - sem machucar suas alteridades: juntemo-nos ao xigubo. Suas vozes e gritos são muitos, e cada um deles tem seu mérito e significado. A obra é formada por vinte e um poemas, respeitadas suas singularidades creio que partilham de características comuns, todas elas diretamente relacionadas ao cotidiano de Craveirinha e da Moçambique de seu tempo.
As línguas de seus poemas são pistas notórias de suas escritas e seus propósitos: embora seja escrita majoritariamente em português - a língua de seus (nossos) colonizadores - os neologismos abundam, assim como termos em bantu - falado em grande parte da região Africana subsaariana - e XiRonga - língua principal da cidade que ocupa um local tão central em seus escritos: Maputo. Craveirinha, diría Cristina Pero Rossi em “Condicíon de Mujer” “Hablo la lengua de los conquistadores/pero digo lo opuesto de lo que ellos dicen”.
Esta escolha linguística me parece ser, por um lado, a demonstração clara de alguém que, embora lute com pena e azagaia, compreende que a colonização faz parte de sua (nossa) história e assim deve ser tratada, o apagamento não favorece a memória, apenas a alija. Por outro lado, atesta e anuncia: minhas raízes vivem e progridem, minhas tradições não foram extintas e “aqui outra vez os homens desta terra / dançam as danças do tempo da guerra / das velhas tribos juntas na margem do rio” (36-39). Também há de se considerar: a obra foi publicada em 1964, em Lisboa, graças à vitória do concurso na Casa dos Estudantes do Império - famosa pela resistência ao regime Salazarista e a sua parte na luta anticolonial, sendo a publicação o prêmio concedido ao vencedor.
Os posicionamentos do autor sobre o tema da diáspora e do colonialismo merecem menção especial: poemas como “Ode a uma carga perdida num barco incendiado chamado saga”, “Mamanô”, “Cântico a um Deus de Alcatrão” ou “Gado Mamparra-Magaíza”, por exemplo, denunciam a chaga - que ainda sangra - da escravidão e a forma como tentaram reduzir a não-humanos seus conterrâneos da grande África durante cerca de 400 anos, as imagens e palavras são cruas, duras, sem romantização:
“Mas não desesperem mães / não fiquem tristes pais e amigos e irmãos / não molhem de lágrimas de adeus os lenços brancos / noivas idílicas e entristecidas irmãs. / O barco estava no seguro / e segurada só não estava a carga perdida” (CRAVEIRINHA, 1964, p.32, 12-17).
As críticas não passam somente pela diáspora, mas circulam por temas como a fome em ambientes onde a comida abunda - com em “Afinal … a bala do homem mau” - ou pelo assassinato através do banzo e pelas transformações nos modos de vida - como em “Elegia à minha avó Fanisse” - e a própria morte em vida, ao alijar do indivíduo tudo aquilo que lhe conecta a realidade - como em “Mamanô”.
Mas nem só de denúncias é composta a obra, têm-se também um forte movimento de valorização da Negritude, compreendido, como uma luta contra tal colonialismo que não rouba apenas capital em forma de trabalho, ouro ou produção, mas também esperança e orgulho, através da imposição de uma estética branca, capitalista, masculina e masculinista - movimento consoante a diversos outros que surgiram no período, como por exemplo o movimento dos direitos civis nos estados unidos, liderado por Martin Luther King ou o liderado por Kwame Nkrumah para a independência de Gana.
De mãos dadas ao movimento de valorização da estética e do ser negro, há um movimento de criação e consolidação do Pan-Africanismo como oposição ao Ocidental, novamente em acordo com Krumah. Poemas como “Mãe-África”, “Xigubo” e “Mãe África” são exemplos. Vejo claros paralelos com o “Orientalismo” de Said: a África - negra, servil, colonial, subdesenvolvida - vs o Ocidente - branco, líder, desenvolvido que leva suas bênçãos a povos que nunca as atingiriam sozinhos. O mito dessa Africanidade inferior como modo de sustentação do próprio modo de vida, condição necessária - não só do ponto de vista econômica e a manutenção do sistema escravocrata - mas também do ponto de vista moral-existencial: existimos somente em oposição a outros - ilustrado também por Lévi-Strauss em O cru e o cozido.
Por fim, trago dois temas que se inter relacionam e me parecem fundamentais para a obra: a tradição oral e o banzo.
A tradição oral africana está, frequentemente, associada ao tambor e a antifonia; gerando uma história que é narrada por muitos e não por um, construção coletiva antes que expressão individual. Já o banzo pode ser compreendido como um estado de espírito pensativo, rememorante; alguém que se recorda de algo com saudosismo e canta as glórias do passado com o olho no futuro, já que estas histórias, embora sejam tematizadas no passado e no presente, dizem respeito ao futuro que Craveirinha vê para seu povo e sua terra.
Ygor Gouvêa 15/01/2022minha estante
Fala André. Que achado! Por um acaso leu nesse pdf?
https://www.uccla.pt/sites/default/files/chigubo.pdf

Pergunto pq realmente me interessei mais n acho em lugar nenhum o livro físico.


André Siqueira 15/01/2022minha estante
Fala Ygor =)
Li não meu parceiro, esse ai parce ser o "Karingana wa Karingana" com a capa da 1ª edição de Xigubo (foi lançado como Chigubo), alias que loucura hahahahah. Os poemas são outros, embora de autoria do autor

https://book4you.org/book/2927864/163e8d

Confiável, pode pegar ai - se ficar cabreiro me manda teu email que eu te encaminho! Achei o físico cavucando num sebo aqui no interior de Minas e esbarrei nesse gigante, vale um curso inteiro.

Sorte!


Ygor Gouvêa 15/01/2022minha estante
Vlw, André. Coisa fina isso viu. Caso se esbarre com outro exemplar me dê um toque. Sou dos físicos, não que vá deixar de ler o pdf que acabou de me passar, inclusive já está baixado. Obrigado pela atenção viu.




Adriana Scarpin 29/05/2022

Ontem foi o centenário do grande José Craveirinha, poeta moçambicano.
Xibugo é seu primeiro livro de poemas, lançado quando tinha 42 anos, já de cara Craveirinha soltou uma bomba sobre nossas cabeças, numa poesia anticolonial fala da africananidade com raiz bantu, do colonialismo acompanhado de ódios de classe e raça, da condição de ser um negro moçambicano em meados do século XX.
Sua poesia é muito potente e visceral, não tem como não gostar, Craveirinha não se tornou um ícone tanto da poesia quanto do movimento negro à toa.
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Manuel Gimo 22/07/2019

A Poesia de Combate de José Craveirinha
AUTOR: José Craveirinha
TÍTULO: Xigubo
LOCAL DA PUBLICAÇÃO: Maputo
EDITORA: Alcance Editores
EDIÇÃO: 4ª ed.
ANO: 2008
PÁGINAS: 61
FORMATO DO LIVRO: Impresso




SINOPSE:

O livro de poesia do mesmo escritor de "Karingana ua karingana", o jornalista José Craveirinha já trabalhou nos jornais "Brado Africano", "Notícias", "A Tribuna", "Notícias da Beira", "O Jornal" e "Voz de Moçambique". Ganhador de diversos prêmios como a "Medalha de ouro de Brescia", na Itália e "Premio Cidade de Lourenço Marques", em Moçambique. Foi preso pela PIDE por causa das suas actividades políticas.

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ANÁLISE:

José Craveirinha (1922 – 2003) é o poeta-mor de Moçambique, um dos precursores do lirismo moçambicano. É igualmente héroi nacional, pelo que os seus restos mortais jazem na Cripta dos Hérois Nacionais (na Praça dos Hérois) em Maputo.
“Chigubo” (reintitulado “Xigubo” a partir da segunda edição) é a sua primeira obra publicada em 1964 pela Casa dos Estudantes do Império (CEI) em Lisboa. Os poemas, com excepção de alguns, são datados, dando pistas de quando foram escritos (meados dos anos 50 e início de 60). Em 2008, a obra ganhou sua quarta edição pela Alcance Editores.

Xigubo é uma dança guerreira do Sul de Moçambique e que servia de preparação ou chamamento para a guerra de defesa ou de ataque. Na sua obra, Craveirinha ataca o (assim como defende-se do) sistema opressor colonial, chama, ou melhor, convoca seus irmãos moçambicanos para um “xigubo preparador da luta armada que se avizinhava” (p. 3, Calane da Silva, nas notas introdutórias), e clama por um Moçambique novo e livre. Escrito no apogeu dos movimentos de libertação, a obra é marcadamente contestante, reivindicativo de valores socio-culturais moçambicanos (e africanos, no geral) e revolucionária. Revolucionária não só no ponto de vista da advocatura de reformas políticas e sociais, mas também no que toca a uma nova identidade literária, isto é, um jeito próprio de fazer poesia, de fazer Literatura que se distancia do jeito das metrópoles europeias (especialmente, de Portugal).
Vários outros temas perpassam os 22 poemas desta obra, desde a negritude à busca de uma identidade nacional, de revolta à reivindicação da liberdade.




IDENTIDADE NACIONAL

Uma das discussões mais recorrentes na Literatura Moçambicana (quiçá Africana) é a busca da identidade nacional. Após 500 anos de colonização, o moçambicano busca (ou rebusca) a sua própria genuinidade e singularidades, aquilo pelo qual ele possa nutrir um sentimento de pertença. O “POEMA DO FUTURO CIDADÃO” ilustra bem isso: «Vim de qualquer parte / de uma Nação que ainda não existe. / Vim e estou aqui! / (…) / E / tenho no coração / gritos que não são meus somente / porque venho de um País que ainda não existe.» (p. 24).
Craveirinha sonhava não somente com um país que fosse uno e igualitário, mas que fosse mais nosso, que fosse mais nossa cara, por isso ele, em “HINO À MINHA TERRA”, entoa «Chulamáti! Manhoca! Chinhambanine! / Morrumbala, Namaponda e Namarroi / e o vento a agitar sensualmente as folhas dos canhoeiros / eu grito Angoche, Marrupa, Michafutene e Zóbuè / e apanho as sementes do cutlho e a raiz da txumbula / e mergulho as mãos na terra fresca de Zitundo. / Oh, as belas terras do meu áfrico País» (pp. 27 – 28). Este é o hino que o dito cidadão do futuro, isto é, cidadão de uma nação por construir, entoaria nesse aspirado futuro deleitoso em que tudo lhe pertenceria. Primeiro, no entanto, este cidadão tem que se libertar da realidade oprimente e degradante a que é sujeito, por isso, em “CHAMAMENTO”, Craveirinha apela para os seus irmãos levantarem-se (kusekeleka) do chão da penúria e exploração: «Chamei-te! / E o meu grito rouco de vida / entrou como um tiro de azagaia no recesso das minas / e no minuto suspenso no relógio da esquadra / ouvi o eco crescido e refundido da minha voz máscula / responder: — Sekeleka Irmão!» (p. 58).




NEGRITUDE

Negritude, movimento literário, estético e filosófico surgido no séc. XX, assenta(va) suas bases ideológicas na liberdade, exaltação e reafirmação do homem negro (na África e na diáspora) e de todas as suas manifestações artístico-culturais.
“MANIFESTO” (é deste poema o excerto abaixo), “MSAHO DE ANIVERSÁRIO” e “N‘GOMA”, são os poemas mais notórios com tais temáticas.

«[...]
Eu tambor,
Eu suruma,
Eu negro suaíli,
Eu Tchaca,
Eu Mahazul e Dingana,
Eu Zichacha na confidência dos ossinhos mágicos do tintlholo,
Eu insubordinada árvore da Munhuana,
Eu tocador de presságios nas teclas das timbilas chopes,
Eu caçador de leopardos traiçoeiros,
Eu xiguilo no batuque.

E nas fronteiras de água do Rovuma ao Incomáti
Eu-cidadão dos espíritos das luas
carregadas de anátemas de Moçambique.» (p. 40)




REIVINDICAÇÃO

A reivindicação dos valores etno-culturais africanos e da liberdade está claramente patente nos poemas “XIGUBO”, “ÁFRICA” e "UM CÉU SEM ANJOS DE ÁFRICA” (de notar que estes poemas também carregam as marcas da Negritude).
A título de exemplo, “XIGUBO”, que dá título à obra, abre a obra com um cenário ameno: homens negros, azagaias empunhadas, xigubo nos pés, preparam-se para a guerra (de libertação, certamente) ao ritmo dos tambores na savana africana, sob o testemunho da lua cheia. Ora, ora:

«(…)
Tantã!
E os negros dançam o ritmo da Lua Nova
rangem os dentes na volúpia do xigubo
e provam o aço ardente das catanas ferozes
na carne sangrenta da micaia grande.

E as vozes rasgam o silêncio da terra
enquanto os pés batem
enquanto os tambores batem
e enquanto a planície vibra os ecos milenários
aqui outra vez os homens desta terra
dançam as danças do tempo da guerra
das velhas tribos juntas na margem do rio.» (p. 18)




DENÚNCIA

À luz das primeiras insurreições contra os agressores imperialistas brancos e contra a política colonial que até então submetia os negros, a Literatura exerceu um papel preponderante. A literatura testemunhara as indignações, o inconformismo e denúncias dos inconformados. Craveirinha, inconformado, denuncia as mazelas sociais da época. Vemos isso em “SUBIDA”: «Patrão bateu, bateu: / — «cão narro que te mato»! / Mamana foi nos porões para S. Tomé / «shipakana» trabalhou na Administração... / Ai a passividade animal! / As machambas encheram-se de milho / preço de milho subiu. / Os campos cobriram-se de algodão / preço de capulana subiu. / Começou frio na palhota / subiu preço de «xiganda-bongolo»... / Ai a passividade animal!» (pp. 25 – 26); “ODE A UMA CARGA PERDIDA NUM BARCO INCENDIADO CHAMADO SAVE”: «Vinham nos beliches os homens / Vinham nas tarimbas os homens / Vinham nas camaratas os homens / e a carga que ardeu na manhã do mar / foi dos beliches / foi das tarimbas / e foi da mercadoria que gritou em vão / no horror da sepultura de sal e ferros em brasa / com as mães e as irmãs / os pais e os irmãos / as noivas e os amigos / viajando no lado esquerdo do dólman de caqui / com botões cintilando como estrelas da noite / fatal na rota ensanguentada do Índico.» (p. 35); “MULATA MARGARIDA”: «(…) E corpo moreno de mulata Margarida / é vestido de nailon que senhor da cantina pagou / é quinhenta de chá / arroz e molho de amendoim / de Zeca Macubana que herdou olhos azuis / das românticas noites / de jazz / nos bares da Rua Araújo / enquanto a cinta elástica suspende / o ovário descaído.» (pp. 44 – 45); e “AFINAL... A BALA DO HOMEM MAU”: «Era noite / o menino vadio tinha fome / na papaeira a papaia estava madura / e o menino vadio estendeu a mão. / Oh... Mamanôôô...! / (…) / mas de repente o homem atrás do muro / calmo e certeiro puxou o gatilho / e o silêncio da noite ficou mais silencioso / e a escuridão da noite ficou mais escura / e o coração vermelho do menino ficou mais vermelho / e o calor da bala ficou mais quente / e as mil fomes do menino acabaram na fome / do chumbo maduro na barriga do menino.» (p. 51)




REVOLTA

Um dos factores que contribuiram significativamente para o desencadeamento das lutas de libertação na África foi as revoltas populares. A indignação resultante dos actos perpetuados pelo sistema opressor e o inconformismo contra a injustiça foram instrumentos galvanizadores para a conscientização do negro. A escravização do homem negro e a promiscuidade e mendicidade resultantes desta prática aliados ao elevado custo de vida deixava qualquer um que se considere sensato revoltado. Em “GRITO NEGRO”: «Eu sou carvão! / E tu arrancas-me brutalmente do chão / E fazes-me tua mina / Patrão! / Eu sou carvão! / E tu acendes-me, Patrão / Para te servir eternamente como força motriz / mas eternamente não / Patrão!» (p. 19); “IMPRECAÇÃO”: «…Mas põe nas mãos de África o pão que te sobeja / e da fome de Moçambique dar-te-ei os restos da tua gula / e verás como também te enche o nada que te restituo / dos meus banquetes de sobras. / Que para mim / todo o pão que me dás é tudo / o que tu rejeitas, Europa!» (p. 31); “CANTIGA DO BATELÃO”: «Se me visses chorar / os milhões de vezes que te riste... / Se me visses gritar / os milhões de vezes que me calei... / Se me visses cantar / os milhões de vezes que morri / e sangrei... / Digo-te irmão europeu / havias de nascer / havias de chorar / havias de cantar / havias de gritar / E havias de sofrer / a sangrar vivo / milhões de mortes como Eu!!!» (p. 41); “JAMBUL”: «Na cidade / Jambul está varrer lixo / Jambul está limpar alcatifa / Jambul está carregar baldes de machimba / Jambul está carregar pedras / Jambul está carregar vagão / Jambul pisado até lá no fundo / ...pisado até lá no fundo do coração em sangue / diz:—«Baietê... Baietê...» — e na sua terra / humilhação de Jambul segundo xibalo / com vassoura na mão / e correntes nos pés / continua.» (p. 42); “MAMANÔ”: «Cidade: / aonde está o órfão de mãe ainda viva / quase vestido / quase morto / quase nu / pequeno xipocuè chamando na nossa língua / — «Ô...Mamanôôô...! Mamanôôô...!» / naquela noite fatal que exportou / duzentos e vinte e cinco homens / e cinquenta e três mulheres / para as roças de S. Tomé?» (p. 47); “ELEGIA À MINHA AVÓ FANISSE”: «Fanisse era minha avó / e sombra de canhoeiro no caminho de areia / traz recordação de velha capulana de riscado / com amendoim e milho maduro / na machamba de Michafutene / a dois gritos de paragem de camião. / (…) / Português abriu estrada na machamba / buzina de Thomicroft lá longe / espantou cabrito de cocuana Mabota / passarinho de bico encarnado / fugiu!» (pp. 48 – 49); “CÂNTICO A UM DEUS DE ALCATRÃO”: «Lua escondeu coração / saiu ouro / saiu pedra de lapidação / saiu barco cheio de máquina gente no porão / saiu notícia de menino morto boneco de carvão / saiu Cadillac novo de patrão.» (p. 50); e “GADO MAMPARRA-MAGAÍZA”: «E novamente / outra vez o gado está escolhido. / Outra vez o gado está comprado. / Outra vez o gado está vendido outra vez! / Ah! / Mais outra vez o grande xitimela de migôdini. / Mais outra vez o gado-gente vendido outra vez. / (…) / Ah! Gado libras-ouro de bacilos do rand. / Ah! Nunca mais nenhuma vez. / Gado mamparra. / Gado magaíza. / Nunca mais em Moçambique gado comprado. / Nunca mais gado moçambicano marcado e vendido! / Nunca mais!!!» (p. 61), Craveirinha é um revoltado, irrealizado, indignado e inconformado com a cultura europeia dominante e opressora, justificando assim os seus gritos de revolta.




É primeira vez que leio uma obra inteira de José Craveirinha, antes só lia uns poemas soltos aqui e acolá. Com isso, testemunho a grandeza deste poeta. “Xigubo”, um primor de estética, é o aperitivo daquilo que Craveirinha faria em sua trajetória literária e que o consagraria como um dos maiores poetas africanos.

Enfim, “Xigubo” não é um só um canto de guerra, é a própria guerra contra as injustiças e desigualdades sociais, contra o regime colonial e contra a ideia da “bela civilização à custa do sangue / ouro, marfim, ámens / e bíceps do meu povo.” (p. 23). Craveirinha é um guerreiro africano, com sua azagaia na mão (leia-se pena), rebolando ao ritmo dos tambores nas tropicais noites do seu “áfrico” país.




AVALIAÇÃO: 10/10



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Review by: Manuel Gimo

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