spoiler visualizarMad28 04/02/2019
Problemático
1/5*
Pela segunda vez na minha vida, vejo-me confrontada com um livro que considero ter um rating de uma estrela. Infelizmente, esta foi uma leitura que não apreciei de todo, e acredito sinceramente que 99% do livro passa uma imagem completamente errada do que é ser mulher, do que é ser uma mulher solteira, do que é ser um homem solteiro e, acima de tudo, da realidade dos diversos países que são apresentados no livro.
Como exemplo, e para quem estiver interessado, tenho as seguintes frases que fui retirando do livro e que vou marcar como spoiler para evitar prejudicar aqueles que querem ler o livro:
[- Primeiramente, e quando está a falar sobre não receber atenção de homens, a Julie, a nossa personagem principal, diz o seguinte: "E foi o que me bastou para me animar. Porque, como acho que se recordam, somos apenas criaturas patéticas", o que eu considerei que, além de passar uma péssima imagem da mulher, faz parecer que ter um homem a dar atenção é tudo na vida.
-Seguidamente, e ainda na mesma sequência do que aconteceu anteriormente, a personagem principal (supostamente uma mulher adulta e culta) ignora completamente os defeitos do homem à sua frente porque só consegue ver o quão bonito ele é - "Contei-lhe tudo sobre a nossa noite e como me preocupava com o meu sucesso enquanto mestre de cerimónias e ele começou imediatamente a provocar-me, dizendo que eu era uma maníaca controladora. Adoro quando eles decidem provocar-me. Depois o David contou-me que era um pouco mandão, uma vez que era o mais velho de quatro irmãos, e que se preocupava muito com eles. Que querido.". É só a mim que isto me soa errado?
-Odiei o facto de a autora por, supostamente, mulheres entre os seus 38 e 39 anos a dançar em cima de um balcão de um bar com os sutiãs na mão. Era mesmo necessário? E o facto de porem a amiga vegan a comer carne, é só a mim que me mete impressão?
-Entretanto, e ainda enquanto estão no bar, a personagem principal, a Julie, descreve o seguinte: "Vi a Serena num canto a apagar-se por completo, junto do comerciante de arte motoqueiro. Ele estava a segurá-la para ela não cair e enquanto o fazia tinha uma mão em cheio no seu seio direito". Ela não devia de fazer alguma coisa em vez de simplesmente ignorar?
-Os estereótipos da mulher francesa é só das piores coisas que já vi: "estavam obviamente enojadas com qualquer coisa. O que é tão francês." o quê? "As mulheres francesas franziram os narizes como se tivessem acabado de cheirar um brie de fraca qualidade", o que é suposto isto dizer? E supostamente, segundo a autora, as mulheres francesas não se embebedam?!
-No entanto, o momento que menos gostei foi quando a autora descrevia o quão mau é ser mãe solteira, onde a seguinte fala para uma personagem: "e se tivesse uma rapariga, imagine-se a entrar na menopausa enquanto observa a sua filha a desabrochar e tornar-se sexualmente desejável no preciso instante em que você está a mirrar, a secar e a tornar-se sexualmente inútil.", odiei tudo o que esta frase representa
-Depois em todas as relações deste livro, prai apenas 20% foi a mulher a acabar com o homem, mas onde vão buscar esta ideia que só os homens acabam relações?!
-Claro que os estereótipos não podiam ficar só pelos franceses. Pelos vistos as mulheres italianas gostam de dar estalos aos namorados quando eles as irritam, que saudável para uma relação. Ao ponto de ser descrita esta conversa: "-Mas, Julie, certamente que um homem já te deixou tão enfurecida que tiveste vontade de o esbofetear, não? | Olhei para o meu cappuccino. | -Não. | Ficaram as duas a olhar para mim com uma expressão de pena. E eu olhei para elas com uma ponta de inveja. |-Então nunca tiveste apaixonada - disse a Lena", claro, deve ser assim mesmo
-Mais uma generalização: Segundo a autora, os brasileiros do Rio traiem sempre, recorrem a prostitutas e as mulheres não os deixam mesmo sabendo que os seus homens andam com outras. É durante esta generalização que temos outro dos momentos que menos gostei do livro, quando uma amiga brasileira supostamente diz à outra que se vai casar e está preocupada com ser traída: "O que interessa se ele anda a f prostitutas? Quer dizer, a sério. O que interessa se ele enfia a p*la noutra mulher qualquer? Principalmente numa a quem tenha pago. Ele é um homem, ela tem um buraco. Ele f-a. É isso que os homens fazem. Não vamos conseguir mudá-los." Fiquei sem palavras
-A constante preocupação da personagem principal com a celulite, mesmo quando estava na Índia e tinha acabado de ver um grupo de crianças extremamente pobre, foi só irritante (assim como a ideia de que os homens não lhe ligavam de volta por isso - "Não consegui evitar. Lamento. Mas comecei a chorar. E não, não estava a chorar pelas pobres criancinhas, mas sim porque o meu coração estava despedaçado e agora até nos joelhos tinha celulite".
-A Julie, a nossa personagem principal, gozou com uma autora de artigos científicos australiana porque respondeu a uma mulher que tinha de se amar a si própria antes de se envolver com alguém. Entretanto, discutiu com dois homens (ainda na Austrália) que lhe dizem que ainda não encontraram o amor, a tal, e ela está sempre a atirar-lhes à cara um estudo qualquer que diz que na Austrália há mais mulheres que homens. POR FAVOR, não é assim que funciona Julie - "Não havia a menor hipótese de o Will conseguir fazer-me sentir pena deles porque havia mulheres a mais"
-Há uma cena de 12 páginas no livro, por volta da página 250, que é só a cena mais ridícula e o nível mais baixo que eu vi uma mulher rebaixar-se por um homem, e eu simplesmente odiei a representação
-Entretanto a Julie, em vez de se redimir durante o livro, só se torna uma personagem pior, "Devia ter-lhes perguntado (...). Mas não o fiz, porque me estava nas tintas para os seus problemas amorosos. Só me preocupava comigo e com os meus próprios problemas sentimentais.", ninguém ficou surpreendido Julie... ahhh, também não podemos ignorar quando uma das melhores amiga da Julie, que está noiva mas que não está apaixonada pelo noivo, ligou-lhe a dizer que não conseguia casar sem estar apaixonada, e a Julie convenceu a amiga que tinha de se casar mesmo não estando apaixonada porque, e passo a citar, "Essa treta toda de nos apaixonarmos é uma mentira, uma ilusão, não significa absolutamente nada e não dura tempo nenhum". Além de má pessoa é má amiga, como podem ver
-As personagens femininas choraram tipo 60% dos dias no qual decorre a história. C'mon, não é realista... (hide spoiler)]
Okay, deixei então uma secção enorme de spoilers e lamento para quem não os quer ver, mas a verdade é que senti a necessidade extrema de enumerar todos os (diversos) problemas deste livro. É um livro extremamente problemático e com uma representação horrível e, sinceramente, não recomendo a ninguém. Ninguém precisa de um livro sobre como é triste ter quase 40 anos e ser solteiros, não vivemos no séc. XVIII ou XIX, uma mulher pode ser feliz e inserida na sociedade sem ter ninguém, e a mensagem que este livro passa não acredito que seja, de todo, a correta.
Mas como sempre, é apenas a minha opinião. Boas leituras
site: http://presa-nas-palavras.blogspot.pt