Ama 30/11/2011
Yume - A luta para atingir o amor é inevitável.
ATENÇÃO: Podem haver leves referências a acontecimentos do livro, porém procurei fazer tudo de maneira mais implícita possível, então acredito que não será prejudicial para quem não leu.
Imaginação em alta, somada à inovação. Isso eu começo falando sobre Yume. Confesso que eu tive expectativas contraditórias na leitura desse livro, que, aliás, faz isso conosco o tempo todo, o que eu acho muito ousado por parte da Kamile, mas não prejudicial. O que quero dizer é que o livro vai lhe levar a pensamentos e situações revoltantes, emocionantes e inesperados, principalmente inesperados.
Nadia é encantadora. Sim, ela é desarrumada, xinga, age com ignorância por diversas vezes e tem uma leve (leve?) tendência esquizofrênica em relação ao mundo. Mas ela é encantadora ainda assim, seus pensamentos rebeldes da adolescente que é, confrontam muitas pessoas reais que também são como ela. É incrível notar como a construção e evolução dessa personagem foi feita. Nádia possui os elementos doces de uma garota frustrada que vai confrontar o mundo, e apesar das respostas frias e cortantes, ela ainda pensa, tendo emoções inerentes ao seu pensamento. Tem certa imaturidade típica da sua idade, e, ao mesmo tempo, tem uma responsabilidade com a mãe (mesmo que ela não demonstre isso diretamente). Enfim, ela sente e se comove como qualquer garota, e, além disso, acredita na fantasia a ponto de aceitar o seu desafio – desenhar alguém dos seus sonhos perfeitamente. Ela evolui como se a meiguice que existe em seu interior fosse, pouco a pouco, aparecendo timidamente na sua aparência.
Já Adrien é um personagem que merece ódio, sim, a autora fez questão de fazê-lo odioso no início do livro. Mas eu não resisti, particularmente sempre gostei do Adrien, e ele me foi cativante justamente por quebrar o estereótipo comum daquele cara que faz tudo pela garota que ama. Até rio de pensar que Adrien faria algo assim, logo de cara. Prepare-se para se revoltar com o seu ceticismo e descaso com as pessoas. E também para se surpreender com sua imaturidade apesar de ser bem mais velho do que Nádia. Mas eu compreendo que suas decepções o fizeram interiorizar muito daquele homem decente que ele poderia se tornar.
Os personagens secundários também têm seus bons aspectos, a natureza de Alice tão meia e gótica que... Sabe-se lá o que seria da Nádia sem ela no Brasil. Além da fofura do Arashi e suas eternas e engraçadas brigas com o Adrien, que deixam a narrativa mais agradável e divertida. E, claro, o primo perfeito que cuida tão bem da Nádia, Yooki! Ele me foi uma surpresa agradável, sinceramente. Acreditava que Nádia teria um conflito ao se mudar, mas essa é uma das coisas inesperadas que se encontra em Yume.
Acredito que Yume seja uma história que mostra o desenvolvimento da maturidade. É irônico que Adrien, tão mais velho que Nádia, tenha, no entanto, uma maturidade tão semelhante à dela. Imaturo como é, Adrien nunca estaria preparado para amar alguém de verdade, mas não é por isso que deixa de se apaixonar e enlouquecer por alguém que, teoricamente, “não existe”. Já Nádia, que deveria ser a imatura da história por ser mais nova, se conforma quase sempre com seu destino. Lutar, sim, ela luta, mas com alguma insistência é convencida da sua realidade, afinal, ela é tão “louca” mesmo. E é aí que entra Adrien, e ele é forçado a tirar de dentro de si aquela força que não possuía para salvar a garota do Yume.
O Yume, ao meu ver, é o lugar que se vai para alcançar a maturidade. Por isso se torna é tão necessário que ele exista, e que Nádia tente ser salva de lá por Adrien, não importando o que aconteça. Conseguindo ou não salvá-la, a luta é necessária. Adrien precisa se libertar do ceticismo e ser mais homem e menos menino, digamos assim. Já Nádia precisa se libertar da responsabilidade que lhe foi dada tão jovem, de arcar com todo o sofrimento, dúvidas e loucuras sozinha. Porém, ao se lançar nesse mundo perigoso ela também aprende que não pode deixar de lado suas revoltas e sofrer em silêncio, também é preciso gritar às vezes. Porém, ela não é uma donzela em perigo. Ela é a donzela causadora do perigo, que poderia muito bem se livrar dele sozinha. O problema é que, para conseguir alcançar o amor, é preciso que ela se deixe ser salva, enxergando que não está sozinha nessa luta por maturidade. E, para Adrien, chegar ao amor significa ser menos egocêntrico. Os dois precisam atingir níveis de maturidades ideais para que os desencontros acabem. Agora, se isso vai acontecer, é por conta de você ler até o final.
Observam-se várias referências a cultura oriental, em certas partes da narrativa se tem a impressão de estar dentro de um filme ou anime. Isso, a meu ver, torna o livro bem mais dinâmico e simples de se compreender. Uma dos pontos que eu gostaria de ressaltar que não me agradou muito foi o da divisão de cenas, sendo elas bem próximas das outras se tem a impressão de que são curtas demais. Na parte “Yume” se vê vários elementos fantasiosos que, acredito, prendam o leitor em busca de compreender o que está escrito, mas como o Yume remete ao sonho (em japonês), creio que seja necessária essa impressão de confusão que é deixada, visto que os sonhos são extremamente sem nexo e incompletos. Por fim, acredito que não tenham sido propositais as falhas em relação à mudança de cenas.
Pelo fato desse ser o primeiro livro da Kamile, vejo que ela se preocupou muito com a construção coerente da narrativa e com o menor número de erros possíveis. Senti um pouco de falta de mais informações sobre alguns personagens secundários. Porém, alguns errinhos existentes no livro não retiram, de jeito nenhum, a essência que nos envolve diante de sua leitura. Acredito que o potencial da autora se desenvolva ainda mais após essa experiência e suas críticas sobre ela.
O fim é feito para surpreender o leitor. Sendo assim, de fato vai depender de cada um, varia de leitor para leitor de acordo com seu gosto. Em minha opinião, é tão inesperado que é cativante. Eu realmente gostei do fim, acredito que deixa ao leitor a impressão de que ele mesmo pode continuar a história como quiser, como também parar ali mesmo, esperançoso. Uma personagem que me prendeu completamente à parte final do livro foi a Lady Liberté, tão “estilosa” em seu mistério que não consegui não gostar dela, apesar das poucas cenas em que aparece. Os outros que compõem o final da história também são como dois extremos, mas esses prefiro deixar aos leitores que descubram por si só.
Enfim, Yume, com sua narrativa simples, faz-nos passar uma página após a outra sem ter noção do tempo. Uma história que, tendo seus defeitos, torna-os pequenos em relação à diversão que nos traz. Ao meu ver, ensina que uma pessoa precisa lutar por si mesma, alcançar suas próprias verdades antes de se aventurar a ir em busca do seu amor.