Seleções de Livros Reader

Seleções de Livros Reader's Digest Sue Grafton
Jeffery Deaver
Luanne Rice




Resenhas - Coleção Seleção De Livros


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MF (Blog Terminei de Ler) 23/06/2020

A autocensura por meio do consumo de livros mutilados e da terceirização da escolha do que você deve ler
“Seleções de Livros: Reader’s Digest”, uma antologia com quatro livros de autores estadunidenses. São versões condensadas das obras originais. Faz parte os seguintes livros:

- “Dança com a morte” de Jeffery Deaver. Na obra, o criminalista nova-iorquino Lincoln Rhyme tenta prender o assassino conhecido como “Dançarino da Morte”, responsável por três homicídios.

- “No sétimo céu” de Luanne Rice. Na obra, a lojista Sarah Talbot luta contra uma doença grave e, em paralelo, começa a se envolver com um piloto de aviões.

- “Nó de carrasco” de Sue Grafton. Na obra, a detetive Kinsey Milhone, recém saída de um relacionamento, tenta descobrir o que preocupava um policial veterano antes de sua morte súbita.

- “O ouro de Stonewall” de Robert J. Mrazek: Na obra, um jovem, após se envolver em uma briga, consegue a posse de um mapa que leva a um estoque de ouro. Ele parte, então, em busca do tesouro.

HISTÓRICO E PERCEPÇÕES

Eu li os dois primeiros livros em meados de 2002, quando ainda começava a minha jornada como leitor. Na época, como não tinha livros próprios, eu pegava emprestado com amigos e na biblioteca da escola onde cursei o ensino fundamental. Eu li as duas primeiras obras, mas precisei devolver o livro. Anos mais tarde, encontrei o mesmo volume num sebo e comprei. Somente em 2019 consegui ler os outros dois livros do volume.

Lembro-me que gostei de “Dança com a morte”. É um típico romance policial, que te enrola até o final para saber o que aconteceu. Bem genérico. Na época, achei interessante o fato do protagonista ser cadeirante, o que, infelizmente, não é muito comum na literatura.

“No sétimo céu”, por sua vez, ficou guardado na minha mente como uma das coisas mais açucaradas que eu já li, feito para, propositalmente, chorar. Mesmo sendo mais emotivo, não me comoveu na ocasião.

“Nó de carrasco” é outro livro policial. Possui um ritmo que oscila, mas, como é comum nesse gênero, a curiosidade te instiga a prosseguir. Faltou alguma coisa no desenvolvimento da protagonista. Fiquei me perguntando se a ingenuidade dela, em alguns momentos, poderia ser influenciada pelo fato dela ter saído de um relacionamento, premissa incluída na obra e que não é desenvolvida profundamente. Seria pelos cortes que a editora fez? Falarei mais disso adiante.

Por sua vez, “O ouro de Stonewall” é um romance histórico. Inicialmente, imaginei que se tratasse de um western mas, no correr das páginas, descobrimos que a trama se passa durante o período da Guerra Civil dos Estados Unidos (1861-1865). Possui bom desenvolvimento. Contudo, o fato do protagonista, em dado momento, se mostrar como um entusiasta dos Estados Confederados, fez eu criar um pouco de antipatia. Entretanto, o fato do romance ter alguns alicerces em fatos e personagens reais, resultado de uma pesquisa feita pelo autor, nivela a balança de minhas percepções. Dentre os quatro livros, é o melhor.

READER'S DIGEST, AUTOCENSURA E CONCLUSÃO

A Reader’s Digest é uma revista (e editora) estadunidense, fundada no início da década de 1920, que no Brasil é conhecida pelo nome de “Seleções”. É uma das revistas mais vendidas dos Estados Unidos e, consequentemente, do mundo, com a publicação de edições em vários outros idiomas. Além das revista, são publicados livros condensados, como estes que li.

A proposta da revista é, na visão dela, estimular o hábito da leitura, fornecendo matérias leves e informáticas sobre diversos assuntos, como saúde, cultura, curiosidades, turismo, humor, etc.

A Reader’s Digest, desde sempre, possui um alinhamento conservador e, durante a Guerra Fria, principalmente, assumiu uma postura anticomunista. Talvez esse conservadorismo explique alguns pontos sobre a editora que me incomodam.

O primeiro ponto é: por que consumir textos escolhidos a dedo? Qual a vantagem disso? Uma das atitudes que se espera de um ser humano bem informado é que procure ter acesso a todos os pontos de vista sobre uma determinada questão. Isso favorece a formação de opinião. Ao delegar isso para uma editora, alinhada ideologicamente conosco, criamos voluntariamente uma bolha na qual a opinião divergente inexiste. Abrimos mão de desenvolver, igualmente, o senso crítico. Chega a ser cômico o fato do público conservador consumir uma revista que não instiga o debate de ideias, pelo medo/receio infundado de dar de cara com algo que afronta nossa moral. Ora, ler algo que afronta nossas concepções e valores, que nos instiga ao questionamento e/ou reflexão, é um exercício válido e necessário.

O segundo ponto é: por que condensar/resumir livros? Essa mutilação, além de deformar a obra original funciona, na prática, como um tipo de censura, seja para se adequar a uma quantidade x de páginas, ou talvez, para adequar a obra para a ideologia conservadora (quem duvida?). Por que piorar algo que já é mediano?

Com o passar dos anos passei a ter uma visão muito crítica em relação à adaptação ou compensação de obras. É muito comum ver obras clássicas “ajustadas” para um público adolescente, por exemplo. Não me agrada tais ações. É como se os editores duvidassem da capacidade de seus leitores. É um tema amplo que não pretendo expandir aqui, mas, no caso da Reader’s Digest, essa adaptação possui um componente ideológico que me causa repulsa.

É difícil definir o que foi podado das obras originais para que elas coubessem nessa edição. Quando vemos um personagem sem o desenvolvimento apropriado, vem a questão: limitação do escritor ou corte da editora? Difícil definir.

Concluindo… há em minha opinião problemas da Reader’s Digest de conceito, sobre o papel que a literatura desempenha na formação de um indivíduo. Ao apresentar textos, facilmente digeríveis, que não tirem o leitor da zona de conforto, a editora contribui para a formação de um leitor limitado e preguiçoso, intelectualmente falando. E, ao condensar/compactar livros, a editora deturpa as obras originais, dificultando inclusive uma avaliação melhor daquilo que foi lido. Reitero: onde começa o escritor e onde começa a Reader’s Digest?

A literatura acaba funciona como um fast food: fácil e barato de ser consumido, mas prejudicial à saúde, digo, formação literária. Vale apenas para passar o tempo e olhe lá!

P.S.: Caso tenha gostado do que escrevi, visite https://mftermineideler.wordpress.com/
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Dany_Ri 31/07/2009

Li estes 4 livros durante uma viajem a Minas e tenho ótimas lembranças deles. São excelentes, cada um com um estilo diferente. O que mais gostei foi o dança com a Monte e no sétimo céu. Recomendável.
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