jota 23/02/2013Menina de ouroBravura Indômita, livro de Charles Portis publicado em 1968, foi duas vezes adaptado para o cinema, em 1969 e em 2010. Resultou que o filme homônimo de 2010 foi mais bem recebido pela crítica que o de 1969, que reconheceu na nova versão algo mais próximo da obra escrita.
A edição brasileira vem com a recomendação de Donna Tart (autora de A História Secreta, que inclusive gravou o audiobook da obra para o mercado de língua inglesa), também do Washington Post, New York Times Books Review, Newsday, etc.
Mas vamos ao que interessa: Mattie Ross, a narradora, é uma corajosa garota de catorze anos que contrata um agente policial, Rooster Cogburn, para caçar o assassino do pai, que também lhe roubou os poucos pertences. Participa igualmente da empresa em território indígena, um caçador de recompensas, LaBoeuf. E daí pra frente é só aventura...
Mattie tem tiradas e sacadas inteligentes, quase sempre bem-humoradas, e é também uma pequena filósofa e observadora, capaz de emitir opiniões definitivas sobre pessoas, lugares e coisas, sem, entretanto, deixar de reconhecer que às vezes se enganou redondamente em seus julgamentos ou pensamentos. É também uma ótima negociante, especialmente quando se trata de cavalos, sabe ler e escrever muito bem. Fora seus conhecimentos de contabilidade...
E num dos melhores trechos do início do livro, depois de sentir-se mal-atendida por um funcionário público da Louisiana, ela desabafa: “[O funcionário]... se sentia todo inchado por causa de seu cargo. É de se esperar desse pessoal federal, e pra piorar aquela turma [os policiais federais] era republicana e não dava a mínima pra opinião do bom povo do Arkansas, onde são democratas.” Estivesse viva, Mattie certamente seria eleitora de Barack Obama.
Bravura Indômita é uma história bem-humorada de ponta a ponta, mas que não deixa de ter certo suspense, muito tiroteio e igual derramamento de sangue. E, de quebra, bem perto do final, uma cena cheia de cascavéis num buraco escuro, pra fazer a gente tirar o pé do chão no cinema ou em casa.
Todo o livro é escrito em linguagem popular (a tradução é muito boa: os personagens falam como se estivéssemos no Velho Oeste; aquele que o cinema criou em nossas cabeças), prende bastante a atenção e constitui uma boa opção de leitura descompromissada e divertida – ideal para esses infinitos dias chuvosos de fevereiro. Merecia uma nota 4,5, por aí.
Lido entre 18 e 23/02/2013.