Moitta 20/10/2020
Notas
Trajano ambicionava fama, e enquanto a humanidade continuar a prodigalizar mais aplausos aos seus destruidores do que aos seus benfeitores, a sede de glória militar continuará a ser sempre o vício das personalidades mais enaltecidas.
A política dos imperadores e do Senado, no que respeitava à religião, era felizmente secundada pela opinião do setor esclarecido e pelos hábitos do setor supersticioso de seus súditos. As várias formas de culto que vigoravam no mundo romano eram todas consideradas pelo povo como igualmente verdadeiras, pelo filósofo como igualmente falsas e pelo magistrado como igualmente úteis. E assim a tolerância promovia não só a mútua indulgência como a concórdia religiosa.
Os poderes visíveis da Natureza, os planetas e os elementos, eram os mesmos por todo o universo. Os invisíveis governantes do mundo moral foram inevitavelmente vazados num molde fictício e alegórico semelhante. Cada virtude e cada vício adquiria seu representante divino, cada arte e ofício o seu patrão, cujos atributos, nas mais distantes épocas e países, derivavam uniformemente do caráter de seus devotos peculiares.
Nas repúblicas de Atenas e Roma a modesta simplicidade das casas particulares anunciava a igualdade de cidadania, enquanto a soberania do povo estava representada nos majestosos edifícios destinados a uso público;
As estradas públicas eram acuradamente divididas por marcos miliários e se estendiam em linha reta de uma cidade a outra, sem muito respeito pelos obstáculos da natureza ou da propriedade privada. Perfuravam-se as montanhas, e arcos audazes franqueavam os rios mais largos e mais caudalosos. A parte mediana da estrada erguia-se num terraço que dominava a região adjacente; consistia em várias camadas de areia, cascalho e argamassa e era pavimentada com pedras grandes e, em lugares próximos da capital, com granito.
Uniam os súditos das mais distantes províncias num intercâmbio fácil e familiar, mas seu objetivo primeiro era facilitar as marchas das legiões; a nenhum país se considerava completamente subjugado enquanto todas as suas partes não estivessem acessíveis às armas e à autoridade do conquistador.
e a mesma liberdade de intercâmbio que disseminou os vícios difundiu igualmente os melhoramentos da vida social.
A todos estes avanços se pode acrescentar uma assídua atenção às minas e à atividade da pesca que, com empregar abundante de mão de obra, serviu para acrescer os prazeres dos ricos e a subsistência dos pobres.
Mas na atual condição imperfeita da sociedade, o luxo, conquanto possa advir do vício ou da estultícia, parece ser o único meio capaz de corrigir a desigual distribuição da propriedade. O obreiro diligente e o artífice engenhoso, que não obtiveram quinhão algum na repartição da terra, recebem um tributo voluntário dos proprietários rurais; e estes se veem instigados, por uma questão de interesse, a desenvolver as suas propriedades a fim de, com a produção delas, poder adquirir prazeres adicionais. Este processo, cujos efeitos específicos são perceptíveis em toda sociedade, atuava com vigor muito mais difuso no mundo romano. As províncias teriam sido em pouco exauridas de suas riquezas se as manufaturas e o comércio de artigos de luxo não fossem aos poucos devolvendo aos súditos industriosos as somas que lhes haviam sido extorquidas pelas armas e pela autoridade de Roma.
Na religião romana, os lares eram espíritos malignos ou benignos; estes últimos, cultuados nas lareiras domésticas, se incumbiam de proteger a casa e seus habitantes, sendo invocados em determinados dias do mês e em ocasiões especiais, como nos casamentos.
Um Monarca fraco será sempre governado por seus criados.
A maior parte dos crimes que perturbam a paz interna da sociedade são produzidos por coerções impostas aos apetites da humanidade pelas necessárias mas desiguais leis da propriedade, que confinam a uns poucos a posse dos objetos cobiçados por muitos. De todas as nossas paixões e apetites, o amor ao poder é o de natureza mais imperiosa e insociável, pois a soberba de um homem exige a submissão da multidão. No tumulto da discórdia civil, as leis da sociedade perdem a força e o lugar delas raramente é preenchido pelas leis da humanidade. O ardor da disputa, a arrogância da vitória, o desespero do êxito, a lembrança de injúrias passadas e o temor de perigos vindouros, tudo contribui para inflamar o espírito e calar a voz da piedade. Por tais motivos, quase todas as páginas da História estão manchadas de sangue civil;