spoiler visualizarThiago Barbosa Santos 04/06/2020
Caso complicado
Mais um excelente romance policial do agora saudoso Luiz Alfredo Garcia-Roza. É um caso bastante complicado até mesmo para o esperto delegado Espinosa, uma história que envolve traição, trauma de infância e alguns desdobramentos em torno de um crime cuja investigação parecia não ter muito fôlego por conta da ?relevância? social da vítima. Mas protagonista do autor nunca abandona uma investigação.
Em uma noite de muita chuva, acontece um jantar comemorativo entre pessoas influentes na sociedade carioca. Do lado de fora, um sem-teto é morto com um tiro no peito. Ninguém viu, ninguém reparou em nada. O caso tinha tudo para ser arquivado, mas Espinosa foi atrás e começou a fazer os primeiros levantamentos. A vítima tinha uma perna amputada, usava muletas. O delegado levantou a lista dos convidados e foi inquirindo, conseguiu pouquíssimas informações.
Entre os que conversaram com Espisona, estavam o casal Aldo e Camila. O rapaz era um arquiteto de sucesso, tinha um escritório em Copacabana. A moça era psiquiatra, tinha um consultório no Leblon. Os dois tinham duas filhas e uma vida aparentemente perfeita, mas desde aquela noite Aldo não era o mesmo, andava sempre aéreo, preocupado, confuso e na defensiva.
Com a chuva que caía naquele dia, ele deixou a mulher esperando na porta do local e subiu a ladeira da rua para buscar o carro que estava estacionado. Ele alegou para Espinosa que não viu a vítima, mas pouco tempo depois o procurou dizendo que, na verdade, havia visto e mentiu.
Aldo estava perturbado, alegou que tinha lapsos de memória que o impediam de lembrar direito tudo o que aconteceu naquele dia. Ele estava também cada vez mais esquivo, distante da família. Camila, com jeitinho, tentava ajudar o marido, ao passo que era sempre convidada por Espinosa para prestar mais esclarecimentos e ajudar a explicar o comportamento estranho do marido.
Enquanto isso, Aldo começa a se envolver com uma colega arquiteta, que trabalha com ele no escritório. Tempos depois, a esposa dele aparece morta em seu consultório, nua, sem nenhuma marca de violência.
Espinosa fica ainda mais envolvido na história. Será que um crime tem relação com o outro. O assassino do sem-teto é sim Aldo. O homicídio aconteceu motivado por um trauma de infância dele. A vítima, quando ele ainda era criança, deu um soco violento nele. Aquilo o perturbou, a ponto de ele ficar apavorado quando acaso encontrava o seu algoz, alguns anos mais velho e na época bem mais forte que ele.
Anos depois, o reencontro ocasional, ele olhando fixo para Aldo (será que o reconheceu), em uma condição fragilizada, sem uma perna, pedindo comida. O arquiteto pegou uma arma no porta luva e atirou no antigo desafeto.
Ao longo das investigações, Espinosa descobre que a amante de Aldo era paciente de Camila e foi a última que ela atendeu até ser achada morta no consultório. Os dois sumiram.
Espinosa seguiu com as investigações e concluiu que ele de fato matou o sem-teto e que Mercedes também participou da morte de Camila, com quem teve também uma experiência amorosa. Ela era atendida com um nome falso, e Camila não sabia que a paciente trabalhava com o marido.
Espinosa se viu sem saída porque, apesar de sua teoria ser muito próxima da realidade, faltavam provas consistentes. Com todo aquele turbilhão, o arquiteto deu uma surtara e precisou ser internado, dias depois, antes mesmo de o delegado procurá-lo novamente, foi encontrado enforcado no hospital.