Henrique Fendrich 21/05/2019
“Contos de amor e morte” é realmente o nome que melhor caberia a essa coletânea do austríaco Arthur Schnitzler. A tônica dos contos são os relacionamentos amorosos que culminam, em um determinado momento, com a morte de um dos envolvidos. Há traições para todos os gostos, assim como duelos, essa forma nobre a honrada de se cometer um assassinato.
Schnitzler é um escritor eminentemente psicológico, e talvez até psicanalítico, como bem prova a estima que lhe devotava o Freud. Se tem uma coisa que coloca o nosso juízo a perder, afinal, é essa história de “amor”. Gostei de “Os mortos calam”, sobre um acidente de coche sofrido por um casal de amantes e de como a mulher, para não se ver envolvida em escândalos, fugiu da cena, deixando o amante morto. “A sina do Barão von Leisenbohg” também se destacou para mim, sobretudo por conta do seu final, quando se percebe que toda uma vida devotada a uma pessoa não foi suficiente para evitar a perfídia do objeto da sua adoração. Há também uma novela, “Fuga para a escuridão”, cujo tema não é tanto o amor, mas a loucura. Schnitzler sabe como explorar pensamentos doentios.
O conto que mais gostei, no entanto, é o único que não tem nada a ver com amor. “A profecia” é um conto de literatura fantástica. Um vidente ou coisa do tipo faz uma previsão ao sujeito de onde ele estaria exatamente dez anos depois e todas as coisas concorrem para que essa previsão se confirme durante a encenação de uma peça de teatro. Não tem amor, mas tem morte.
Seja como for, devo admitir que a alta expectativa que eu tinha com esse livro, a partir das leituras de contos como “O Tenente Gustl” e “A mulher do filósofo” não se confirmou totalmente. Achei que gostaria mais. De toda forma, é um nome que precisa ser muito mais conhecido que vem sendo na atualidade.