Cloud Atlas

Cloud Atlas David Mitchell




Resenhas - Cloud Atlas


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desto_beßer 24/09/2012

Quase impecável!
Existem tantos motivos pelos quais este livro é genial: a linguagem riquíssima e deslumbrante de cada época, os personagens que se mantêm vivos na memória, as excelentes e inesquecíveis histórias, os hilários aforismos de Cavendish, a estruturação dos capítulos, o ritmo misterioso da narrativa, a ligação semi-mística entre os personagens centrais das histórias (que apenas sugere reencarnações de uma mesma alma em diferentes épocas, apesar do autor não ser muito fã do fenômeno), as ligações físicas e reais entre os personagens, as brincadeiras veladas com os nomes dos personagens, a noção explícita de que há uma mente prodigiosa e muito bem versada por trás de cada linha de texto...

Mas, além das ligações táteis e incorpóreas entre os seis personagens principais – as quais abrangem um período de cerca de 1000 anos- , existe um tema unificador em “Cloud Atlas”. E ele é, muito infelizmente, o pior ponto do livro. O que é triste. Uma obra deste porte ser cosida com uma linha tão tênue e rota é o equivalente a Luke Skywalker descobrir, ao final do segundo Guerra nas Estrelas, quando Darth Vader revela que é seu pai, que tudo não passou de um sonho psicodélico movido a LSD e acordar suado, enrolado no cobertor em um apartamento no Brooklyn dos anos 70, segurando uma lava lamp à guisa de sabre de luz. Para a sorte do leitor, o tema unificador não é explícito (e nem de longe tão ruim quanto o sonho de Luke!): é possível curtir os ótimos lados positivos relevando-se aqui e ali as passagens nas quais o tema ameaça dar as caras.

E qual seria o tal “tema unificador”? Caso não fique patente durante a leitura, Mitchell revela em uma entrevista: “[...] o tema do livro é o instinto predatório, a maneira como indivíduos predam indivíduos, grupos predam grupos, nações predam nações, tribos predam tribos. Então eu pego este tema e de certa maneira o reencarno em outros contextos [...]”. Durante os estudos para a confecção dos capítulos de Adam (ou Adão, o “primeiro” narrador) Ewing, Mitchell se baseou em “Guns, Germs and Steel”, de Jared Diamond. Numa má leitura da boa obra, deve ter pegado daí um afã incontrolável de criticar o progresso com base em argumentos fraquinhos e cheios de “–ismos” (colonialismo, eurocentrismo), retirados poeirentos do arco da velha e espanados com um ou outro “–ismo” moderno (como o ambientalismo). Esta visão cínica da humanidade, esta história do mundo “dog eats dog”, tão batida, fica muito aquém do que um escritor inteligente, criativo e, principalmente, inovador como Mitchell é capaz.

O melhor de tudo? É que os dois parágrafos acima, um pouco mais críticos ao livro, são um grãozinho de poeira incômodo em uma obra maravilhosa, estilisticamente impecável, artisticamente genial, original ao quadrado e que deve ser lida com grande prazer.
Alex 18/02/2013minha estante
Eu venho acompanhado suas resenhas há algum tempo. Não tinha dúvidas que vc gostaria dos comicismo do Cavendish.

Alguém devia lhe dar uma escada.


desto_beßer 01/03/2013minha estante
Olha, Alex, fazia tempo que eu não via um personagem tão eficaz na arte da ironia como o Cavendish!




Isabel 09/03/2013

Você já viu uma Matrioshka? São umas bonequinhas russas, de diferentes tamanhos, que se encaixam uma nas outras. A externa é sempre a maior, e conforme vamos retirando as peças, obtemos uma bonequinha igual, porém menor, até chegarmos a última, a única que não é oca.

Não sei se dá para entender o que quero dizer com a explicação acima, mas talvez dê agora: foi assim que me senti lendo o livro Cloud Atlas (cuja adaptação cinematográfica no Brasil foi traduzida como A viagem). São seis histórias, entrelaçando das maneiras mais loucas porém lógicas possíveis, dando sensações inexplicáveis de Deja vu – não no próprio livro, mas nas nossas próprias vidas.

Começamos com Adam Ewing, um advogado americano do século 19 que se vê alienado da família e amigos a trabalho nas ilhas do Pacífico. Depois de cumprir o seu dever, Adam tem como companheiros de viagem um excêntrico médico, um parasita no cérebro e um escravo fugido – que, a sua maneira, lhe ensinarão sobre solidariedade, confiança e amizade. Tive que respirar fundo e considerar a época em que ele vive algumas vezes: Adam, como é de se esperar, é extremamente racista, contando o massacre dos nativos das ilhas que visita em tom jocoso.

Depois temos Robert Frobisher, um talentoso jovem músico que é expulso de casa e deserdado por seu pai rico graças a seus hábitos socialmente condenáveis. Se isso já seria complicadíssimo hoje em dia, imaginem no Reino Unido de 1936 – depois de uma confortável vida como filho de um clérigo, ele se encontra sem um tostão. Para sobreviver (e se desenvolver musicalmente) Robert se oferece como aprendiz de Vyvian Ayrs, um brilhante compositor belga que não produz há anos graças a uma doença que rouba sua vitalidade. Como é de se esperar, Ayrs é rabugento e flerta com a desonestidade, e cabe a Robert usar sua capacidade de manipulação – sua característica que mais o define – com o velho músico. Robert é adorável, aquele tipo de personagem com quem não gostaríamos de conviver (ler nota sobre manipulação) mas de quem gostamos das vitórias e sorvemos lágrimas com as derrotas. Um manipulative bastard clássico.

Louisa Rey é uma jornalista de revistas de fofocas nos anos 70, vivendo entre cantadas dos entrevistados e matérias sem sentido sobre as refeições das celebridades. Filha de um correspondente de guerra aclamado, Louisa quer realmente fazer a diferença no mundo – o que é complicado quando suas pautas são todas sobre o novo corte de cabelo de uma atriz de sitcoms. Depois de ficar presa no elevador com um cientista da base nuclear local, a oportunidade aparece: repentinamente, Louisa se vê envolvida com conspirações governamentais, assassinos de aluguel e velhos amigos.
O representante de nossos tempos, Timoty Cavendish é o editor de um recente sucesso, “Knuckle sandwich”, as memórias de um criminoso de pavio curto e pouca habilidade com as palavras. O livro ganha notoriedade e tudo é maravilhoso para o antes falido Timoty, mas há só um problema: os irmãos de seu autor best-seller (que voltou para a prisão) estão em seu encalço, querendo sua parte nas vendas.

Ah, eu precisaria de um livro inteiro para falar de Somni. Em um lugar chamado Nea So Corpros da Ásia futurística, Somni é uma fabricant, ou seja, uma pessoa gerada em laboratório para um trabalho específico – nesse caso, servir as mesas no Papa Song, uma franquia de arcos dourados que me lembra uma tal lanchonete moderna (até mesmo no tratamento de seus empregados). A Somni e a suas “irmãs” (todas as fabricants são aparentadas) é prometido, depois de doze anos, uma mágica aposentadoria na linda ilha do Hawaii, mas algo sai errado na programação genética de nossa garçonete. Nea So Corpros é um dos mundos distópicos mais maravilhosos e bem construídos que já vi, e confesso que acelerei a leitura algumas vezes para chegar logo em Somni – as outras histórias são maravilhosas, mas há algo de excepcional aqui. O nível de detalhamento (presente em aspectos pequenos porém importantes, como expressões idiomáticas) é tremendo, me fazendo desejar que David Mitchell possuísse o detestável hábito de transformar livros únicos em enormes séries.

Finalmente chegamos a Zachry, habitante de um mundo pós-Somni completamente destruído, onde os poucos humanos restantes vivem em ilhas, voltando a crenças e hábitos tribais – apenas os chamados “Prescients” mantiveram a tecnologia da época de Nea So Corpros.

Depois dessa longuíssima sinopse – não havia como não sê-lo – vamos aos comentários. Já chorei algumas vezes depois de terminar um livro, mas isso ainda é exclusivo daqueles muito bons – o que foi o caso. Como assim, David Mitchell? Cadê o pozinho mágico para obras maravilhosas?

Começando pela narrativa: um grande problema de livros narrados por diferentes pessoas é que raramente o autor se desfaz do seu próprio estilo entre capítulos. O leitor de Cloud Atlas não tem essa reclamação: é possível desconfiar até mesmo que foram feitos por diferentes pessoas. Zachry é quase ilegível e sem gramática, Robert polido e poético, Somny cheia de expressões criativas de seu novo mundo, Timoty cheio de referências e Louisa no melhor estilo policial – sim, há alteração até mesmo nos gêneros literários. Ainda que todos esses personagens vivessem na mesma linha de tempo e espaço (e viveram, de certa forma) seria impossível confundir um com o outro.

Ou David Mitchell é um gênio ainda não reconhecido ou rascunhou Cloud Atlas a sua vida inteira: o nível de complexidade dos dois mundos futurísticos é imenso. Eu voltava para ler trechos de Somni, aflita, com medo de ter perdido algum detalhe importante – e geralmente esse medo era justificado: de forma natural, Mitchell inseriu os aspectos para nós desconhecidos. A corporcracy (corporaçãocracia, talvez?) é ao mesmo tempo tão conhecida e tão diferente, um mundo fascinante que quero ter para mim e me faz ter vontade de voltar a escrever fã-fics (e isso é muita, mas muita coisa).

Depois de vermos todos os personagens em ordem cronológica, voltamos, na ordem inversa, os acontecimentos com ganchos perfeitos entre si. Uma das frases da capa (aliás, não me conformo de ter a edição do filme, isso precisa ser corrigido) acaba que resume Cloud Atlas: tudo é conectado. É egoísta e irresponsável pensar que nossas ações vão dizer respeito só a nós mesmos, tudo ecoa na eternidade. Me odeio por tratar uma questão de cunho individual dessa maneira tão ferrenha e determinista, mas agir como uma ilha e acreditar pertencer somente a si mesmo só pode derivar de algum tipo de cegueira bem peculiar.

Sou uma leitora em segunda língua preguiçosa, confesso: só a curiosidade extrema me faz procurar uma palavra em inglês no dicionário. Com Cloud Atlas, porém, nem o auxilio do Cambridge me salvou: alguns trechos precisei ler cinco, seis vezes para entendimento completo. Prevejo que o tradutor para o português terá sérios problemas na tradução de expressões, neologismos e gramáticas diferentes. Isto é, se é que haverá: aparentemente, mesmo com o lançamento do filme, nenhuma editora se interessou nas terras tupiniquins. Cruzo meus dedos para que isso aconteça em breve – Cloud Atlas é um daqueles livros que me fazem ter vontade de não descansar um segundo até que cada ser humano no planeta se maravilhe também.
Publicada originalmente em distopicamente.blogspot.com
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Rick-a-book 19/05/2012

An infinite matryoshka doll of painted moments
"He who would do battle with the many-headed hydra of human nature must pay a world of pain and (...) understand (that) your life amounted to no more than one drop in a limitless ocean. Yet, what is any ocean but a multitude of drops?"
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Newton Nitro 21/07/2012

Magnífico!
O livro é excelente, seis histórias ligadas por encarnações diferentes de um mesmo personagem. David Mitchell é um escritor fantástico, as seis histórias possuem diferentes vocabulários e estilos literários, porém a obra possui uma unidade temática que demonstra grande habilidade literária. O livro mistura Ficção Científica, com Thriller, com romance histórico, com diários de época, mesclando gêneros e trabalhando a linguagem ao mesmo tempo. Recomendo!
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EdgardRefinetti 04/04/2013

Cloud Atlas
Chegou aos cinemas no Brasil como 'A Viagem'.

20% - É composto por 6 histórias levemente conectadas, que vão do século 19 até o futuro remoto.
40% - O diário de um advogado no século XIX na Oceania. Cartas de um jovem músico bon-vivant em 1931.
60% - Todas as histórias são bem diferentes em tom, prosa e tema, mas interconectadas por detalhes.
80% - Cavendish é muito divertido. E a única frase completa do Sr. Meeks justifica sua existência.

A cada história concluída, o fechamento do livro ganha mais peso: impressionante. Livro brilhante!

Excerto [minha tradução livre]:
"[...] enquanto você dá seu último suspiro você deve entender, sua vida não passou de uma gota em um oceano sem fim! Mas o que é qualquer oceano além de uma infinidade de gotas?"
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Thai 28/01/2013

Uma jornada extraordinária
"Yet what is any ocean but a multitude of drops?"

Cloud Atlas é um livro que apresenta uma estrutura um pouco diferente da maioria dos livros que já li. Seis diferentes estórias são apresentadas, cada uma trazendo algum elo com as demais. David Mitchell utiliza diferentes estilos de narrativa para cada parte do livro (diário, carta, entrevista), o que enriquece bastante a leitura.
O enredo é bastante criativo e mostra como todas as nossas ações são conectadas de alguma forma, apresentando reflexos mesmo num tempo muito distante. As reflexões sobre a estrutura da nossa sociedade e da importância que cada pessoa tem para o futuro da humanidade são inúmeras.
Um fator limitante para a leitura do livro aqui no Brasil - por enquanto - é a ausência de edições em português. É necessário um certo conhecimento da língua inglesa para a leitura de Cloud Atlas, devido à linguagem desenvolvida pelo autor para apresentar um período pós-apocalíptico, que se baseia sobretudo na similaridade fonética das palavras inventadas com o seu real significado, como se fosse uma "evolução" do idioma. Caso o idioma não seja um obstáculo, a leitura é recomendadíssima. O livro é fascinante e certamente estará sempre entre os meus favoritos (vale ressaltar ainda que o filme homônimo não é tão fiel à história e jamais substituirá sua leitura).
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Wolf 06/08/2013

Um quebra-cabeças fenomenal.
Um livro? Não, são seis em um. Histórias que se ligam umas às outras como pontos numa peça de crochê.
Cada história, uma época, uma linguagem, uma forma diferente de narrativa.
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aarrgh 15/12/2013

Este é um livro completo.

Vi todo mundo falando sobre, li a sinopse: não, péra, vai de 1800 até um futuro pós-apocalíptico? Não li o resto. Guardei na minha memória - como se eu pudesse esquecer, pois topava com ele toda hora - e decidi ler algum dia, sem pressa... Para minha vergonha, vi que iria ter filme (dos mesmos diretores de Matrix e Corra, Lola, Corra!!!) e decidi que tinha que lê-lo antes de lançar. Encomendei. Não me arrependo, porém.

Abri o livro, li a primeira frase: o quê? Ri. Li de novo, li de novo. Olhei no dicionário, olhei no dicionário, olhei no dicionário. Divertido. Já sabia o que me esperava. Folheei. São só 39 páginas disso, depois é outra história, dá pra ler; olha só, essa parte termina no meio de uma frase; essa parte não era a mesma do início?; meu Deus, o livro termina onde começa!; é como se fossem bonecas matrioshka! A última parte é mentira, mas você pode ver o meu estado de excitação. Voltei ao início, recomecei. Não dava ainda. Fechei o livro, guardei na estante, olhando de soslaio, rindo por dentro.

Dois dias depois peguei o livro novamente. Aceitei o desafio. Li desconfortavelmente na cadeira do computador para evitar comutações inúteis do sofá ao dicionário online. Na página 15 já estava cansado. Hum, estou gostando mais do que pensava. Mas estava cansado. Tinha que ler o parágrafo, ver as palavras que não sabia, ler de novo, olhar no dicionário, ler de novo, essa palavra eu já vi, como pude esquecer?, olhar no dicionário, ler de novo, ler de novo, ah, entendi. Hm. Outro parágrafo.

Voltei à(s?) história(s?) quase uma semana depois.

Ao todo foram alguns meses lendo um livro de quinhentas páginas. O filme já tinha saído dos cinemas (droga, todos aqueles efeitos). Depois daquele dia já tinha me acostumado com a primeira parte quando ela acabou, e o livro foi ficando mais fácil à medida que prosseguia.

Minha relação com ele foi toda assim: ler algumas páginas, passar uns dias sem ler, ler freneticamente, essa parte é mais lenta, mais duas semanas, ler freneticamente, droga tenho mesmo que ir pra escola?, ler na escola, voltar da escola, ler até terminar essa parte, e esta parte no meio?, boa também, muito boa, voltar a ler freneticamente, passar alguns dias com aquela história na cabeça, prosseguir pra próxima parte, continuação da outra, argh, tá insuportável já, um mês sem ler, de volta a continuação do início, não tô conseguindo, assistir ao filme, voltar a ler, terminei!, até que enfim, velho.

Alguns dias depois: até que enfim?

Peguei o... livro?, folheei de novo, lembrando dos acontecimentos e da primeira vez que o abri. Olhei-o na estante: é mesmo só um livro? Não parecia. Eu tinha passado tanto tempo com ele, que vê-lo ali, no meio de outros livros que eram só livros, contido naquelas páginas, contido naquele espaço contido entre capa e quarta-capa... Parecia impossível, não podia ser.

Agora, quase um mês depois, me pego pensando em Sonmi-451 e sua jornada; em Zachryyy-yy-y e Meronym; na tristeza e triunfo de Frobisher; em Luisa Rey protagonizando a ficção de polpa escrita por Hilary V. Hush; nas provações de Timothy Cavendish; em Adam Ewing e seu diário do Pacífico... e querendo escrever uma resenha que pensei que nunca faria e que ainda não sou capaz de fazer.

Como você já deve ter percebido, o livro conta a história desses personagens, de uma marca de nascença, da predação humana, de coisas geniais em seis histórias que se espelham, cada uma sendo encontrada na seguinte em um formato (um diário, cartas, um romance, um livro de memórias, uma entrevista, uma história oral) e sendo contestada quanto a sua veracidade pelos personagens.

E por que esse é um livro completo?

Bem, ele vai ser divertido e insuportável; te faz chorar se você é do tipo de pessoa que chora em filmes; te faz rir se estiver disposto; corta o seu coração algumas vezes; te faz ficar revoltado; exige muita atenção em algumas partes, e em outras você encontra umas frases sem nexo porque leu muito rápido mas não consegue parar.

David Mitchell narra a história no estilo de Moby Dick, com o vocabulário próprio da época; na voz de um compositor de 1930; cria quase um dialeto para um futuro pós-apocalíptico; escreve mal quando quer; escolhe cuidadosamente a cadência das palavras para mostrar a frieza de uma Coréia futurista dominada pelo consumo; e se existisse uma comédia britânica sobre um velho fugindo de um bando de irlandeses a quem deve dinheiro, seria a história do velho Timothy Cavendish.

O livro é cheio de detalhes que se repetem nas histórias, que você se diverte em achar. O autor fala alguma coisa por meio dos personagens, que é o mesmo que estar falando com o leitor. Ele contesta a própria escrita; com todas aquelas referências, ele te pergunta se não é demais. E ironiza com o próprio formato do livro.

Mitchell disse que queria escrever um livro que tratasse da predação humana, como um grupo/indivíduo exerce domínio sobre outro, e das diversas formas que essa predação ocorre. Ele cita as ideias de Nietzsche, que eu vi em alguma resenha, dizia que todos os seres vivos tem a vontade de obter mais poder, e se assim não fosse, não haveria como existir vida, porque todo ser vivo quer “crescer, se espalhar, apoderar, se tornar predominante – não levando em conta moralidade ou imoralidade, mas porque é vivo e a vida é simplesmente a vontade de dominar [...] ‘Explorar’ [...] pertence à essência do que vive, como uma função orgânica básica; é uma consequência da vontade de dominar, o que é, afinal, a vontade de viver”. Ao saber disso eu fiquei um pouco decepcionado, mas à medida que fui lendo e descobrindo as diversas formas (sutis ou não) de dominação que ele coloca no livro, eu achei genial.

Eu não gostei tanto do filme (que a propósito recebeu no Brasil a tradução perfeitamente sem sal, nada-a-ver, aleatória e vulgar de “A Viagem” [qual é o problema com “Atlas das Nuvens”?]), porque quebrou todas as minhas expectativas. Eu não esperava nada comparado ao que tinha lido, mas esperava que os elementos principais do livro fossem mais explorados, e não trocados a ordem de importância: substituíram o tema de predação pelo de reencarnação, que no livro é muito mais sutil, e para mim, não é exatamente “reencarnação”, para mim o autor queria mostrar como a história se repete, como o ser humano é o mesmo ontem e hoje, como ele é o predador-mor de outros seres e da própria espécie.

Quem quiser se aventurar no livro em inglês, eu recomendo dois sites que me ajudaram muito. O primeiro é tipo um resumo/resenha de cada seção do livro, o segundo tem tipo uns marcadores: se você se deparar com a palavra "schooner" ou quiser saber onde diabos fica Mauna Kea, é só clicar na página que você está que às vezes aparece explicando.

http://editorialeyes.net/the-cloud-atlas-readalong/
http://www.bookdrum.com/books/cloud-atlas/9780340822784/bookmarks.html

Quem quiser esperar por Cloud Atlas em português, a Companhia das Letras vai lançar o livro em 2014, se não me engano.
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Manu 27/01/2018

Vale encarar as 500 páginas
Demorei mais do que gostaria para terminar este. Não tanto pela complexidade do enredo (que é o mais maravilhoso neste livro), mas porque as seis histórias se passam em épocas diferentes e, portanto, o inglês entre elas varia muito (a que se passa no século XIX tem o inglês bem rebuscado, e as que se passam no futuro têm um inglês "evoluído" com palavras e termos basicamente inventados). Por isso, até que eu me habituasse à linguagem e entendesse o que as coisas não-familiares queriam dizer, era fácil acabar me perdendo no enredo. Acabei comprando o livro em inglês porque o quis logo depois de ter assistido ao filme (A Viagem) assim que foi lançado. Mas demorei para ler, e agora soube que já há uma versão traduzida (Atlas de Nuvens) que gostaria muito de ler para ver o que o tradutor fez em alguns casos que devem ter exigido muita criatividade. As seis histórias são bastante diferentes entre si e o livro poderia facilmente ser tomado por uma compilação de contos, não fosse a inteligente e sutil conexão entre eles. Sua disposição no livro, também, é o que dá o tom original da obra, que já é considerada um clássico. Como disse, muito inteligente e bastante interessante. Recomendo a leitura.
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SocorroBaptista 02/02/2024

São praticamente seis livros, seis narrativas, que se entrelaçam de forma não convencional, deixando o leitor confuso. Não é um livro para ser lido rapidamente, muito pelo contrário, mas é uma viagem interessante, que traz muitos questionamentos sobre a posição humana no mundo.
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