Blog PL 31/08/2014
Com uma premissa boa, mas mal desenvolvida demais.
A Hora da Verdade conta a história de Rafaela e Fabiana Donelly, duas irmãs que, na casa dos vinte anos, ainda sofrem com o pai super-protetor. O pai das moças é um homem muito rico, mas igualmente controlador: Rafa e Fabi sempre viveram escondidas da sociedade, pois o pai nunca quis que soubessem que ele possui família o que, na opinião dele, as protegeria. Elas tem apenas o direito de ir e voltar da faculdade, e são constantemente vigiadas por um segurança – além disso, vivem em uma casa ao lado da do homem, que é ligada pelos fundos a casa dele.
Entre anos e anos vivendo dessa maneira, em uma tarde as irmãs resolvem se revoltar contra o pai. Depois de algumas confusões, elas despistam o segurança e “provam” que não há como um simples guarda-costas protege-las. Quando, irado, o pai resolve trancar a faculdade das jovens e prendê-las em casa, eis que Fabi e Rafa conseguem criar um plano e, com sucesso, fazer o pai deixá-las viajar para longe por um tempo.
Com apenas um trailer e algum dinheiro, elas acabam parando durante o caminho em uma pequena e encantadora cidade, Bella Ciudad, na divisa do Brasil com o Uruguai. Adorando a atmosfera da cidadezinha, elas resolvem ficar em um hotel por alguns dias – e é já na primeira noite que, em uma festa, conhecem os irmãos Leonardo e Hector Martins. Os irmãos Martins são uma espécie de “anjos da guarda” da Bella Ciudad, e, bonitos e ricos, não demoram muito para conhecerem Rafa e Fabi.
Depois de uma noite de festa e felizes por terem se divertido, as irmãs voltam ao hotel, mas é a partir daí que a confusão começa a se desenrolar: Hector e Leonardo recebem várias ligações, no dia seguinte, sobre o dinheiro que Fabi e Rafa distribuíram pela cidade ser falso, além de serem acusadas de terem roubado uma fazenda. É nesse ponto que Leo decide tomar uma providência, e os irmãos prendem as meninas em sua fazenda até que elas confessem os crimes.
Quando recebi A Hora da Verdade, e preciso ser franca ao dizer, esperava algo completamente diferente do que encontrei. A obra me pareceu um romance doce, mas com um bom mistério, ou até mesmo uma espécie de new-adult, e estava ansiosa para a leitura. Infelizmente, deparei-me com algo nos padrões que havia pensado, mas com um desenvolvimento completamente diferente do esperado. Não via a hora de realizar a leitura, contudo, quando comecei, acabei me decepcionando com a história que encontrei.
A narrativa do livro é em terceira pessoa, e eu geralmente prefiro narrativas desse modo. Todavia, algo no modo como A Hora da Verdade foi narrado não funcionou desde o início do livro, em minha opinião. É algo difícil de expressar corretamente, mas tentarei ser clara: ao mesmo tempo em que a autora consegue descrever detalhes perfeitamente, e nos transporta ao cenário que está narrando, toda essa magia é quebrada quando os personagens falam. Em diversos trechos do livro me deparei com falas artificiais, forçadas ou infantis demais para personagens que já eram adultos.
Isso acabou deixando uma impressão ruim, pois, durante grande parte do livro, tudo pareceu forçado, orquestrado demais. Já tive certo receio com a história assim que ela foi apresentada, e não consegui me deixar ser convencida pelas inúmeras situações apresentadas, a começar pelo pai de Rafa e Fabi. Ter duas filhas, mas mantê-las escondidas de tudo e de todos “para a própria proteção”? Fiquei imaginando como duas mulheres feitas, crescidas, simplesmente aceitam isso pela vida inteira. Além disso, que tipo de mãe deixa as filhas viverem desse jeito, calada e submissa ao marido?
As atitudes das meninas foi outro fator que não me agradou de maneira alguma. Eu já havia achado-as fúteis demais em um primeiro momento, e, no decorrer da história, preciso dizer que nenhuma de suas atitudes me fizeram mudar de ideia. Em certos momentos elas agiam como duas crianças, o que é inaceitável – em minha opinião, é claro – para mulheres de vinte e poucos anos. Mas, o que mais me deixou abismada foi a velocidade (relâmpago!) com a qual elas se apaixonaram. Resumindo: em alguns momentos, me senti como se estivesse lendo uma fanfiction.
Fabi e Hector se declaram apaixonados na primeira festa que se veem. Não há um desenvolvimento, eles mal chegam a se conhecer. Simplesmente, em um momento não fazem ideia de que o outro existem, e, no outro, se amam. Posso estar sendo um pouco cética agora, admito, mas não consigo entender como alguém pode amar uma pessoa que sequer conhece. É claro, certamente existe atração a primeira vista; mas amor? Sem conhecer as manias, a personalidade da outra pessoa?
Todos esses fatores foram se acumulando, e a história transcorre basicamente dessa maneira até quase o final do livro. Esse foi um fator me incomodou amplamente, já que tive muita dificuldade em prosseguir com a leitura até chegar as cinquenta páginas finais. Como podemos perceber pela sinopse da obra, A Hora da Verdade é um romance que traz vários mistérios, e é então, nesse fim, que nos é dada a solução para eles.
Vendo pelo lado positivo, algo surpreendente é a forma como tudo está entrelaçado, e gostei da maneira como são dadas pequenas pistas ao leitor durante a leitura, mas somente no final sabemos o que realmente aconteceu. É uma conclusão que conseguiu me surpreender, e me deixar curiosa para ver como tudo de resolveria. Conforme os segredos são revelados, a história se agita e vai se tornando mais prazerosa – infelizmente, isso é algo que somente aconteceu bem no finalzinho do livro.
O design do livro por conta da Editora Modo ficou lindo – adorei o trabalho, especialmente, da diagramação. Cheio de detalhes no começo da cada capítulo, é um livro realmente belo, e acredito que a capa também tenha retratado perfeitamente a história. É um livro curto, com pouco mais de 200 páginas, e, durante a leitura, não me deparei com erros significativos de revisão ou ortografia.
Por fim, não afirmo que A Hora da Verdade é um livro ruim, mas acredito que poderia ter sido muito melhor desenvolvido. Gostei bastante da ideia da autora, mas, infelizmente, não foi uma leitura que fluiu da maneira que deveria. Resumindo; alguns momentos deixaram, sim, a desejar, mas também a trechos muito fofos e engraçados no transcorrer da história.
É uma leitura mais leve, um tanto superficial, simples e fácil de compreender. A Hora da Verdade não foge de alguns clichês, e é o tipo de história que te distrairá perfeitamente por algumas horas. Recomendo especialmente para quem procura uma leitura para espairecer, suspirar e dar algumas risadas.
Veja a resenha completa em: http://palaciodelivros.blogspot.com.br/2014/08/resenha-hora-da-verdade-neiva-meriele.html
Resenha por Gabrieli Prates
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