PorEssasPáginas 29/05/2014
Em outras palavras: Manual Prático do Ódio - Por Essas Páginas
Na coluna Em outras palavras, temos novamente uma resenha do Felipe, dessa vez de um livro nacional da Editora Planeta. Vamos saber o que ele achou da leitura de Manual Prático do Ódio?
Manual Prático do Ódio, apesar do título, é um livro apático, que não desperta emoções e apenas recicla idéias, sem nem ao menos vomitá-las em uma roupagem diferente. Explico.
O livro é centrado na história de Lúcio Fé, Aninha, Régis, Celso Capeta, Neguinho da Mancha e Mágico, personagens cercados pela violência da periferia, que têm seus caminhos cruzados de acordo com Régis “se não colasse com eles, bateriam de frente e em vez de dividir era melhor somar”. Todos os personagens têm uma parte em cada capítulo destinada a eles, assim como cruzam entre si e também temos outros personagens secundários que ganham seus cinco (ou mais) minutos de fama.
Nos primeiros capítulos somos introduzidos aos personagens principais, mas honestamente o único com o qual realmente me importei foi Régis; um personagem que começou sem brilho, bem quietinho, bem igual aos demais, porém que termina a obra de uma forma bastante dramática. A ascensão do personagem foi inesperada e muito bem vinda num livro que, de resto, foi só pasmaceira.
O grande problema de Manual Prático do Ódio é ele não ter nenhum elemento original. Se você já assistiu Cidade de Deus, Salve Geral, Subúrbia, Tropa de Elite e filmes do gênero, você já leu esse livro, já se deparou com seu conteúdo e, provavelmente, já sabe do que se trata. Resumidamente é a história de seis malandros tentando sobreviver com dinheiro fácil e risco alto, de quaiquer formas que o crime possibilitar. Mesmo assim, poderia ter sido escrita de forma original ou cativante, o que não acontece. Em vários momentos temos apenas com o cotidiano violento dos personagens, e isso ocorre tão repetidamente que desensibiliza o leitor; você anseia por mudança, por algo diferente de tiros, drogas e sexo, mas a trama não avança de forma alguma. Entendo que talvez essa tenha sido uma forma de o autor demonstrar justamente o quanto estamos desensibilizados em relação a esses temas, mas ele não fez corretamente. Poderia ter sido melhor, poderia ter envolvido melhor o leitor, desenvolvido mais seus personagens.
As vozes dos personagens foi algo que me confundiu inicialmente por serem todas iguais, principalmente pela excessiva falta de pontuação. Outra falha do livro são personagens secundários que poderiam ter sido melhor aproveitados, como Valdinei, o matador e vingador da favela, que merecia ganhar mais algumas partes em diferentes capítulos no lugar até de alguns personagens principais, como Lúcio Fé e outros menores, como Nego Duda (bucha de canhão).
Ao invés de mostrar uma ótica diferente daquela excessivamente exposta na mídia, impactando e educando seu leitor para a verdadeira realidade desse tipo de vida, o autor apenas criou nada mais do que um zoológico de violência, no qual somos meros espectadores e não podemos deixá-lo até acabar o livro. Faltou humanização nessa obra. E também faltou uma revisão mais crítica, que cortasse cenas que não acrescentarem em nada à obra.
Felizmente existem algumas redenções, especialmente quando a trama da história efetivamente anda no livro e as consequências colhidas pelos protagonistas são devastadoras. É nesse momento que é possível perceber a teia de acontecimentos que o autor traçou e como, realmente, violência gera mais violência. O desfecho da história culmina também com a evolução do Régis e Modelo, o primeiro passa a ser efetivamente O personagem do livro, e o segundo torna-se uma ameaça considerável, assim como os demais personagens tornam-se um pouco mais humanos, principalmente pelo fato de estarem fazendo alguma coisa concreta, mesmo que seja ilegal. Destaque também para José Antônio, um dos poucos personagens corretos do livro e que possui um final emocionante. Posso dizer que enquanto Régis me impressionou pela evolução, José foi o único do qual eu pude tirar uma lição.
Talvez o livro agrade a outros leitores. Talvez fosse melhor se passasse pelas mãos de outro revisor. Mas livro bom não fica só no talvez.
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