Aprender a rezar na era da técnica

Aprender a rezar na era da técnica Gonçalo M. Tavares




Resenhas - Aprender a rezar na era da técnica


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Ocelo.Moreira 15/11/2011

Aprender a Rezar na Era da Técnica
Terminei de ler hoje um dos maiores livros que já li em minha vida, senão o maior, sem precedentes. Sabe aquele livro que você quer logo devorá-lo, entretanto, começa a criar hiatos para tão cedo não terminá-lo. Em Aprender a Rezar na Era da Técnica Gonçalo nos transporta para um estranho ambiente familiar, em que o medo não é apenas proibitivo, mas também ilegal, onde Lenz Buchmann torna-se um cirurgião competente. Buchmann, fascinado pela subserviência coletiva ao presidente do partido, sofre uma transformação, abandona a medicina e começa então a operar a doença de uma cidade inteira e não de um único e insignificante ser vivo. Mas nem mesmo o poder absoluto exime o ser humano da fraqueza e da enfermidade. Gonçalo M. Tavares com seu domínio sobre a língua portuguesa nos mostra em seu precioso livro Na era da Técnica ou da tecnologia com competência e eficácia a serviço de um poder totalitário, já não importa os valores morais e o sentimento. E o autor nos faz perceber o limite da ambição humana que o protagonista Buchmann revela nessa narrativa densa e sedutora em seu mais infinito mundo ficcional.
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Toni 20/05/2021

Leitura 32 de 2021

Aprender a rezar na era da técnica [2007]
Gonçalo M. Tavares (Portugal, 1970-)
Cia. das Letras, 2008, 360 p.

Uma das coisas mais fáceis para o Toni leitor é ler um livro sem expectativas (juro que um dia monto um curso-relâmpago para curar o mundo desse mal); não obstante, ainda que os livros sejam via de regra inocentes no que tange ao que esperam deles seus leitores, existem sim casos em que uma, duas, três obras preparam tão bem o terreno para a quarta parte de uma tetralogia que, quando a leitura desta se finda ficamos um pouco, como se diz, ainda que levemente, quase sem querer-querendo, lá vem a palavra indesejada: decepcionados.

Não, “Aprender a rezar…” não é um mau livro, que fique claro. Trata-se, como diz seu subtítulo, “Posição no mundo de Lenz Buchmann”, e os nomes de suas três partes, (“FORÇA”, “DOENÇA” e “MORTE”) de um romance que acompanhará, com o mesmo cinismo que marcou todo “O reino”, a vida de um “admirável” médico cirurgião que, cansado de salvar a vida de organismos doentes, resolve se dedicar à política para salvar comunidades inteiras de indivíduos. Há, no entanto, uma pedra incontornável nessa trajetória: Buchmann é um homem sem escrúpulos e cruel, seguro de sua superioridade moral/social e completamente convencido de que o mundo é o melhor possível graças a pessoas como ele e à capacidade espantosa da era da técnica (pós-guerra e feito da mesma) para transformar homens em máquinas de obediência.

A decadência física e psíquica pela qual passa Lenz Buchmann sinaliza o próprio adoecimento, ou insustentabilidade, dos regimes totalitários, cuja ética perversa, centrada na eficiência, não conhece sentimentos humanos fora da chave lucro/poder. De um ponto de vista mais crítico, o livro traça um caminho um tanto quanto óbvio (reforçado pelos nomes das partes do livro) e privilegia o “dizer” no lugar do “mostrar”, transmitindo repetidamente (como máquina de narrar) a história de Lenz em forma de sumário (entrecortado por algumas cenas). Há quem goste desse recurso, como há quem crie toda uma literatura a partir dele: não condeno, mas achei cansativo. Encerrada a tetralogia, "Jerusalém" permanece como favorito.
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Estêvão 03/04/2021

Último livro da quadrilogia O reino, Aprender a rezar na era da técnica encerra a série com uma trama que, a exemplo das anteriores, é repleta de reflexões filosóficas sobre o homem, o poder, a ciência, a guerra. A obra se passa em um pós-guerra no qual as relações de poder já estão postas, com as hierarquias sociais estabelecidas.

Nesse cenário, o personagem Lenz Buchman nos guia a partir de sua percepção extremamente objetiva da realidade, expondo-a como um mecanismo que apresenta suas engrenagens e um funcionamento quase mecânico.

Lenz é médico, e seu olhar para a vida como um todo é influenciado por essa visão técnica que tem sobre os organismos. No início, acompanhamos com se estabelece essa relação de Lenz com o corpo individual, como enxerga o outro.

Esse olhar frio, mais adiante, vai se estender ao corpo social, a partir da escolha de Lenz por ingressar em um partido político e torna-se uma personalidade pública.

Nota-se, com isso, que o próprio romance se estrutura de forma bastante racional, nos possibilitando analisar a vida e a sociedade a partir de uma perspectiva objetiva que muitas vezes torna-se exagerada, por não vermos mínimos traços de humanidade nas ações de Lenz.

A escrita aqui é algo muito bem colocado, direta, sem rodeios, e até nos momentos mais reflexivos mostra-se econômica, o que às vezes até complica o entendimento.

A obra apresenta capítulos curtos, que muitas vezes apresentam uma ideia em poucos parágrafos, criando uma concisão que reforça o modo como o personagem principal lida com os fatos da vida.

Porém, se por lado essa crueza nos dá um retrato convincente dessa realidade, por outro é impossível não nos indignarmos com o que lemos. É como se a obra passasse a exigir de nós um posicionamento, não cabendo a ela nos guiar nessa escolha, mas apenas mostrar friamente como as coisas se dão.

Não se trata de uma obra que exija muito, ao contrário de outras do autor bem mais complexas/confusas, mas que, no conjunto com os outros livros da série, fecha bem essa proposta de refletir sobre o ser humano e seu reino em diversos contextos, sempre com uma pegada filosófica e um olhar objetivo diante da vida.
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