Resenhas - O sonho de Matilde

Karamaru 17/09/2023

AS ONDAS DO DESTINO
A psicanalista e escritora Livia Garcia-Roza publicou “O sonho de Matilde” em 2010 pela Record. Como o próprio título sinaliza, Matilde possuía um sonho: conhecer o Rio de Janeiro na companhia da irmã mais velha, Cristina. Em meio a fatalidades e descobertas, o sonho se concretiza, mas de maneira diversa do que fora idealizado pela protagonista.

Essa é daquelas obras que, de início, já ganham o leitor pela força das personagens. A família de Matilde é composta de tipos tão diferentes entre si, pelo que o conflito de gerações apresenta-se patente. O texto de Garcia-Roza é hábil ao equilibrar, ao menos na primeira metade da obra, o tom tragicômico dos pequenos entreveros familiares que são apresentados.
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“Ninguém a não ser um brutamontes ou Deus vive só nas trevas ou só na luz. Os seres humanos se alternam nas duas faixas.” Após uma crise psicótica de Cristina, os pais e Matilde acompanham a irmã até à capital carioca para tratamento. Devido à outra urgência, os pais precisam retornar à cidade natal, e Matilde permanece, no Rio, para resolver tudo o que fosse preciso.

Após o retorno dos pais, o livro começa a adquirir uma tonalidade cada vez mais cinzenta, a qual, apesar de plausível dados os acontecimentos, amortiza o estilo inicial de uma maneira estranhamente inesperada, prejudicando a dinamicidade da narrativa. Além disso, incomodou a ausência de mais explanações sobre as causas da crise de Cristina.

De todo modo, é um livro de leitura muito fluida e empática; a escrita de Livia exerce sobre o leitor um efeito relaxante análogo ao de uma música Lo-Fi, mesmo ao abordar assuntos fatídicos. Vale a pena conhecer outras coisas da autora, cuja obra é vasta. Ps.: Livia foi casada com o renomado escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza, falecido em 2020, autor de livros como “O silêncio da chuva”, “Berenice procura” entre outros.

Leitura e microrresenha feitas em parceria com Carlos (IG: @o_alfarrabista).

sotnasallim 09/05/2021

Li esse livro pela primeira vez anos atrás e na época lembro que fiquei muito impactada com ele. Não tinha o hábito de ler, muito menos de reler livros, mas esse eu reli três vezes. A escrita é impecável e a gente se sente dentro da cabeça da Matilde, sofrendo com a irmã, com medo pelo futuro e frustração por causa das mudanças que precisou fazer em seus sonhos, amando, questionando tudo etc.

Ao reler esse ano, ele deixou de ser um dos meus favoritos e já não senti a mesma paixão que senti anos atrás, mas também pude perceber coisas que antes não tinha reparado. De todo jeito, continuei achando um bom livro, um que vale a pena a leitura.

Com ele a gente aprende, através dos olhos da Matilde, a ser forte e se reerguer quando todos os nossos sonhos são destruídos. Aprende que a gente só para de sonhar quando morre.

Emerson 04/01/2022

O sonho de Matilde se completou. A autora foi sucinta e conseguiu unir as pontas da narrativa do início ao fim. Como a história se passa na década de 60, é notável a ignorância da medicina em relação a casos de identificação e tratamento da depressão, como acontece com a irmã de Matilde ao ser internada em uma clínica, no Rio de Janeiro, devido a uma "crise psicótica".

Enquanto a irmã está "presa" em uma casa de saúde, Matilde vive um romance clichê na cidade maravilhosa. Um ponto em que autora não faz nenhum aprofundamento na história, servindo apenas para a personagem principal poder desabafar suas emoções e ser levada a locais turísticos.

A história é breve, porém relata as responsabilidades e as frustrações de Matilde para vencer as adversidades, se desprender da família, ou seja, criar asas, para ir em busca de seus objetivos.