Uma pedra no meio do caminho

Uma pedra no meio do caminho Carlos Drummond de Andrade




Resenhas - Uma pedra no meio do caminho


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Gabriel.Larrubia 18/06/2022

"A leitura deste livro apaixonante, mas até certo ponto monótono, não deixa de acentuar esse caráter obsessivo. Ao fecharmos a última página, os versos de Drummond tornaram-se insuportáveis — e ao mesmo tempo sentimo-nos possuídos por eles, habitados por eles."
Parece ridículo ler mais de 300 páginas sobre um poema de dez versos (ou três aos que preferirem), e talvez realmente seja. É irônico também, considerando a estrutura do poema, como muitos já apontaram, sua circularidade, monotonia, obsessão. Sinto que esse livro atrai pessoas de uma certa categoria mental.
Quando me interessei pelo livro, pensei que ele seria 70% gente reclamando do poema e 30% análises de grandes críticos literários, e me pareceu divertido ver tanta paixão concentrada e quem sabe expandir ou mudar meu entendimento do poema.
Quando me aproximei estava me divertindo muito com o conceito em si e com cada palavra. O poema é repetido diversas vezes no livro todo, já que muitos, para criticá-lo, o transcreveram (muitas vezes de forma bem diferente do original) e a cada repetição eu lia ele inteiro, tentava ver se já tinha decorado, etc. Com o passar da leitura a repetição entediava, vários trechos não são críticas mas pessoas citando o que virou dito popular.
Aliás, é interessante como um poeta conseguiu não uma, mas duas vezes, criar ditos populares a ponto de muitas décadas depois pessoas acharem que ele se utilizou do dito para produzir o poema. Esse livro acaba explicando um pouco como isso veio a ser, mas não completamente, só dá alguns indícios, já que “E agora, José?” também caiu na boca do povo mesmo sendo um poema com biografia muito diferente.
Não sei se eu teria me atraído por qualquer outro livro grande sobre qualquer outro poema, talvez sim? Antes da leitura eu achava que sim, mas com a leitura percebi, ou a ideia se formou, que o poema pode refletir um ponto muito fraco meu e que não costumo ter muita compaixão por. E acho que isso é mesmo algo do poema e não é. É dito várias vezes no livro como esse poema se recusa a falar quase qualquer coisa. Tinha uma pedra no meio do caminho, que tamanho? Era alguém que tinha? Que caminho é esse? Ela ainda tá lá? Etc etc, então acaba que se você se relacionar por tempo suficiente, você que vai impregnar o poema com sua humanidade, e se relacionar por tempo suficiente com ele não é tão difícil, já que são versos tão fáceis de se lembrar, e que num primeiro momento possuem uma graça, “uma poesia gozada”.
Enfim, mesmo se só levarmos as palavras simples do autor, de como é um poema que quer passar a sensação de monotonia, se você tem qualquer carinho ou paixão pela poesia de Drummond, esse livro só tem como fortalecer essa poesia. E se metermos a intenção do autor no bolso, esse livro engrandece ainda mais a já gigante poesia de Drummond.
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