Renata CCS 06/11/2013Sobre coragem e amizade
Em O PALÁCIO DA MEIA-NOITE, ao contrário dos outros livros de Zafón, não é em Barcelona que se passa a história, mas sim na mística Calcutá, no coração da Índia, em 1916 e 1932. O narrador é Ian, já com mais de 60 anos, que relembra o que ocorreu quando, aos dezesseis anos, ele e um grupo de mais seis amigos deveriam deixar o orfanato onde cresceram e desfazer o Chowbar Society, clube secreto e fechado, formado pelos sete amigos que se reuniam semanalmente no palácio da meia-noite, uma construção abandonada em ruínas assim por eles batizada. Mas antes que esta sociedade se desfaça, eles embarcam em uma arriscada investigação na tentativa de desvendar uma trágica história.
Um dos garotos, Ben, foi entregue ainda recém-nascido pela avó, Aryami Bosé, àquela instituição, com o objetivo de salvá-lo do assassino de seus pais. Sua irmã gêmea, Sheere, permanece com a avó, que optou por separá-los imaginando que assim teriam mais chances de sobreviver. Enquanto Ben cresceu no orfanato entre amigos, Sheere levou uma vida errante com sua avó, e por este motivo, cresceu solitária.
Dezesseis anos depois, o homem que eliminou seus pais está de volta. Os irmãos, com a ajuda dos seis amigos de Ben, começam uma busca para tentar entender o passado dos gêmeos e o que aconteceu para que essa ameaça mortal pairasse sobre a família.
Diferentemente do livro anterior, O Palácio da Meia-Noite não me conquistou totalmente. A ação e a aventura só foram tomar força lá pela metade do livro, e o mistério e o sobrenatural não se revelaram como pontos fortes na obra. A identidade do perseguidor, para mim, ficou um tanto evidente logo no início da leitura. O jogo de palavras para camuflar sua real identidade mostrou-se bastante óbvio, tirando um pouco do suspense na narrativa.
O ponto forte do livro são os adoráveis personagens. Os adolescentes, com seus ideais de amizade e lealdade acentuados pela magia da juventude, são encantadores. É comovente a força e a lealdade das amizades puras, mesclada com aquela convicção de que tudo é possível, mesmo em situações sombrias. A visão quase inocente dessa juventude contrasta com o inevitável lado fantasmagórico de um inimigo sobrenatural, e vai de encontro ao medo e a coragem de cada um, colocando à prova esta amizade e a união do grupo. A inesperada força das convicções desses jovens, e o afeto genuíno que sentem uns pelos outros, tornam a leitura válida.