renatamenezes 14/08/2014
A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra
Hoje é um daqueles dias no qual para levantar é preciso fazer um esforço absurdo: tá frio, nada tenho para fazer e vou ficar aqui, deitadinha sentindo o pequeno Martin se mexer até que olho para o lado e vejo o livro “A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra” que terminei de ler ontem na madrugada. Finalmente terminei, digo.
Este livro foi escrito pela psicoterapeuta Laura Gutman, que teve a oportunidade de trabalhar com a querida Françoise Dolto e se especializou em assuntos relacionado a maternidade, lactância, relações familiares e, claro, crianças – mais especificamente a relação da criança com sua mãe (ou a pessoa que desenvolve o papel maternal) e toda essas sensações pelo qual passamos. Gutman fundou a Escola de Capacitação Crianza, onde auxilia mães e desenvolve cursos para profissionais da saúde e educação.
Continuando, eu repito: finalmente terminei este livro! Há um alívio grande em meu peito. Sinto como se minha psicóloga me disse que não preciso mais de suas sessões, da onde eu saía com medo e até chorando. Vou tentar explicar melhor, mas pense bem nesta parte do título “o encontro com própria sombra”. Você conhece sua sombra? Se sim, se não: está preparado para lidar com elas e descobrir novas? Foi isto que o livro fez comigo, ao mesmo tempo que me senti abraçada fiquei assustada.
Laura Gutman explica essa sensação maternal que algumas mulheres possuem e acredita que há uma fusão entre a mãe e o seu filho (o “bebê-mãe” e a “mãe-bebê”), ou seja, aquilo que você, mãe, sente, o seu filho pequeno também sente. Há uma ligação espiritual aí que a gente pode acreditar ou não, mas quanto mais você avança no livro, mais se convence de algo existe nesta relação que envolve a mãe e o bebê em um mesmo ritmo e sintonia.
Esta sintonia pode ser de amor e harmonia como pode envolver a sombra, a tal sombra. A sombra é aquele jeito com o qual o bebê te olha, te lendo. Tudo o que você viveu, tudo o que você teme e tudo que você ama aparece neste olhar desta nova criaturinha e, resumindo, é este olhar que nos causa mais medo, principalmente sendo mãe de primeira viagem que ainda não o encarou.
Para Gutman esta ligação mãe-bebê causa a tranquilidade ou o caos. Caso a mãe esteja com problemas, atuais ou remoendo seu passado, a criança sente e chora por ela, que está esforçando-se para ser forte e não demostrar fraquezas (evitando críticas de todos parentes e amigos desentendidos do assunto, achando que toda mãe deve estar, sempre, alegre e nas nuvens). O livro é praticamente sobre isto: como não temermos nossa sombra e abraçá-la para nos entendermos melhor e, assim, ajudarmos o pequeno sendo fortes por encarar a verdade e comunicando-o o que está acontecendo.
A segunda parte mais importante deste livro é esta, a comunicação. A partir do momento que compreendemos a criança como um ser humano e não um boneco, assimilando que ela é capaz de entender o que acontece, podemos nos comunicar facilitando os momentos difíceis por quais todos passamos, inclusive elas. A separação dos pais, a dificuldade em amamentar, a mãe que não está perto, as brigas que acontecem em casa, a ausência. Gutman explica que se explicarmos para os bebês e crianças o que acontece conosco e a nossa volta, o mesmo capta que não há motivo para ele chorar (ou sentir cólicas, não mamar, não comer, etc.), pois o adulto é capaz de cuidar dos problemas dos adultos.
Ao iniciar o livro o achei um tanto distante da realidade capitalista na qual vivemos, pois Gutman deixa claro que o essencial seria a mãe ter tempo de sobra para cuidar e ficar com seu filho até, aproximadamente, os 18 meses. Quem pode, tem sorte, e quem não pode? Há a necessidade de trabalhar seja por dificuldades financeiras seja por prazer pessoal. Pois então, nossa licença maternidade dura 4 meses (no Brasil) e como não há avós por perto o bebê é colocado em uma escola/creche e sua rotina é transformada (mesmo quando se entra na escola com dois ou seis anos). Começa dias e dias de acordar para se despedir dos pais e passar todo o dia em uma escola que o cansa, pois é o dia inteiro de atividades e de aprendizado, esquecendo-se as brincadeiras, e ao voltar para casa é banho, janta e cama. Não sei se cedi o melhor exemplo, mas é claro que queremos que a criança viva no ritmo do adulto. Queremos realizar o desfralde aos dois anos de idade, queremos que aprenda a ler e escrever cada vez mais cedo, queremos que aprenda várias línguas, vários esportes e vivemos para estimula-los a serem capaz de realizar tudo o quanto antes. Não respeitamos o seu tempo de criança e não temos tempo para elas.
“Concretamente, (os pais) se dão conta dos obstáculos físicos e emocionais que a maioria dos adultos tem para se ocupar 15 minutos por dia exclusivamente de seus filhos, a quem chamam de “sua vida”. Não parece crível que isso seja o que há de mais importante para eles, uma vez que sempre há situações mais prioritárias a atender.”
Agora que já citei os principais pontos discutidos por Gutman e estou pronta para voltar para as cobertas descubro que faltou explicar o meu alívio em poder colocar de volta à prateleira: eu encontrei a sombra. Várias e em vários momentos da leitura. Critiquei a autora, a sociedade e a mim mesma. Reformulei conceitos e crenças e, por fim, aprendi que dentre tantas formas de se educar, entre tantos palpites que lemos e que vamos ouvir quando o bebê chegar, entre tantas atitudes que podemos tomar a única coisa que não pode faltar é a demonstração de seu amor por ele.
e como demonstrar esse amor?, me pergunto. e me respondo:
respeitando, aceitando e comunicando.
site: http://paraevadirse.wordpress.com/2014/08/14/a-maternidade-e-o-encontro-com-a-propria-sombra-laura-gutman-resenha/