Coruja 17/07/2012Eu não tenho bem certeza do que primeiro me chamou a atenção para esse livro. O autor é o mesmo de Orgulho e Preconceito e Zumbis, com o qual, a despeito de algumas bizarrices (os zumbis são o de menos – o que diabos é todo aquele rolo de ninjas???), eu consegui me divertir um bocado. E, salvo engano, o filme, produzido por Tim Burton, estréia mês que vem.
Se for para ser sincera comigo mesma, eu diria que fui atrás desse livro (que consegui através de troca – gostei muito desse negócio!) porque meu conhecimento de história americana é praticamente nulo e eu queria ler alguma coisa sobre o assunto.
Pois é, uma excelente maneira de saber de estudar História, Lulu: leia um mashup que mistura Guerra Civil, presidentes com status quase mítico e vampiros.
Eu não esperava muita coisa dele, de toda forma, e talvez por isso, ele tenha me pego de surpresa – a leitura é bastante fluida, gostosa mesmo, e a narrativa te prende. O foco do livro é muito diferente de Orgulho e Preconceito e Zumbis - lá você percebia que o Grahame-Smith estava realmente só ‘tirando onda’, se divertindo (mesmo que para alguns leitores de Austen isso se assemelhe a heresia...); aqui ele se leva mais a sério e consegue adaptar muito bem às circunstâncias da vida do Lincoln à idéia conspiratória de vampiros utilizando-se do Novo Mundo como curral.
Pesquisei alguma coisa do Abe (olha a intimidade!) à medida que ia lendo e o Grahame-Smith fez realmente um bom trabalho de pesquisa histórica. A vida sofrida, as inúmeras perdas, o esforço para crescer e mesmo sua habilidade com machados, tudo isso faz parte da biografia real de Lincoln. O que o autor fez aqui foi colocar os vampiros como força motriz de muitos dos acontecimentos e ações na vida do Presidente.
Acho que uma das adaptações mais interessantes que foram feitas no livro foi a íntima relação entre a questão da escravidão – que foi um dos motivos da Guerra Civil - e a imigração dos vampiros do Velho Mundo para a América, onde havia mais liberdade para que eles se alimentassem, matando impunemente: ora, se você compra um escravo, ele é sua propriedade, então você pode fazer o que quiser com ele, incluindo usá-lo como milkshake.
Aliás, foi uma das cenas que me deixou mais arrepiada no livro – e ligeiramente nauseada também com as implicações possíveis de interpretação dela -: o mercado de escravos; o intermediário comprando idosos, crianças e mulheres desprezados como trabalhadores mais frágeis, menos rentáveis e finalmente o ‘buffet’ ao chegar na fazenda.
Enfim, foi uma leitura interessante, com vampiros que são vampiros de verdade, que em seus melhores momentos me fizeram lembrar de Entrevista com o Vampiro e que me deixaram curiosa para saber mais sobre a história do famoso presidente. O livro cumpre o que promete. Vamos ver agora o que esperar do filme.
(resenha originalmente publicada em www.owlsroof.blogspot.com)