A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy

A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy Laurence Sterne




Resenhas - A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy


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Joao 13/03/2011

Um livro do cara que inspirou Machado de Assis em seu Brás Cubas, e influenciou até James Joyce não deve ser deixado de lado sem ter se dado ao menos uma olhadinha. Pois bem; abri numa página qualquer do começo do livro e me deparo com isso:
"Àqueles, todavia que preferem não remontar tão longe nessas particularidades, o melhor conselho que posso dar é pularem o restante deste capítulo, pois declaro antecipadamente tê-lo escrito para os curiosos e os indriscretos.
_________________________Feche-se a porta___________________________"

Achei curioso. Nunca tinha visto nada parecido.
O título do livro deixa pressuposto que leremos sobre a vida e opiniões dum cavalheiro chamado Tristram Shandy, mas não é bem isso que vemos. Tristram Shandy - que é o narrador - até que expressa suas opiniões, mas os protagonistas do livro acabam sendo seu tio e seu pai. Não há nada de errado com o título: ele até tentou contar sobre a própria vida, mas ele abre tantos parênteses para explicar certos fatos (como o que sua mãe disse na noite em que foi gerado, a história da parteira, ou do Yorick, as excentricidades do pai e do tio), e corta a história tantas vezes para relacioná-la com outra ou só para fazer comentários e falar com o leitor, que o livro se desvia completamente e só captamos parte de sua infância.

As divagações e explicações de Tristram ocupam mais espaço do que a história em si - e acaba frustrando (e divertindo, como no meu caso) o leitor com tanta ladainha. Só como exemplo: no capítulo 21 do volume I, o pai e o tio de Tristram aguardam com certa angústia o seu nascimento; neste ponto a narrativa é desviada para explicar certas coisas que, segundo o narrador, são imprecindíveis para o entendimento do porvir e somente no capitulo 6 do volume II é que voltamos à cena narrada ( ele interrompe seu tio no meio de uma frase que só é completada 30 páginas depois!).

Porém as divagações não são tudo. No meio da história, ainda encontramos referências filosóficas, explicações do narrador sobre fatos secundários, dedicatórias a nobres cavalheiros que estejam interessados (se pagarem 50 guinéus - "20 guinéus menos do que aquele a que poderia dar-se o luxo um homem de gênio"), contratos, sermões, textos em latim e francês, um página em branco, para desenhar a mulher mais graciosa que imaginar, prefácio do autor (no meio do livro) e até um capítulo retirado pelo narrador, por não estar no mesmo nível dos outros (por este estar com qualidade superior, o que desequilibraria o livro).

Sterne escreveu um livro irregular e fragmentado. José Paulo Paes nos adverte no prefácio que Sterne tinha um certo "horror" ao romance linear - coisa com qual Tristram brinca no volume VI ao desenhar "linhas" que demonstram o andar do livro.

Devido ao horror à sistematização do romance, muita gente acaba se impacientando - mas também é isso que faz tudo ficar divertido:

" Não é vergonha dedicar dois capítulos inteiros ao que aconteceu durante a descida de um par de degraus? Pois não ultrapassamos ainda o primeiro patamar, há ainda quinze degraus até o pé da escada; e pelo que sei, como meu pai e o tio Toby estão com vontade de conversar, talvez haja tantos capítulos quanto degraus;-- seja como for, senhor, não posso evitá-lo, assim como não posso evitar o que o destino me destina.(...)
Tivesse eu o diabo de qualquer outra regra para guiar-me neste assunto - e lá tenho alguma, - como faço todas as coisas sem regra nenhuma- eu entortaria e a faria em pedaços, atirando-a depois ao fogo. -- Estou por acaso arrebatado? Estou sim, já que o assunto o exige. -- Bela história! Cumpre ao homem seguir regras - ou às regras segui-lo?"

Aurélio prof Literatura 03/01/2018minha estante
Ótima resenha. Parabéns!!


Amanda 27/06/2019minha estante
onde você conseguiu o exemplar do livro?




Daniele 26/12/2023

Laurence Sterne, irritando seus leitores desde 1759
A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy é uma história sem começo, meio e fim. Escrita como uma autobiografia, Tristram Shandy, narrador e personagem principal, tenta descrever sua vida desde sua concepção ao longo das páginas. Tenta, e falha miseravelmente.
Logo no início do livro somos apresentados às personagens do pequeno círculo de convivência de Tristram, cada um com suas mais estranhas peculiaridades. Começando pelo pai de Tristram, descrito como alguém extremamente supersticioso e cheio de manias, como por exemplo a de dar corda no relógio todo primeiro domingo de cada mês. O curioso é que também deixava para esse mesmo período "outros pequenos cuidados familiares". Bom, a partir daí Tristram descreve sua atrapalhada concepção, que é interrompida por sua mãe perguntando ao seu pai se este já havia dado corda ao relógio. Tal fato é criticado por Tristram, já que a seu ver, essa ação deveria ser feita com muito mais cuidado e atenção, pois poderia definir ?talvez o seu gênio e a própria disposição de seu espírito?.
Ao seguir a história, somos então levados a diversas e infinitas digressões, recurso básico que será utilizado durante todo o livro, o que marcou a criação de Laurence Sterne como obra-prima, afastando-se dos gêneros literários em alta da época. As digressões, embora irritantes e confusas em primeiro contato, trazem o alívio cômico e a sátira que tornam o livro único e incrível. Tristram Shandy irá de fato nascer somente páginas e páginas a frente, póstera a uma longa narração que irá incluir o Tio Toby e seu companheiro Cabo Trim, também personagens cheios de manias e hobbies, os chamados ?cavalinhos de pau?.
Um diálogo em que particularmente quase chorei de rir foi um descrito na pagina 628, quando o Tio Toby pede para que o Cabo Trim conte a ?História do Rei da Boêmia e de seus sete castelos". Graças aos seus devaneios e discussões acerca dos detalhes, começam-se inúmeras tentativas falhas do Cabo Trim para conseguir contá-la. Chegamos então na página 652 com o seguinte diálogo:
"Que aconteceu com essa história, Trim??
?Nós a perdemos, com perdão de vossa senhoria, nalgum ponto do caminho"
Ou seja, as digressões e os devaneios foram tantos, que a história simplesmente se perdeu no meio do caminho sem ser finalizada, trazendo mais uma vez a jocosidade tão presente nessa obra.
Ao ler Tristram Shandy somos bombardeados por páginas em branco, asteriscos e travessões substituindo nomes e lugares, Tio Toby assobiando lilliburlero a cada 10 páginas, além de claro, as digressões sem fim. Definitivamente as vezes a vontade que dá é de jogar o livro pela janela, mas sem antes uma pausa para refletir sobre o quão genial ele consegue ser. É obvia a intenção de Laurence Sterne em causar essa reação nos leitores, e saber disso só mostra ainda mais a genialidade do escritor. É um livro que deve ser lido por sua excentricidade, com consciência e desejo disso. Não espere apenas uma simples história de comédia, pois vai muito além.
Minha felicidade em ver essa obra sendo lançada novamente foi imensa. Há quase 10 anos li um livro que continha uma citação de Tristram Shandy e fiquei obcecada com a ideia de ler esse livro. Não é de se esperar que ao perceber que na época os únicos livros a venda eram usados e caríssimos, minha reação foi a de extremo descontentamento e frustração, mas felizmente a editora penguin FINALMENTE resolveu comercializá-lo novamente.
Obrigada, editora penguin!

Dica: Ao ler o livro, por favor, ouçam Lilliburlero (ou Lillabullero, como preferir).
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Santos 30/04/2021

Sempre faz o leitor se questionar
Como ele conseguiu escrever esse romance sem pé nem cabeça, que não tem inicio nem fim eu nunca vou entender, mas é uma obra que inspirou muitos autores e lembra muito Machado de Assis.
A história do Tristam é a história da própria história (só faz sentido pra quem lê) basicamente o autor te leva a muitos lugares e a lugar nenhum, te confunde e depois volta atrás, as vezes fala dele, as vezes de outras histórias.
O autor é famoso por usar duplo sentido e isso faz com que a gente as vezes pense que o que ele escreve não tem sentido nenhum.
Uma sátira a tudo, a sociedade, aos escritores, personagens. Parece difícil mas não é, queria ter lido antes.
Daniele 31/05/2021minha estante
Onde vc conseguiu sei exemplar?


Daniele 31/05/2021minha estante
Seu*




Peter.Molina 23/11/2023

Pouca vida e muitas opiniões
Este livro curioso escrito em meados do século XVIII, se propõe a contar a vida de Tristram pelo mesmo, desde a sua concepção, mas a narrativa é entremeada por várias digressões, histórias, anedotas e interações diversas entre os demais personagens, que praticamente da vida dele mal sabemos após o inicio da infância. Acredito que o sucesso do livro seja pela forma original como foi escrito,com páginas em branco, outras totalmente negras, cheio de asteriscos e travessões, ou seja, algo inédito para aquela época. A tradução é primorosa, mas para uma compreensão melhor do texto é imprescindível ler as notas, porque muito do humor é em duplo sentido,e para nós não faz sentido nenhum. O tradutor vai explicando o sentido que o autor quis empregar em várias passagens. Um livro diferente, original, mas que carrega a sua dificuldade pois a narrativa é constantemente fragmentada.
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'DANIEL-DANIEUS' 23/03/2019

Porquê Sterne é style ?
Laurence Sterne para aquele que não o conhece devidamente é um dos maiores escritores de todos os tempos, o primeiro autor em um sentido mais profundo à parodiar o leitor conjuntamentecom seu herói Tristam shandy, basicamente, o que Machado de Assis faz em Brás Cubas é uma paródia tendo Tristam shandy e Schopenhauer como base literária
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Diego Rodrigues 17/10/2022

Você vai rir / você vai querer tacar o livro na parede
Nascido em 1713, na Irlanda, Laurence Sterne foi um escritor e pastor anglicano. Iniciou sua carreira literária em 1759, com a publicação do panfleto "A Political Romance". Neste mesmo ano começou a redigir aquela que viria a se tornar sua maior obra, responsável por alçá-lo ao status de celebridade na capital inglesa e por gravar o seu nome entre os principais escritores do século XVIII. Publicada em nove volumes entre os anos de 1760 e 1767, "A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy" é uma paródia que subverte totalmente os conceitos do romance. A obra é tida como precursora do fluxo de consciência e, usando de ferramentas como humor chulo, capítulos em branco, pontuação inadequada, prefácio no meio do livro e infinitas digressões, brinca com as formas do romance convencional. Os ecos de sua influência podem ser sentidos em autores que vão desde James Joyce ao nosso saudoso Machado de Assis, passando por Virginia Woolf, Samuel Beckett e outros grandes nomes.

A obra, como era de se esperar, causou rebuliço no meio literário, mas acabou, com seu humor peculiar, caindo nas graças da sociedade inglesa. Comparado a "Dom Quixote", o livro nada mais é que a autobiografia de um cavalheiro que, sempre disposto a esticar a conversa e com certa aversão a linha reta, é acometido pela mais extrema incapacidade de se chegar aonde se quer. Como resultado, temos uma narrativa repleta de parênteses, hesitações, desvios de assunto, e claro, muito bom humor. Shandy começa a contar sua história antes mesmo de seu nascimento, tendo como protagonistas duas figuras pra lá de engraçadas: seu excêntrico pai, dado a superstições e teorias absurdas, e seu tio Toby, um ex-militar que parece ter ficado com um parafuso a menos após ser ferido em batalha. Quando essa dupla entra em cena, é gargalhada na certa. Os diálogos são impagáveis!

Mas nem tudo é risada. Um dos objetivos do livro é irritar o leitor, e sim, ele consegue! As intermináveis digressões, os capítulos inteiros dedicados, por exemplo, a narizes ou a casas de botão, a narrativa labiríntica que causa vertigem... Acredite, em alguns momentos você irá sentir vontade de tacar o livro na parede! O início, pincipalmente, é bem confuso. Leva um tempo para se acostumar com a escrita e para entender que o autor só está tirando uma com a sua cara, e o faz com maestria. Quando estamos diante de um clássico, é natural que nos preparemos para uma leitura mais séria, certo? Esqueça isso! O conselho que dou é o seguinte: relaxe e não leve o livro tão a sério, encare como sentar para assistir a uma comédia antiga no melhor estilo pastelão.

site: https://discolivro.blogspot.com/
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bardo 16/03/2024

A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy de Laurence Sterne provavelmente é um dos livros mais surreais já escritos. Lamentavelmente essa obra que em seu tempo foi escrita para ser popular, hoje se torna restrita a um tipo muito particular de leitor. Então antes de demonizá-la o leitor interessado deve estar preparado para uma obra absolutamente inglesa (o fato de seu escritor ser irlandês de nascimento pouco importa).
O sarcástico e peculiar humor britânico atravessa a obra, é como se estivéssemos lendo um ancestral do Guia do Mochileiro das Galáxias ou um episódio gigante de Monty Phyton. Para os fãs desse tipo de humor é um deleite, para os demais pode ser um pouco sofrido. Cabe dizer também que o leitor pudico, aquele que tem coceiras a menor insinuação sexual deve fugir desse livro.
A despeito de Sterne ter sido um pároco e do seu leitor imaginário ser uma mulher, o autor não se furta a um festival de insinuações, duplos sentidos e as vezes piadas abertamente sujas. A tradução primorosa de José Paulo Paes busca preservar essa característica do texto original, e caso algo passe desapercebido as inúmeras notas ajudam a elucidar. O leitor em mais de um ponto passará do estranhamento com uma passagem às gargalhadas ao ler os esclarecimentos e reler.
Apesar da leveza e bom humor não é um livro fácil, principalmente se o leitor não se render a proposta do autor. O que temos é uma paródia ao romance e deve ser lida como tal. O narrador dá algumas pistas desse objetivo em suas inúmeras referências a Dom Quixote. A despeito do anacronismo é como se estivéssemos lendo um Dickens desbocado e imensamente conversador. O autor debocha sem dó de assuntos como virilidade, guerras, política, maledicência, a soberba dos intelectuais e seu desligamento da realidade, crítica literária, nem o próprio leitor escapa às opiniões ferinas do protagonista.
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Marcos606 22/03/2023

Extremamente experimental para a época, Tristram Shandy parece quase um romance moderno de vanguarda. Narrado por Shandy, a história começa no momento de sua concepção e se desvia para intermináveis ​​digressões, interrupções, histórias dentro de histórias e outros dispositivos narrativos. O foco muda das fortunas do próprio herói para a natureza de sua família, ambiente e hereditariedade, e as relações dentro dessa família oferecem imagens repetidas de desvinculação e desconexão humana.
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Supercut09 23/08/2022

Confusões na mente de Tristam
Entendo que e um livro de opiniões sobre o Tristam( como se refere o título) mas mesmo assim não esperava tanta confusão narrativa e descritiva. O autor não conseguia seguir com uma narrativa linear(mesmo que tentasse muito) e muitas das vezes acaba ele mesmo perdido no meio de tantas explicações.

Talvez esse seja o charme do livro e que eu não consegui aprecia-lo corretamente.

O livro não e ruim muito pelo contrário, mas eu esperava outra coisa. Culpa minha por ter lido o livro com muitas expectativas.
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Fernanda Melo 29/12/2023

Digressão e mais Digressão
Esse foi por vc, Machadão?
O livro poderia ter,fácil, 200 páginas a menos. Como grandes autores "beberam" dessa fonte é importante conhecer a obra (até pra criticar com propriedade rsrs). Na minha humilde opinião, Machado de Assis leu esse livro, achou pontos interessantes, pegou eles e os melhorou e muito criando o maravilhoso Memórias Póstumas de Brás Cubas.
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