Ana Usui 27/02/2015
Senti muitas coisas ao ler Louco aos Poucos. Desde desânimo (no começo), confusão e irritação à alegria, tristeza, nostalgia e o mais importante, aquela sensação de que se descobriu um pouco mais do universo, mesmo que não entenda exatamente o que descobriu.
Louco aos Poucos é um livro que deve ser lido com dedicação porque você definitivamente será recompensado.
A história é sobre Cameron, um jovem irresponsável, sarcástico, mal humorado e solitário (tanto na escola quanto em sua própria casa), vivendo sua patética vida ignorando tudo e todos com músicas pouco conhecidas e um pouco de maconha (que apesar de não ser algo bom, totalmente se encaixa na loucura do livro).
Cameron não se importa com nada, porque ele faz aquelas perguntas que todos nós fazemos, mas não insistimos por muito tempo porque sabemos que as possíveis respostas não são agradáveis.
Porque estamos aqui? Qual o sentido de estudar, trabalhar, se esforçar tanto enquanto tentamos agarrar pequenas centelhas esporádicas de felicidade, só para então morrermos? Qual é a razão de tanto esforço, tanto sofrimento? Nós somos a grande piada do universo no fim das contas?
Cameron acha que o mais esperto a se fazer é simplesmente esperar pacientemente pelo seu ponto final. E então ele chega. Cameron é diagnosticado com a doença da vaca louca e de repente é uma merda ter o seu ponto final ali.
Então uma estranha anja punk que já o perseguia lhe aparece com uma proposta de missão, viajar sem qualquer direção, procurando por sentido no aleatório, para tentar salvar o mundo e encontrar um tal Doutor X que, supostamente, tem a cura. Tudo isso com um anão chamado Gonzo e mais tarde um gnomo de jardim chamado Balder (que por acaso é um deus viking imortal).
Louco aos Poucos não é o tipo de livro que tudo faz sentido, mas sim o tipo de livro de onde se extrai o sentido de pedaços. Não adianta buscar alguma constante em sua viagem, mas sim fazer exatamente o que Cameron está fazendo, curtir essa viagem, viver ela e ver onde vai dar, sacar as entrelinhas das coisas simples. Até porque o livro tem muita loucura e mesmo que você não queira você vai se perder nela.
Na minha opinião Gonzo representa o medo, enquanto Balder representa a juventude imortal e Dulcie o amor e a proteção.
Cada parada na história trás uma reflexão sobre algo. Felicidade, sua, minha e do outro. A aleatoriedade da vida, estereótipos, vidas em embalagens, classificação e rotulação pela sociedade. Amizades, sonhos e vida.
Ler Louco aos Poucos foi incrível, mesmo que tenha sido difícil nas primeiras 100 páginas (como foi pra todo mundo que já leu...), valeu cada parte, e no fim me deu aquela sensação, aquela pela qual sempre buscamos quando lemos e que poucas vezes encontramos, aquela sensação quente no peito de ler uma boa história, de se sentir incrível e ao mesmo tempo perdido, sem saber o que fazer agora com a sua realidade.
O final foi surpreendente, mesmo que em parte já esperasse, e se eu entendi o final?
NÃO! Mas não era para entender mesmo, afinal, quem diz quando é o final?
Depois de pegar o embalo eu ri muito, mas muuuuuito com eles, a ponto de me olharem feio no ônibus, então cuidado aonde vai ler. Brisei muito nas loucuras de Cameron, não fazia ideia de quando era realidade e quando não era. Mas quem diz o que é e o que não é real? (ninguém tem um psiquiatra por perto, certo?)
Tive muitos momentos do tipo "oh meu deus! tem uma puta filosofia por trás desse parafuso enferrujado cara!" e me admirei com a evolução dos personagens.
Enfim, esse foi o meu primeiro livro non-sense, que agora é um dos meus favoritos e desta vez eu não vou finalizar com uma recomendação porque este livro se tornou aquele tipo de livro que a gente guarda quase como se fosse um segredo, como se fosse importante demais para sair anunciando.
Então se quiser ler, vá em frente, mas vá com tudo, seja forte e não decepcione todos aqueles que guardam essa história como um segredo bonito no peito.
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"Num mundo como esse apenas o aleatório faz sentido."
"Talvez todos nós façamos parte do mesmo ensopado do inconsciente, sonhando os mesmos sonhos, compartilhando as mesmas esperanças, precisando da mesma conexão, tentando encontrar e errando, tentando de novo - cada um de nós encenando nossos papéis nos roteiros dos outros, apenas um enorme novelo humano todo embaraçado. Talvez seja isso."