Carla 06/05/2012
Um thriller nacional espetacular!!! [Sonho de Reflexão]
(...)
Concluí a leitura no começo do mês, mas vocês viram apenas uma prévia do que senti lendo-o. (...).
Li-o em um momento que queria diversificar um pouco dos temas que ando lendo atualmente e tive uma grata surpresa, porque apreciei cada momento da leitura.
Na França, o renomado historiador e curador Ferdinand Rochemont de Sailly, auxiliado pelo padre Antoine Duvert, palestram sobre uma tapeçaria inspirada no Apocalipse, o último livro do Evangelho, que está exposta no Castelo de Angers, uma fortaleza militar construída por Blanche de Castille, uma guerreira, que atualmente abriga a Tapeçaria do Apocalipse e o Museu de Armas Medievais, que reúne uma coleção completa de bestas de guerra francesa.
Depois que a tapeçaria sofreu um sacrilégio, ela foi retalhada e posta à venda, porque durante a Revolução Francesa, os objetos sacros foram destruídos. No caso da tapeçaria, as peças foram milagorsamente reagrupadas e conservadas, já que estava num estado deplorável e conservá-la tornou-se um estorvo. Com a restauração, foram recuperadas seis peças que contém quatorze quadros cada uma e diversas cenas. Eles têm uma grande fé de recuperar um quadro perdido, que traz esperanças de um mundo sem miséria e violência.
(...). Reconhecia como legítima e saudável a ambição do curador do castelo em recuperar pelo menos um dos sete quadros perdidos da sequência da Revelação Divina; em especial, a recuperação a qualquer preço da cena desconhecida do Diabo enjaulado por mil anos. Na verdade, temia que esse quadro desaparecido significasse que o dragão de sete cabeças estivesse solto e fosse o grande responsável pela atual desordem no mundo. Onde estivesse, estaria semeando a discórdia, incentivando a aids, a pedofilia, o aborto e a clonagem humana, instigando a violência, a ganância e a corrupção. Tudo indicava que os homens teriam perdido a batalha do bem contra o mal. (...). Pág. 14
E, durante a investigação do sumiço da cena 75, que faz parte da sétima peça que falta para completar o quadro, que traz a Besta aprisionada por mil anos, uma busca faz com que a vida de diversos personagens entrelacem-se entre si, entre eles:
Casado com Ana, tem um filho que torna-se seu aliado, Leonardo Marcondes, cujos pensamentos sempre foram turvados por datas, mortes, cifras que contabilizavam angústias e temores, acabou sendo enfeitiçado pela misteriosa astróloga Lisa. Ele terá que romper barreiras para conseguir o que deseja, porque teve um grande baque na vida ao perder um ente querido e rebelou-se contra o mundo. Há uma grande reviravolta no seu destino. Voltado para as raízes familiares, ambicioso e calculista, usará de todos os subterfúgios para atingir seus objetivos.
Ao fazer um estudo do mapa astral de Leo, que fervilha morte e cobiça, Lisa viu que ele era um homem que traria grandes mudanças em sua vida, porque ele tinha uma vida dupla e sombria.
- Muitas coisas boas e promissoras estão para acontecer. Posso estar errada, (...), você tem tudo para se tornar um grande chefe. (...). Vai pagar um preço que só você sabe dizer se é alto ou justo. (...). Pág. 20
- É como se fosse uma sombra, alguém com quem vai fazer um pacto. Terá muito dinheiro, muito mais do que imagina. (...). Esta sombra está associada a uma conjuntura de muitas surpresas. Ela o obrigará a viver daqui por diante no fio da navalha. (...). Pág. 22
Aparentemente, era um contador, sendo que sempre viveu confortavelmente, porque pertencia à classe média alta, já que era mimado e frequentava bons colégios. Largou o escritório de advocacia imposto pelo pai e dedicou-se como contador, onde passou a trabalhar para a escória da sociedade e passou a viver no fio da navalha. Ninguém nunca desconfiou de suas falcatruas, pois seus segredos eram muito bem guardados, inclusive sua esposa, que era de uma família tradicional e política.
Ana era uma esposa devotada e compassiva por um homem, cujo sofrimento a vida impôs tornando-o revoltado, já que antigamente ele era previsível e confiável. Nunca desconfiou das amizades malfazejas e nem das "forças ocultas" (esse foi um dos momentos que me deixaram apreensiva e aterrorizada, porque tenho muito medo) que enfeitiçaram seu marido fazendo com que ele ficasse ainda mais ganancioso e vingativo, porque sempre confiou nele. Com o tempo reconhece essa mudança repentina, porque deixara de ser o marido de sempre ficando tenso e cheio de segredos e manias, ficando cada vez mais evasivo tornando a relação conflituosa.
(...). E Ana tinha ainda de enfrentar, solitária, os prolongados silêncios das palavras não ditas de um marido interligado a algum outro ponto do planeta, sem tomar conhecimento do fio terra conectado à sua casa, que vivia invadida por vozes estranhas. Pág. 33
Depois de muitas mágoas reprimidas, decidiu tomar uma decisão. Que decisão foi essa? Será que ela desvendou a verdade sobre o marido? Garanto a vocês que fiquei chocada com o ocorrido. Foi surpreendente!
- (...), mas a sua mensagem. A cena mostraria a insistência e a sobrevivência da fé. (...), se a cena da tapeçaria anda pelo mundo, com o diabo à solta, explica-se tanta criminalidade, violência, luxúria, perversão e pornografia, e o pior é que não deve deixar de ter seus adoradores por toda a Terra... Pág. 40
Outro personagem em destaque no livro é o sobrinho do padre Antoine Duvert, Aurélien, policial, arqueiro, bibliotecário e pesquisador. Foi obrigado a seguir os passos do pai, que era militar, o que acabou sendo um fardo por não ter residência fixa. Incentivado e motivado pelo avô, começou a pesquisar livros raros que, até então, sempre viveu angustiado em busca da sua verdadeira vocação.
Aurélien ganhava, aos poucos, em seu íntimo, uma crescente consciência de que a vida é uma viagem cheia de mistérios e surpresas, ligados à grande aventura de estar no mundo, (...). Pág. 63
O quadro do diabo aprisionado foi visto no Brasil e, com isso, Aurélien é designado pelo governo francês em sua busca, compra e restauração, que está sendo financiada pelo Ministério da Cultura, mas para isso tem que provar se o quadro é autêntico.
A adorável Júlia, filha de um botânico belga, sempre foi fã de fotos e livros de aventura, cresceu em meio à natureza e aos livros. Herdou do pai a curiosidade por mistérios que aguçou-se ainda mais com as aventuras de Tintin. (Assim como Júlia, sou aficcionada por livros e esse desenho era minha grande paixão na infância e adolescência. Adorava assistir às aventuras de Tintin, com seu cãozinho fiel Milu e o Capitão Haddock. Saudades daqueles tempos!). O grande sonho de Júlia era ser jornalista no Rio de Janeiro e de encontrar um grande amor. Tinha uma capacidade inata de lidar com serviços administrativos e comerciais da pousada, mas era uma péssima cozinheira. Seus pais tinham uma linda história de amor. Foi um dos momentos mais emocionantes do livro.
- Só espero que encontre alguém que te faça rainha. - Neste fim de mundo, mãe? Nem por milagre! - Não é o lugar que importa. É o traço do destino que está escrito nas mãos e nas estrelas. Você vai acabar achando, onde ele estiver, minha filha. Tenha fé nisso! Pág. 52
- (...). Mas, aqui, não tenho futuro, mãe. Quero fazer faculdade. Trabalhar num jornal. Ter minha vida de mulher. (...). Não aguento mais ouvir as histórias dos outros. Quero escrever a minha história. Pág. 53
Não foi fácil para Júlia partir de Mauá. Deixar para trás a infância de bonecas de pano, de bichos e matos, a adolescência de muitos livros, recordações de fases risonhas, felizes, saltitantes no jardim florido da pousada. Deixar de contar com a companhia do pai que a incentivou a conhecer o mundo. (...). Pág. 55
Complexada, Júlia dedica-se de corpo e alma ao trabalho, até que um dia seu chefe pede que faça uma reportagem sobre o grau de violência na Rocinha e as relações dos moradores com os traficantes.
Depois de um incêndio criminoso numa ONG, as vidas de Leonardo, Júlia e Aurélien nunca mais serão as mesmas e, só posso adiantar, que a tapeçaria está ligada a todos esses eventos, cuja reviravolta na história é surpreendente!
Quem sairá vitorioso na busca do quadro perdido? Leonardo, Aurélien ou Júlia? Isso você só saberá lendo o livro, é claro, e garanto que fiquei boquiaberta com o final surpreendente! (risos).
O livro mostra todas as fases do Brasil, quando este faliu com o Plano Cruzado, fala sobre a violência e o crime organizado, a favela da Rocinha.
(...), um dos principais motivos para o crime organizado ter nascido, se expandido e atingido o atual estado de violência, seria (...): o crescimento incontrolável das cidades. Pág. 76
- Um mundo de calamidades em que a servidão se intensificou, os fracos foram oprimidos, os pobres foram renegados, as crianças foram manipuladas e os velhos abandonados. Tudo está representado nas cenas das florestas desaparecendo, dos cursos d'água se putrefazendo, das doenças se proliferando, dos valores da existência jogados por terra e dos jovens se desesperando e se suicidando. Dá para se imaginar nações destruídas por bandidos com armas demoníacas. Pág. 104
- (...). O dinheiro encarado como fonte de desgraça do homem - interveio o curador - (...). É a violenta necessidade de poder e de supremacia dos homens que pensam que quem possui dinheiro tem tudo na vida. Pág. 105
(...). Nesses anos todos de guerras fratricidas nos morros, em que as pessoas sobreviviam no meio daquela situação de mortes, prisões, balas perdidas, a Besta da Terra com suas sete cabeças andava solta. O poder do dinheiro continuava movendo a imensa máquina dos negócios ilícitos. Pág. 121
Esse livro maravilhoso, surpreendeu-me muito!
A história - apesar de ter como pano de fundo um tema polêmico, que é a realidade brasileira nua e crua nas grandes metrópoles -, é um thriller policial dramático, eletrizante e envolvente desde o início. Tem todos os ingredientes que adoramos em livros de mistério e muito mais: amor, romance, paixão, ódio, vingança, religiosidade, fatos e artefatos históricos, muita ação e adrenalina, além do suspense em si envolvendo ecologia, astrologia, maldições, dinheiro, violência, ganância e corrupção. Alguns momentos chegaram a ser comoventes e, ao mesmo tempo, tensos, através dos grandes males que atualmente afligem a humanidade.
Uma história, cujo enredo se passa na França e no Brasil, repleta de reviravoltas e ressalto que impressionei-me com algumas cenas violentas, porque sou muito impressionável, já que não gosto dessas coisas que vemos diariamente, mas temos que encarar a realidade dos dias de hoje.
Ambientada em cenários como Angers, Visconde de Mauá, Rio de Janeiro, Nova York e Paris, esta “corrida do ouro” pela conquista da cena 75 serve de mote para Ilmar Penna Marinho Jr. elaborar seu primeiro thriller, com trechos recheados de ação, mortes e reviravoltas nos destinos das personagens, compondo assim um painel do mundo contemporâneo – para não dizer globalizado – e suas chagas como corrupção, terrorismo e tráfico de drogas e de armas. (Trechinho do release).
No decorrer da leitura, percebi que algumas coisas ficaram em aberto. Questionando o autor se "A Besta dos Mil Anos" fará parte de uma série ou se ele dará continuidade à história, este me respondeu:
"Quanto ao day after do thriller, em principio, não pretendo escrever nenhuma série. Mas quanto à continuação, ainda não tomei uma decisão definitiva. A questão continua em aberto. (...)."
(...)
Só para concluir, quero agradecer muitíssimo ao autor, porque através de "A Besta dos Mil Anos" trouxe-me momentos maravilhosos! Obrigada por ter concedido-me a honra de conhecer essa obra imperdível, preferencialmente nacional, que proporcionou-me uma leitura profundamente envolvente, instigante e emocionante!
Por isso, este livro nacional está mais do que recomendado!
Confira esta e outras resenhas na íntegra no Sonho de Reflexão:
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