Thaís Venzel 02/04/2014Léone era uma garota de quinze anos que tinha a mente adiantada demais para sua época. Vivia em uma cidade onde todas as pessoas eram conservadoras, tradicionais e tudo que fugia ao comum era considerado antinatural e condenado por seus moradores. Léone era uma dessas pessoas que vivia como queria, sem se importar se as pessoas da sua época não aceitavam as coisas que ela fazia. E ela era um tanto incomum para aquela época, pois namora Mélie, uma garota que era sua amiga a muito tempo e estudava junto com ela.
Léone é muito bonita e chama a atenção dos rapazes da cidade. E consciente disso ela se divertia com os rapazes também. Tinha um desejo sexual muito maior por homens do que por Mélie, e apesar de ser virgem morria vontade de ir pra cama com alguns caras que conhecia. Jean-Claude era o cara que ela mais gostava de ficar, e sempre saía a noite com ele para se divertirem juntos. Mesmo Jean-Claude sendo loucamente apaixonado por Léone, ela jamais abriria mão de seu sincero amor por Mélie, e por isso ela nunca lelvava Jean-Claude a sério.
Em um baile da cidade Léone é apresentada a Alain, um cara que tinha acabado de chegar na cidade com sua família e de quem Léone logo de cara odiou. Mal sabia que era exatamente Alain que tornaria sua vida um terrível pesadelo. Isso porque Léone mantinha um diário em segredo, onde escrevia sobre todas as suas aventuras sexuais com Mélie. Ninguém sabia da existencia desse diário, Léone pensava. Até que o diário foi roubado por ninguém menos que Alain.
Foi então que tanto os pais de Léone tanto os pais de Mélie foram chamados a delegacia da cidade. Descobriu então que o abade C. tinha prestado uma queixa contra as duas por atentado ao pudor e tinha dito que podia comprovar sua queixa com o diário roubado. A policia no entanto disse que estavam dispostos a esquecer a queixa caso Léone recuperasseo diário. A partir de então Léone provou da pior forma a crueldade e a hipocrisia das pessoas da comunidade onde vivia. Ela era incapaz de aceitar que fosse julgada por pessoas que tinham atitudes imundas, e era incapaz de enxergar como erro o amor que ela sentia por Mélie.Passou então a odiar os adultos. Suas próprias palavras:
"E agora que estou crescendo, que vejo os adultos, nossos modelos, digo para mim mesma que não, não e não, não devo parecer-me com eles. Acima de tudo porque são repugnantes. Repugnantes pela autocomplacência, pela sujeição às leis e aqueles que detêm o poder, dignos portanto de escárnio, nesses lados do Poitou. Eles vivem no temor de chocar, de serem julgados. 'Que vão pensar de nós?' e 'Que vão dizer as pessoas?' são as frases que mais frequentemente ouvi a minha volta. Eles não possuem nenhuma liberdade. Logo descobri que o homem não ama a liberdade, que ela não passa para ele de um tema de conversação. Que, livre, se sentirá tão perdido quanto uma criança sem o pai. Ele exige a liberdade em altos brados, mata em seu nome, tortura, humilha. A liberdade não foi feita para eles. É uma palavra que, pelo menos em mim, libera a imaginação."
A partir de então o caso tomou uma proporção enorme, durante muito tempo Léone não podia nem sequer sair na rua sem ser agredida pelas pessoas. As mulheres a chingavam e as crianças jogavam pedras para machucá-la. Mas ela não abaixava a cabeça, pois sabia que cada um de seus agressores tinham segredos muito mais impuros que o dela.
"Não vejo de onde vem a agressão, mas a bofetada que recebo é da Sra. R. Quanto a Sra. L., ela me pega pelos cabelos. Tento, como posso, aparar os golpes, mas agora elas são cinco ou seis a minha volta. Um crescente ajuntamento forma-se ao redor, surgem garotos que zombam e tentam me atingir com pontapés:
- Vagabunda, vagabunda!
A manga do meu casaco novo é rasgada, começo a sangrar pelo nariz, e isso deve excitá-las, pois me sacodem com mais força. Ninguém interfere."
Em suma, é uma história onde podemos refletir sobre a hipocrisia das pessoas que nos cercam e dos julgamentos maldosos feito pelos outros acerca de nós mesmos ou feito por nós acerca de outras pessoas. Mostram também a ambição humana por achar que tem o poder de julgar o ato de seu próximo. É triste e fascinante.
site:
http://fotografiaeleitura.blogspot.com.br/