Os despossuídos

Os despossuídos Ursula K. Le Guin...




Resenhas - Os Despossuídos


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Marcelo Dakí 12/12/2023

Um dos melhores títulos em ficção científica que já li
Apesar da leitura ser arrastada no início, após o primeiro ato o leitor já se habitua ao universo proposto por Le Guin. Os desenlaces políticos das nações e a maneira como afetam as subjetividades individuais são conduzidos com maestria pela mão da autora. Recomendo Os Despossuídos sempre que tenho chance.
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Amanda.Moreira 26/01/2023

Um livro bem diferente do que eu estou acostumada, tive que ler bem lentamente pra entender tudo do que foi dito e tenho certeza que deixei passar informação. Aprendi um novo modo de vida que achei muito interessante, porém mais pro final do livro fiquei com um pouco de preguiça do protagonista por uma atitude que ele tomou e por isso demorei muito pra terminar de ler.
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Pamella.Priscila 14/10/2022

Gostei
A leitura foi boa, me senti como o personagem que tinha tudo mas no fundo nada lhe pertencia, como o título já diz.
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Barbara.Pinheiro 03/10/2021

Boa leitura
É uma boa leitura, só não gostei das partes que se aprofundam em física porque não é um assunto que me interessa e nem tenho vontade de aprofunda-lo nesse momento, acredito que dar uma ideia do que seria a questão da física dentro do enredo deixaria a leitura mais fluida para todas as pessoas.
Para além disso é uma leitura que pontua muito bem as questões capitalistas e anarquistas, de uma forma parcial eu diria, talvez a intenção do livro mude de leitor para leitor.
A autora aprofunda bem a diferença de cada sistema e a interferência nas relações sociais e pessoais, as diferenças de prioridades.
É uma leitura interessante para reformular algumas questões sobre nossa sociedade.
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pulsaodemorte 20/02/2021

Esse é um ótimo livro, é um bom retrato do contexto histórico em que foi escrito. O enredo é bem curioso e fluido. As questões filosóficas presentes são excelente, faz a gente pensar bastante
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Pedróviz 15/11/2020

Mais uma utopia
Comprei este livro pelo Círculo do Livro, motivado pelo resumo, lá pelos dezoito anos. À época, li sem entender muito do que li, pois requer aprofundamento prévio em vários temas ou consultas no Google (não havia...). Mas recordando o enredo e considerando os comentários sobre o livro, eis meu atual parecer.
O livro é mais uma crítica sutil aos Estados Unidos e ao mundo ocidental.
Apesar dessa crítica e dessa ultrapassada utopia juvenil, o livro é bom, descreve a vida como seria numa civilização como Anarres, reúne diversas considerações sobre política, filosofia e física que sinceramente se volatilizaram da minha memória após tantos anos. Seria necessária uma releitura.
Com tantos temas abordados, pergunto-me se a autora tem alguma ideia da vida real nos lugares onde o socialismo / comunismo foi implantado "a pedido do povo" . A utopia de Anarres sendo levada para Urrás é o começo de uma sabotabem cultural, ainda que com a boa intenção de Shevek. Afinal, grandes desgraças na história tiveram origem em boas intenções...
Livro razoável.
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Malu 16/05/2020

Achei esse livro maravilhoso. Várias passagens dele poderiam estar presentes em ensaios de reflexão sobre nossa sociedade, que eu acho que é mais sobre isso que esse livro trata do que qualquer outra coisa: nossa cultura, comportamentos que estão enraizados no quais estamos acomodados o suficiente para achamos que fazem partes de nós, mas que na verdade sao condizentes com o meio em que vivemos.
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Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

Os despossuídos, Ursula K. Le Guin – Nota 7,5/10
A ideia por trás desse romance distópico é sensacional. Dois mundos “vizinhos”, habitados por seres humanos, mas governados de formas extremamente opostas. Em Urrás temos o retrato de uma sociedade capitalista, caracterizada pela desigualdade social, consumismo e privilégios indevidos. Por outro lado, Anarres possui uma estrutura social anárquica, que se desfez de conceitos como profissão, família, casamento e comércio... Ao longo da narrativa, acompanhamos Shevek, a primeira pessoa a viajar de um planeta para o outro em muitas décadas. Shevek, físico e habitante de Anarres, consegue um convite para conhecer Urrás e apresentar seu trabalho aos colegas do planeta vizinho. Lá, o choque cultural é inevitável. São formas de governo – ou não governo – completamente polarizadas, mas ainda assim as duas com seus próprios problemas. Em paralelo à viagem de Shevek, também conhecemos a sua vida, desde pequeno, em uma sociedade anárquica. A escrita é intrigante e a narrativa é bem construída. No entanto, senti um pouco de falta de um aprofundamento mais psicológico dos personagens. Na minha opinião, a autora dá ênfase em algumas passagens que não acrescentam muito à história. Independente disso, trata-se de uma leitura interessante e prazerosa!

site: https://www.instagram.com/book.ster
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Sílvia 16/02/2020

Shevek eu gostaria de conhecê-lo
Que livro bom de se ler. Fica meio desconexo no segundo capítulo até o leitor entender que os capítulos se alternam. Um capítulo com o Shevek adulto e em Urras, e o capítulo seguinte traz a história do personagem em Anarres. O principal tem do livro é o contraste entre capitalismo e socialismo.
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Amós 04/02/2020

Utopias versus Distopias
Ursula K. Le Guin, autora americana famosa por suas muitas obras em mundos fantásticos mas também célebre e várias vezes premiadas por seus livros do Ciclo de Hainish, série de livros de ficção-científica. Nessa realidade, o homem se lançou a exploração e espacial e durante milênios colonizou vários planetas que mantem pouca ou nenhuma relação entre si. Os livros não contam uma história única, mas sim transitam entre esses diversos mundos colonizados e exploram os dilemas dessa sociedade futurista.
Para Além de Mão Esquerda na Escuridão (considerado o magnum opus da autora), Os Despossuídos é um livro que merece destaque por criar uma narrativa altamente cativante e que lança profundas reflexões sobre nossa própria sociedade, nossos dilemas e nossas perspectivas para o futuro. A história trata da relação do planeta Urras e sua lua Anarres, que fora colonizada por anarquistas (ou Odonistas) após serem expulsos do planeta devido a uma tentativa de Revolução. Em Anarres, se constroi uma verdadeira sociedade utópica fundada nos princípios socialistas propagadas por Odo, personagem ausente mas que se faz presente em toda trama.
Numa introdução sem spoilers, a obra segue a Shevek, um físico que habita na lua e que, apesar de ter uma ampla oposição, pretende viajar para Urras e forjar uma elo de comunicação para tirar seu povo do isolamento em que vivem desde o começo do Povoamento de Anarres. Pelo os olhos desse cientista enxergamos o ângulo singular de uma pessoa habituada a uma sociedade sem classes sociais, Estados, hierarquias ou o conceito de propriedade (daí o nome da obra) chegar a um mundo onde o capitalismo é voraz e suas contradições gritantes. A autora também tem a habilidade única de demonstrar seu feminismo através de um personagem masculino que sofre para entender e digerir a sociedade patriarcal a qual Urras está fundada.
Ao lado de obras como Admirável Mundo Novo, Fahrenheint 451 e 1984, Os Despossuídos nos joga num mundo análogo ao nosso e com isso possibilita as mais profundas reflexões sobre nos mesmos: relações pessoais, o Estado, a Econômia e todos esses conceitos que fundamentam nossa realidade. O livro merece a leitura e sem sombra de dúvidas se tornou um dos meus favoritos.
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Michelle Alves 28/05/2017

UTOPIA: UMA JORNADA
Na série de ficção científica denominada Ciclo de Hainish ou Ecumênico, a autora americana Ursula Le Guin explora a ideia de que a sociedade humana se expande através da galáxia em um futuro distante, com livros e contos que exploram os diversos sistemas sociais e políticos, e que discutem sobre as diferenças étnicas, de gênero e o relacionamento dos seres humanos com a natureza.
Todos os povos descendem de Hain – este criou subespécies de seres humanos que foram dispersos em todo o universo – um planeta que apresenta um elevado desenvolvimento tecnológico,. A tecnologia foi usada como meio de colonizar os outros mundos, mantendo assim uma ligação entre eles. Contudo, com o passar do tempo, o contato com as colônias foi perdido e, numa tentativa de reaproximação, criou-se o Conselho Ecumênio. Este último caracteriza-se por ser um consórcio de mundos que se reúnem e tem como objetivo reunir informação sobre outros mundos e civilizações.

Os Despossuídos – primeiro livro na cronologia desse série – , lançado em 1974, é uma distopia que traça um paralelo entre dois mundos habitados por humanos: Anarres, que apresenta uma sociedade anárquica e uma capitalista chamada de Urrás. Abordando temas como sociedades revolucionárias, o isolamento, o egocentrismo, a Teoria da Simultaneidade, a Hipótese de Sapir-Whorf e com pinceladas de feminismo, a história narra a história de um personagem nomeado de Shevek, um físico em Anarres que viaja para trabalhar em Urrás.

“A liberdade é o reconhecer da solidão de cada pessoa que só por si a transcende"

Urrás é um planeta que passou por uma revolução quando um grupo de pessoas se rebelou contra o sistema. Para que não houvesse uma possível guerra, foi aceito que esse grupo fosse transferido para uma de suas luas – Anarres – e assim pudesse criar a sua própria sociedade. Contudo, as relações foram cortadas, e então um muro foi erguido entre essas duas nações. Em uma tentativa de manter relações diplomáticas, Urrás permitiu um cientista estrangeiro (Shevek) viajar e permanecer em seu território com o objetivo de contribuir com o seu conhecimento científico. Esse premiado pesquisador pretende desenvolver um sistema de comunicação sem qualquer intervalo de tempo entre dois pontos no espaço (essa ideia recebe o nome de ansível).
O personagem permeia o tempo todo pela doutrina filosófica científico, demonstrando que a sua principal objeção à essa sociedade é a maneira que os cientistas são tratados: "ser um físico em A-Io não significava servir à sociedade, nem à espécie humana, não à verdade, mas sim ao Estado" (Capítulo 9). E isso nos leva à política em “Os Despossuídos”. Durante a sua estadia, Shevek vai explorando os diversas dilemas daquela sociedade hierarquizada, que, apesar de apresentar avanço tecnológico, vive guerra fria entre duas potências continentais, e ainda não conseguiu superar problemas como, por exemplo, a pobreza.

“Tudo o que a civilização faz é esconder o sangue e encobrir o ódio com belas palavras”

Assim como George Orwell em sua célebre obra “1984”, Ursula parece ser influenciada pelo trabalho dos linguistas americanos Benjamin Whorf e Edward Sapir, que, de acordo com esses linguistas, a linguagem possui o poder de influenciar fortemente a construção do pensamento e na percepção da realidade, moldando assim a visão de mundo do indivíduo. Se na obra orwelliana o idioma criado pelo governo (“novilíngua”) serve para restringir a linguagem para distorcer e eliminar informações reais objetivando manter o controle político e a submissão do povo, aqui a fala é trabalhada em Anarres de forma com que as pessoas aprendam a partilhar e não a “egoizar”, através do não uso do pronome possessivo. Observamos, por exemplo, em trechos que personagens dizem as sentenças “o lenço que eu uso” ao invés de “o meu lenço” e “doía-lhe a mão” e não “a minha mão dói”. Não há possessividade nesse mundo de Shevek, isso nos leva ao entendimento do título do livro: despossuir = desapossar, tirar ou privar da posse, do domínio; despojar; privar; obrigar a largar.
O mais curioso é que essa “novilíngua” de Orwell está sendo comparada ao momento atual do governo Trump recém-empossado dos EUA, evidenciando como as distopias literárias repercutem com o momento político no mundo contemporâneo.

Outro ponto de destaque da obra é a narrativa em capítulos alternados – presente e passado da vida do protagonista – que passa a ideia da teoria da simultaneidade presente na história, onde os vários momentos acontecem de forma simultânea e se influenciam concomitantemente.

A escritora ainda pontua uma crítica ao modo como a mulher é retratada na área da ciência em um dos mundos: tida como incapaz para a área de exatas e um ser não pensante, é subjugada ao seu útero, levando a ficar sem oportunidades profissionais igualitárias ao do indivíduo homem.

Por fim, o livro não é uma apologia ao mundo ideal. Em Anarres – vista pelo protagonista como uma sociedade ideal – a paz e a felicidade não reinam absolutas. O intuito da autora ao final parece ser o de desenvolver o conceito do que é uma utopia. Segundo a ponderação de Ursula K. Le Guin nessa obra, uma sociedade ideal é uma ideia que precisa estar sempre em movimento, que necessita ser sempre discutida, evoluir. Por isso essa ideia não pode ser um ponto final, e sim constituir um horizonte aberto, que deve estar sempre a construir, ou seja, uma jornada.

Eis um pensamento que ilustra a ideia:

Utopia, por Fernando Birri
(apud Eduardo Galeano*)

Eu sei muito bem que nunca a alcançarei,
que se eu caminhar dez passos, ela ficará dez passos mais longe.
Quanto mais eu buscar, menos a encontrarei porque ela vai se afastando à medida que eu me aproximo.

Boa pergunta, não? Para que serve a utopia?

Pois a utopia serve para isso: caminhar.
_______________________
*Galeano, Eduardo. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=9iqi1oaKvzs
Ferreira, Aurélio Buarque de. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
Gonçalves, Rodrigo Tadeu. "Humboldt e o Relativismo Linguístico." Estudos Linguísticos, Campinas 35 (2006): 1700-1709.
Orwell , George. 1984. Companhia das Letras, 2009.
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Davenir - Diário de Anarres 25/02/2016

Uma escrita aguçada e abodagem original sobre Utopia
"Os despossuídos", de Ursula K. Le Guin, é o quinto livro ambientado no mesmo universo (chamado Ciclo de Hainnish) criado pela autora, mas na ordem cronológica é o primeiro. A Le Guin nos conduz a uma viagem por Annares, uma lua onde se "vive uma utopia" anarquista, e seu mundo irmão Urras, dividido por uma guerra fria entre duas potências continentais. As relações sociais desta sociedade utópica passam longe de um binarismo primário. Nem paraíso, nem inferno, mas sim cheia de ambiguidades. É uma pérola humanista que merece uma chance de ser lida.

A história conta a vida de Shevek, um físico da Lua Annarres que viaja para o planeta Urrás. Ele está trabalhando em uma "teoria da simultaneidade" que lida com o tempo, onde passado e presente acontecem ao mesmo tempo. O leitor notará que os capítulos intercalam a viagem de Shevek por Urrás, e outro em Annarres, onde aos poucos nos é revelado os motivos da viagem. Le Guin não deixa pontas soltas e seu livro.
Urrás é um planeta dividido por uma guerra fria entre A-Io, uma potência capitalista (que faz menção óbvia aos EUA) e Thuv, uma potência socialista (por sua vez, URSS). Ambas as potências apoiam lados opostos em uma guerra em um país chamado Benibli, no outro lado do planeta. Esta situação faz menção a a guerra do Vietnã, conflito que acontecia na época em que Úrsula escrevia o livro, e obviamente, a Guerra Fria. Já Annarres, lua orbitante de Urrás, é árida e possuí poucos recursos naturais. Ela foi povoada pelos seguidores de Odo que liderou uma revolução fracassada em Urrás que terminou com um acordo no qual seus seguidores se mudariam para a lua e não seriam mais incomodados. Estes por sua vez mantém um isolacionismo severo desde o povoamento.

Em Anarres foi fundada uma nova sociedade baseada nos princípios da coletividade e do bem comum. A língua criada pelos povoadores é o právico, Le Guin não chega a criar uma lingua mas ela aparece como elemento de diferenciação entre as sociedades pois, reflete as ideias fundadoras de cada sociedade. Os pronomes possessivos são desencorajados desde a terna idade. Eles não dizem "você pode usar o meu lenço", por exemplo, mas "você pode compartilhar o lenço que estou usando". Dessa situação deriva o nome do livro, eles são despossuídos.

No decorrer do livro Úrsula satisfaz várias perguntas de "como seria lá?" durante os capítulos que abordam Anarres. Desde o início é possível notar que existem problemas nesta utopia e ao longo da história somos apresentados a eles, deixando claro que a utopia desenvolvida é consistente. É possível ver que para Le Guin, a utopia é um lugar a ser alcançado, por mais que acreditemos viver nela. Já nos capítulos de Urrás o modo de pensar de Shevek é trabalhado primeiramente pela contradição de um annaresti comum em uma sociedade capitalista (ou proprietária, nas palavras de Shevek) e com o passar das páginas podemos ver a sua especificidade de físico "acadêmico" e pacifista em busca de uma superação das contradições entre Urrás e Anarres.
A condução da história não é cercada de reviravoltas surpreendentes, o que pode deixar a obra arrastada para quem busca emoções fortes. Mas a construção dos personagens secundários é fantástica. Podemos ver, no decorrer da obra, como cada um contribui para formar o protagonista. O que torna engenhoso pois eles provocam um efeito retardado, as peças do quebra-cabeça juntam-se na mente de Shevek. Todos os personagens secundários tem função na jornada de Shevek.
É uma obra interessante para quem gosta de discutir filosofia e política, pois a ambiguidade dos mundos que descreve tem potencial para abrir diversos debates sobre anarquismo, capitalismo, pacifismo, feminismo e sociedades revolucionárias. Os pontos negativos, acompanham suas maiores qualidades. O personagem desenvolve-se bastante do ponto de vista filosófico, o que pode deixá-lo muito frio ao leitor. Por ser uma jornada pessoal e reflexiva este problema pode agravar-se. As longas descrições de Annares e de sua sociedade, apesar de essenciais a trama e as reflexões do protagonista, podem cansar o leitor. As camadas mais profundas do texto são as essenciais, por isso não é um livro que favorece a leitura superficial.

site: http://www.wilburdcontos.blogspot.com.br/2015/10/resenha-os-despossuidos-ursula-k-le-guin.html
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Virginia Barros 09/08/2015

Os desapegados
Um mundo onde a natureza é generosa e a comida farta, mas nunca há o suficiente para todos. Outro onde a luta pela sobrevivência é árdua, porém a sociedade vive pautada na solidariedade e o indivíduo sempre pensa no grupo antes de si mesmo. Será possível atingir o equilíbrio entre sociedades tão diferentes?

Não entendi muito bem essa capa
Shevek, o protagonista de “os Despossuídos”, grande obra de Ursula K. Le Guin, acredita em sua sociedade: Anarres, uma colônia anarquista criada na lua de Urrás – uma terra de desigualdades e injustiças. O problema é que a física, objeto de estudo e razão da vida de Shevek, não tem futuro em uma comunidade cada vez mais receosa de iniciativas individuais. Ele acredita que o muro entre Anarres e Urrás precisa cair pelo bem de todos e decide se arriscar em uma viagem quase proibida pelas décadas de isolamento e desconfiança entre ambos os mundos.

Com descrições incrivelmente realistas, a autora cria dois mundos não tão diferentes do que conhecemos, com suas imperfeições, contradições e, claro, pessoas buscando a felicidade, cada qual a seu modo. Ao mesmo tempo, conceitos complicados de física teórica relacionados ao tempo são discutidos, de forma que não se podem evitar dilemas filosóficos quanto à vida que conhecemos. Principalmente no que diz respeito ao que conhecemos como passado, presente e futuro. Não podemos esquecer de que este é um livro de ficção científica, apesar da aura filosófica que lhe permeia as linhas.

“Nós pensamos que o tempo passa correndo por nós, mas, e se fôssemos nós que seguíssemos adiante, do passado para o futuro, sempre descobrindo o novo? Seria um pouco como ler um livro, entende?” (capítulo VII)

A própria construção do livro nos leva a entender um pouco melhor o que diz Shevek. Cada capítulo é um salto no tempo: o primeiro se passa no “presente”; o próximo retorna a contar a vida de Shevek desde a infância, e sucessivamente “passado” e “futuro” se intercalam. Somente lendo toda a obra se compreende todos os motivos que o levam a deixar seu planeta e ir trabalhar em Urrás, cuja sociedade ele francamente despreza.

Como outras obras de Le Guin, esta pode ser sintetizada como a narração de uma longa viagem, cujo fim só pode ser o retorno. Mas esse retorno não trará bens materiais, apenas um inesquecível aprendizado. Para quem lê, fica a desconfiança de que, apesar de parecer o contrário, todos somos tão despossuídos quanto os habitantes de Anarres.



site: www.bolhadeleitura.blogspot.com
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Alessandro 26/08/2014

Um excelente livro sobre utopia/distopia.
Os Despossuídos (The Dispossessed: An Ambiguous Utopia) é um romance de ficção científica utópica/distópica escrito em 1974 por Ursula K. Le Guin, e sua estória situa-se no mesmo universo ficcional de A Mão Esquerda da Escuridão (veja o review aqui). O livro recebeu o prêmio Nebula em 1974 e os prêmios Hugo e Locus em 1975. É considerado um trabalho de ficção científica pouco usual, por explorar várias ideias e temas, incluindo anarquismo, sociedades revolucionárias, capitalismo, individualismo e coletivismo além da Hipótese Sapir-Whorf. Essa hipótese foi criada nos anos 30 pelos linguistas Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf, que chegaram a uma tese que é a base do relativismo linguístico, que pode ser a grosso modo resumida da forma: as pessoas vivem de acordo com suas culturas em universos mentais muito diferentes entre si, sendo que esses universos mentais são exprimidos (e até determinados) pelas línguas que as pessoas falam. Desse modo, o estudo das línguas que as pessoas falam pode levar à elucidação da concepção do universo mental dessas culturas. Essa tese foi muito influente entre antropólogos, psicólogos e linguistas nos anos 40 e 50, e apesar de enfraquecida pela corrente cognitiva e de ser refutada por diversos estudiosos, até hoje a teoria ainda é importante.

Contexto do Livro e do Ciclo Hainish

O livro Os Despossuídos apresenta a teoria fictícia envolvendo o ansible, um dispositivo de comunicação instantânea que tem um papel crítico no Ciclo Hainish de Le Guin. A invenção do ansible coloca esse livro no início da cronologia interna do ciclo, apesar de ter sido o quinto livro a ser publicado, portanto a ordem dos livros é a seguinte:
1.Os Despossuídos (The Dispossessed) 1974;
2.Floresta é o Nome do Mundo (The Word for World Is Forest) 1976;
3.Rocannons World 1966;
4.Planet of Exile -1966;
5.City of Illusions 1967;
6.A Mão Esquerda da Escuridão (The Left Hand of Darkness) 1969;
7.The Telling 2000;

A estória de Os Despossuídos é ambientada nos mundos de Anarres e Urras os planetas gêmeos habitados por seres humanos em Tau Ceti.
Urras é dividido em vários estados que são dominados por dois dos maiores, que são rivais, numa clara referência aos EUA e URSS, pois um é capitalista e patriarcal e o outro é um sistema autoritário que governa em nome do proletariado. As relações dos dois blocos é conturbada, da mesma forma como o nosso cenário político mundial na época da guerra fria. As diferenças sociais em Urras são gritantes: o governo representa os ricos e governa para os ricos, que garantem que os pobres recebam apenas um mínimo suporte e educação do estado. As tensões sociais levaram a uma revolução 150 anos atrás mas no lugar do resultado tradicional que seria a deposição dos opressores, os revolucionários decidiram fundar sua própria sociedade ideal em um planeta próximo a Urras, chamado de Annares, onde então fundou-se uma sociedade anarquista baseada nos princípios do bem comum, responsabilidade e bens compartilhados. Superficialmente essa sociedade funciona. Mas no início do livro logo percebemos que as coisas não estão indo tão bem assim. Os ideais da revolução estão estagnados. Novas ideias surgem e são temidas, enquanto pessoas gananciosas e egoístas (conhecidas como proprietarianos, na linguagem que eles criaram) começam a ganhar poder. O descontentamento está crescendo.
Um jovem e brilhante físico chamado Shevek está empreendendo uma viagem de Annares para Urras, sendo que no livro isso é mostrado alternando-se capítulos pares e ímpares entre os dois mundos, onde podemos acompanhar sua crescente desilusão com as duas sociedades. Essa estrutura de alternância entre os mundos, assim como tudo mais nesse livro, serve à um propósito: Shevek está criando a teoria da simultaneidade que meche com as ideias de tempo, começo e fim, com o passado acontecendo ao mesmo tempo que o presente. Portanto não estranhe essa estrutura dos capítulos, tudo faz parte do plano de Le Guin.
Em Annares descobrimos que os poderosos não gostam da teoria da simultaneidade porque ela promete fornecer um método de comunicação instantânea que acabaria acabando com sua providencial isolação. Já em Urras descobrimos que o interesse dos poderosos é em conseguir utilizar a tecnologia para esmagar as outras sociedades existentes nos demais planetas humanos. Shevek acaba sendo confrontado com uma série de dilemas morais que Le Guin explora com muita competência.
Um dos maiores méritos de Ursula K. Le Guin é conseguir criar uma espécie de laboratório fictício para estudar como uma sociedade anarquista, que lembra uma comunidade hippie dos anos 70, poderia funcionar (ou não funcionar). O livro é cheio de insights sobre a natureza da liberdade, do livre arbítrio, vida em comunidade, poder e igualdade.
A linguagem falada em Annares, o pravic, foi construída para refletir os aspectos e fundamentos do anarquismo utópico. Por exemplo, não existem palavras para descrever conceitos simples do capitalismo como a propriedade privada, o uso de pronomes possessivos é extremamente desencorajado (vem daí o título do livro!), crianças são treinadas para falar apenas sobre assuntos que possam interessar à coletividade. Uma personagem diz em determinado momento você pode compartilhar o lenço que eu uso, no lugar de Você pode usar o meu lenço como diríamos normalmente. Tudo isso é uma excelente representação da Hipótese Sapir-Whorf, ou seja, da ideia de que a linguagem pode definir o universo mental e a cultura de uma sociedade. Uma prova do talento da autora é justamente o fato dela ter conseguido fazer essa hipótese funcionar no livro.
Qualquer um que leia um livro de Le Guin percebe rapidamente que a autora escreve bem. Sim, é verdade que muitas vezes a prosa é densa demais, obscura em alguns pontos e até mesmo ocasionalmente absurda; ela simplesmente não se preocupa em facilitar a vida do leitor. Mas encontrei no livro algumas belas descrições da vida em Annares, dos horrores e alegrias em Urras. Temos também uma belo gancho romântico envolvendo Shevek, que evolui delicadamente. Mas Shevek também pode ser considerado o ponto fraco do livro, pois Le Guin não consegue convencer muito que tal personagem possa ser real: A incapacidade dele perceber as falhas do modelo odonista e em reconhecer que o ideal seria um meio termo entre os sistemas existentes em Urrás e Anarres persiste até os momentos finais do livro, o que parece muito estranho ao leitor.
Encontrei também alguns elementos do feminismo que permeia toda a obra da autora, assim como expliquei melhor na análise de A Mão Esquerda da Escuridão.
Uma das melhores características de um bom trabalho de ficção científica é a criação de sistemas sociais para ver como eles poderiam se comportar, e isso foi feito de forma extremamente competente nesse livro.





site: http://leiturasparalelas.wordpress.com/2014/08/20/os-despossuidos-ursula-k-le-guin/
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Lili Machado 22/03/2013

“Havia um muro”...
Shevek, um físico brilhante, que vive em Anarraes (uma lua de Urras), decide procurar respostas e questionar o inquestionável, tentando derrubar os muros do ódio que isolam seu mundo de anarquia, do resto do universo civilizado.
Anarraes é um planeta de anarquistas que experimentam o não-autoritarismo que enfatiza a comunidade e a cooperação, e que tem de aproveitar ao máximo os recursos limitados de seu planeta desértico, para evitar a ameaça constante da fome.
Há duzentos anos Anarres está isolado de Urras, exceto pelos valiosos minerais que são enviados através de seu espaçoporto.
A filosofia de Anarres é baseada nos escritos de Odo, uma mulher com idéias baseadas no comunismo puro. O odonismo prega os princípios da comunhão e do socialismo, através da remoção das palavras: minha, nossa, etc., da linguagem, e sua substituição por “a que eu uso”.
Quando a pessoa nasce em Anarres, recebe um nome de duas sílabas, decidido por computador – me lembra um dos detalhes da sociedade de Gathering Blue, de Lois Lowry (resenha no blog: http://scifinowlilimachado.wordpress.com/2012/08/11/gathering-blue-lois-lowry-serie-the-worlds-of-lois-lowry-2/ ).
A sociedade é livre, toda a atividade sexual é permitida, desde que consentida. O casamento não é obrigatório. As crianças são criadas em forma comunitária.
O trabalho é determinado através de uma espécie de loteria por computador, de acordo com a necessidade. Mas todos são livres para recusar o que lhe for determinado. A cada 10 dias eles participam de trabalhos voluntários para a comunidade. Somente o senso de responsabilidade e consciência os mantém trabalhando, livres do desejo de acumular posses e riquezas.
Pode-se tudo, desde que não fira o outro.
Essa utopia tem sementes de destruição, entretanto...
Shevek, como médico, faz uma grande descoberta científica, que é festejada em Urras. Ele é, portanto, convidado a terminar seu rabalho no planeta-mãe e a aceitar um prêmio importante.
Ninguém de Arraes foi a Urras, há dois séculos, e um conflito de grandes proporções se inicia.
Para realizar essa viagem perigosa, ele tem de desistir de sua família e, até mesmo, de sua vida, desafiando as complexas estruturas de sua vida, e iniciando o fogo das mudanças.
Urras é a sede de um triunvirato de um governo repressivo e capitalista, com imensas riquezas, atrativos culturais e grandes realizações científicas.
Mas, nem tudo é o que parece ser, em ambos os mundos... Shevek logo descobre que Urras também possui sua cota de “Despossuídos”.
À medida que a estória segue, Shevek vê que há muito ainda a ser aprendido, de ambas as partes, já que as sociedades contrastantes, contém a semente uma da outra.
Shevek, então, planeja levar as duas sociedades a bons termos.
Os despossuidos é uma estória utópica/distópica, na mesma sintonia de Admirável mundo novo, de Aldous Huxley (resenha no blog: http://scifinowlilimachado.wordpress.com/2012/06/30/admiravel-mundo-novo-brave-new-world-aldous-huxley/ ).
Mas o tema essencial do livro, são as barreiras, e como as transpor. A primeira frase é: “Havia um muro”.
Apesar de Le Guin criar uma atmosfera de tensão, não há muita ação – portanto, os leitores que esperam a ficção científica tradicional, com viradas surpreendentes na trama, não ficarão satisfeitos. Mas os leitores do ramo mais filosófico da Sci-Fi, irão adorar.
Este livro descaradamente político, com base na Guerra Fria EUA-URSS, retrata um personagem dividido entre dois mundos, com diferentes sistemas econômicos e políticos, e foca nos erros de ambos.
Lili Machado 22/03/2013minha estante
Obrigada Kai - eu já havia modificado no meu blog, mas esqueci de mudar aqui no Skoob.




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