Naty 24/01/2011www.meninadabahia.com.br
Perfeito! Este livro é fabuloso. E, por incrível que pareça, a história se passa num único dia.
Segunda feira, a primeira segunda feira de dezembro. O dia mais esperado do ano chegou. Dia do Clube do Biscoito. Enquanto Marnie, biscoiteira-líder, prepara seus biscoitos e arruma a casa para receber as amigas, relembra o quanto elas são importantes para sua vida.
Apesar de voltar no tempo e lembrar-se do passado com as amigas, Marnie não consegue esquecer o presente e com ele o drama familiar: sua filha mais velha está grávida. Na verdade é a quarta gravidez. Ela e o marido, coincidentemente, possuem um gene raro, que combinados causam deformidade no feto. O bebê tem 50% de chance de nascer normal. Mas 50% de um jogo de dados. A cada jogada o dado é solto e a sorte está lançada. A sorte não sorri para ela. Primeira gravidez, uma alegria. Mal se recupera da novidade e sofre um aborto. Segunda gravidez, mesmo problema. Terceira gravidez... passam-se um, dois, três, quatro meses. O bebe está bem, ufa.
Prestes à dar a luz, no oitavo mês, descobre que o bebê está morto. O bebê esta apodrecendo dentro dela e ela não pode fazer nada, resta apenas esperar as contrações e parir um natimorto. Agora está grávida novamente, está esperando o resultado do exame que atestará a saúde perfeita de sua bebê. Marnie está com o coração pesado, não consegue parar de pensar em sua filha e na netinha que está para nascer.
Em meio ao devaneio a porta se abre, sua amiga Charlene é a primeira a chegar. Charlene está passando por um momento muito delicado de sua vida. Perdeu o filho, seu lindo e inteligente filho. Não há dor pior no mundo do que perder um filho. Chorou meses a fio, depois parou, não tinha forças para chorar. Rezava, acendia incensos, velas... tinha esperança de ver o filho, em espírito, nem que fosse uma única vez. Não acredita em anjos, mas tem certeza que o filho está próximo, cuidando dela.
' - Não posso chorar com meus filhos, eles ficam assustados, como se houvessem perdido Luke e a mim também. Como se eu fosse chorar para sempre. – Ela morde o interior do lábio e seus olhos se enchem de lágrimas. – Diane está determinada a curtir tudo o que os adolescentes devem curtir: festas, namorados, jogos de futebol americano. Na maior parte do tempo, ela está na rua com os amigos. Imagino que seja sua forma de lidar com o assunto. Uma vez, quando eu estava chorando, Adam me perguntou se eu queria me juntar ao Luke. “Não ainda. Não agora”, eu disse a ele, mas me pergunto se sua depressão não é uma forma de estar com Luke. Ou sua maneira de me manter aqui... Não tenho nada a fazer a não ser continuar me arrastando, de algum jeito. – Ela para, fecha a boca e fica imóvel, como se ouvindo a música tocando ao fundo...
- Merda. Não sei como te ajudar.
- Você se senta ao meu lado e me ouve e chora comigo. É tudo o que há. É amor.'
pg. 61
A dor ainda é muito profunda, talvez a nunca passe. Mas se alguém pode injetar ânimo e colorir sua vida, esse alguém são suas amigas. Ela jamais poderia faltar a uma reunião do clube.
Uma a uma, as outras amigas vão chegando. Cada uma carregando consigo uma história de vida e, claro, deliciosos biscoitos.
Como todo clube que se preze, o Clube do Biscoito, tem regras. Regras básicas como: apenas doze participantes, cada participante têm que levar treze dúzias de biscoitos em embalagens bonitas. Uma dúzia para cada integrante. A décima terceira dúzia será doada para uma casa de caridade.
Ah, importante lembrar a primeira regra: todas devem compartilhar a história do biscoito do ano.
'- Nós no revezamos distribuindo os biscoitos. No primeiro ano em que o fizemos, todas começaram a entregar os biscoitos simultaneamente. Se você consegue imaginar doze pessoas repassando treze saquinhos de biscoitos, pode imaginar o desastre que foi. Passamos horas desvendando quem estava com os biscoitos de quem. Então, resolvemos entregá-los uma de cada vez e, como cada uma de nós havia gastado tempo para fazer treze dúzias de biscoito, deveríamos falar alguma coisa sobre aquele biscoito particular. É nossa maneira de reverenciar o esforço de cada mulher. Faz com que o biscoito e o trabalho envolvido nele sejam especiais. Essa, acredito, foi a primeira regra.'
pg. 90
Ann Pearlman escreve com tanta doçura e naturalidade que, eu juro, conheço cada personagem há muito tempo. São histórias tão vívidas que é impossível não se emocionar com o drama da filha de Marnie ou a tragédia de Charlene. Ou com Rosie que descobriu que o pai tem um caso com sua melhor amiga e está no meio de uma encruzilhada: contar ou não à mãe? Ou com Taylor que foi largada pelo marido. Cheia de dívidas, foi obrigada a sair de casa com os dois filhos pequenos, sem um tostão no bolso. Graças às amigas do Clube do Biscoito conseguiu um lar temporário e comida pros filhos. Sete das doze amigas tiveram câncer... realmente impressionante, e todas superaram essa doença horrorosa.
O Clube do Livro (Bertrand Brasil, 294 páginas, R$ 39,00) daria um ótimo book tour, até sugeri para uma amiga que comanda uma comunidade de livro viajante no skoob. Bem, entrei fielmente no espírito da história e resolvi fazer uma das receitas do livro e contar a minha história desse ano.
Esse ano ando pensando muito em vida e morte. Sou do signo de Virgem e como tal não gosto muito de mudanças. Não gosto de mexer no que está dando certo, talvez seja medo. Mas, resolvi abrir a mente, e pedi demissão de um emprego de quase dez anos. É, precisei pensar muito, criei coragem e puf... embarquei num novo emprego.
Esse novo emprego não é ruim, mas toma todo meu tempo. Entro às 8h da manhã e não tenho horário para sair. Por isso ando um pouco ausente no twitter e msn. Fico pensando se valeu à pena ter trocado de emprego. Não quero voltar atrás, mas queria mais tempo para mim. A vida acaba num piscar de olhos... o que me faz lembrar o por que esse ano penso em morte, também.
Uma amiga, que mora perto de minha casa, tem apenas 33 anos, tem dois filhos lindos, de 9 e 3 anos, está com câncer. Descobriu há um ano. Esses dias, a mãe dela, desesperada, foi ao médico e pediu que ele a colocasse num soro (ela não consegue comer, está com 28 kg, não anda, não fala) e ele lhe disse: Para que prolongar mais o sofrimento de sua filha?
Minha mãe não consegue dormir à noite, ela me diz que enquanto há vida há esperanças, mas minha amiga sente dores terríveis e a mãe dela reza para que Deus a leve logo e a livre do sofrimento, ao mesmo tempo em que não se conforma com sua perda. Ela é muito jovem.
O padre foi vê-la. Sua família está toda reunida esperando o fatídico dia. Me coloco no lugar de minha amiga e imagino: Como será esperar a morte chegar? Acredito que ela não chore por falta de forças.
Ei, você que está lendo esse post, não vale chorar!!!! Deixa que eu me encarrego disso, sou uma manteiga derretida.
Nessas horas tudo que há de importante são família e amigos. Eu, graças a Deus, sou abençoada. Cultivei ao longo dos meus 28 anos, algumas amizades verdadeiras. Coincidentemente, recebi na sexta, uma caixa da Luka (Alê não fique com ciúmes, te adoro também), ela me enviou uns mimos e uma carta tão linda, que até minha mãe se emocionou ao ler. Sou abençoada e agradeço todos os dias pelos amigos que tenho.
Agora vamos aos biscoitos e deixar a tristeza um pouco de lado.
Sou péssima cozinheira, enquanto fazia os biscoitos minha mãe fiscalizava, acho que estava com medo da cozinha pegar fogo, rs. O legal é que foi um evento que reuniu toda a família. Meu pai foi comprar os ingredientes, minha mãe me ajudou na hora de cortar a massa com o molde (nos divertimos que nem criança) e minha irmã ficou de olho no forno.
Fiz a receita da Rosie (capítulo 3) modificando apenas a decoração. A massa leva um pouco de essência de baunilha. Quando retirei os biscoitos assados do forno subiu um cheiro tentador. Pearlman conta que a baunilha é afrodisíaca e aumenta os níveis de adrenalina. Os antigos acreditavam que a baunilha era tão poderosa que curava até impotência. Marnie costuma usar extrato de baunilha como perfume, e nos relembra:
'Não era isso que Scarlet O’Hara usava para seduzir Rhett Butler?'
pg 172.
Biscoitos prontos e decorados (não ficou perfeito, rs, ainda sou aprendiz). Entreguei doze sacolas a doze vizinhas e a décima terceira entreguei à carteira. Fiz minha parte, com muito prazer.
O Clube do Biscoito merece ser lido. Recomendo e digo mais: depois que lê-lo, com certeza, algo dentro de você mudará. E para melhor.
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Para visualizar a foto do biscoito que fiz: http://www.meninadabahia.com.br/2011/01/o-clube-do-biscoito-ann-pearlman.html