Douglas 25/12/2015
O Palácio da Meia-noite
Depois de ler "A Sombra do Vento", me animei a comprar todos os livros do Zafón.
Alguns são excelentes, outros nem tanto, mas eu gosto bastante do autor. Acho a pegada de mistério nos livros dele bem interessante.
Diante disso, confesso que faço esta resenha com o "coração partido", embora seja sincero.
"O Palácio da Meia-Noite" tem uma premissa fantástica: irmãos gêmeos perseguidos por um espírito diabólico e, juntamente com os amigos, terão de enfrentar o temível pássaro de fogo.
A trama em si é bem interessante e conseguiu me prender. Fiquei aflito para ver o desfecho da história.
Este é um livro que tinha tudo para ser uma história fenomenal. Infelizmente, não é.
Explico meus motivos:
- Tive bastante dificuldade com os nomes de alguns personagens: Seth, Isobel, Siraj, Roshan (em minha mente era uma menina, mas era um garoto), Lahawaj, Jawahal, etc.
Tenho problemas em criar empatia com nomes complexos, mas aí pode ser problema meu e não propriamente do livro.
- Achei que a história ficou muito tempo no passado, sendo revelado o mistério a conta-gotas, ficando com muitos personagens que tiveram pouca participação aqui.
- Em relação à narração, me irritou o fato dela revelar uma parte do mistério e depois isso ser falso! Talvez o autor quisesse fazer uma reviravolta na história, mas fiquei com a impressão de que ele criou uma trama, mudou de ideia, mas resolveu deixar tudo como estava.
Não ficou bom.
- Os diálogos em alguns pontos também não ajudam muito. Há muita repetição de nomes. Exemplo na pág. 248:
"Ben retirou a plaquinha e leu o nome que estava escrito nela. SIRAJ (...)
- SIRAJ – ordenou Ben -, salte deste trem e suma daqui.
SIRAJ esfregou os punhos doloridos (...)
- Não tenho a menor intenção de sair daqui – respondeu.
- É melhor obedecer, SIRAJ – disse Ian (...)
SIRAJ negou com a cabeça (...)
- Vá embora, SIRAJ (...)
SIRAJ vacilou."
Tudo bem que autor deixa claro no prefácio que na época ele não tinha toda a perícia de escritor que tem hoje. Mesmo assim, em alguns pontos a repetição dá uma "engessada" na leitura.
- Embora a premissa seja fantástica, os rumos adotados pelo autor são questionáveis. Quando descobri o que é (ou melhor, quem é) o vilão da história, achei a conclusão totalmente estapafúrdia, sem verossimilhança alguma. Mesmo a explicação do autor não me convenceu. Jamais Jawahal faria o que fez, sendo quem é e tendo a referida conexão com Ben e Sheere.
- Por fim, a conclusão adotada por ele é, na minha insignificante opinião, totalmente deprimente. Embora a história dê a entender que é um mistério sobrenatural, seu enredo se assemelha a um drama, quiçá uma tragédia.
Todos sabemos que em dramas a ideia é deixar o leitor num meio termo entre a alegria e tristeza. Porém, Zafón exagerou na dose. Concluí a leitura com a sensação de ter levado um soco no estômago, o que criou certa aversão ao livro.
Bem, já escrevi demais. Quero deixar claro que eu gosto bastante do autor, mas não posso fazer vistas grossas aos problemas que encontrei aqui. Não seria uma resenha justa.
Mesmo com tantos problemas, continuo sendo fã do Zafón. Pode parecer contraditório, mas o exposto aqui fica restrito a este livro e não ao profissional que o escreveu.
Grande abraço a todos.