Istambul

Istambul Orhan Pamuk
Orhan Pamuk




Resenhas - Istambul


19 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Ju Ragni 26/12/2023

Um livro de memórias sobre uma cidade intrigante
É minha primeira leitura sobre Istambul, algo que eu queria fazer há muito tempo. No entanto, talvez eu devesse ter começado com um livro que contasse a história da cidade, formação, população, falasse mais de sua geografia, da dominação romana, de suas guerras, da sua importância na história da humanidade. Esse livro é um livro pessoal, é um livro para quem já visitou Istambul, porque faz referências à cidade, e não a apresenta a quem não a conhece. Diferente de QUATRO ESTAÇÕES EM ROMA, onde o autor também é estrangeiro e compartilha com o leitor suas descobertas sobre a cidade, aqui o autor é Istambulu (é assim que eles chamam os habitantes da cidade), e ao invés de apresentar a cidade, relembra os lugares e acontecimentos que marcaram sua memória. É um livro melancólico, como ele diz ser a atmosfera de Istambul, mas não é maçante e nem arrastado. Tem muitas fotos que captam a essência da cidade, mas todas em preto e branco, para combinar com a tristeza que impregna sua escrita. A Istambul de Orphan é uma cidade decadente, presa entre o orgulho de seu passado glorioso e as incertezas do presente. Quem leu AS CINZAS DE ANGELA, de Frank McCourt, pode pensar em tecer um paralelo entre os dois livros, pois são biografias de infância, mas enquanto Frank nos conta a história da sua infância dramática e sofrida com leveza e até bom humor, Orphan descreve a sua, protegida e abastada com melancolia e tristeza. Gostei do livro, mas aconselho quem for ler a consultar suas expectativas, pode não ser o que você está esperando.
comentários(0)comente



DIRCE 24/05/2022

Fui tomada pelo hüzün.
Sempre fui apaixonada por culturas diferentes da nossa. Quando faço a leitura de um livro sempre busco conhecer sobre a vida do autor. No caso da leitura de Istambul eu já conhecia um pouco sobre o autor, pois já li três livros dele, e gosto muito.
Mas não foi o fato de eu gostar de diferentes culturas e da escrita do Orhan Pamuk que me levou a ler Istambul. Eu assisti na Netflix a série Resurrection: Ertuğrul" ( O grande Guerreiro Otomano) . Foram 5 temporadas e 440 capítulos de pura paixão, sofrimento e encantamento que me fizeram ficar muitas madrugadas acordada. Tudo muito lindo, a história, os figurinos, fotografias e intepretações impecáveis. Chorei rios com a mãe Hayme.
A série termina dizendo que foi a narrativa do povo turco-otomano, mas é claro que ela foi romantizada, afinal não era uma aula de História, tampouco um documentário. Ela nos mostra o surgimento, no século XIII, do povo nômade ( tribo Kayi ) dos turcos de Oghuz, suas migrações motivadas pela fome e ataques dos mongóis , relações hostis com os templários, o fervor religioso e suas conquistas . Também mostra uma cultura onde a mulher é aparentemente submissa, mas elas sabem muito bem empunhar uma espada, quando necessário, e também serem ouvidas e obedecidas.
Por meio de pesquisas, descobri que Ertugrul teria tido 3 filhos, entre eles, Osmã I que viria ser o fundador o Império turco-otomano . Maomé II , seria descendente de Omã I e foi ele - Maomé II - o conquistador de Constantinopla ( oficialmente passou a ser chamada de Istambul em 1930) , nada mais “afrodisíaco” para uma leitora como eu, e assim sendo iniciei Istambul do escritor turco Orhan Pamuk.
Mas chega de blá, blá ( I ) e vamos ao blá, bla (II).
Essa obra é, na verdade, uma autobiografia do escritor, que vai do seu nascimento até o momento que ele opta em ser escritor. Entretanto, não é só sua vida que é narrada. Surge uma outra protagonista a bela Istambul – a cidade que ligava ( liga até hoje pelo canal do Bósforo) o Oriente ao Ocidente, e ,que em seus áureos tempos, era circundada pela sua suposta intransponível muralha, muralha esta, devastada em 1453. Na sua narrativa de O. Pamuk entrelaça a estória de sua vida com a com a História de Istambul -ambas ocorrem simultaneamente - , tanto é que o livro traz um subtítulo: Memória e Cidade.
Mas eu disse a bela Istambul? Não é isso que o escritor nos mostra. Ele caminha por uma Istambul devastada , caminha pelo lado pobre da cidade , nos narra seu cotidiano e o sentimento da melancolia coletiva denominado hüzün, diante de uma cidade que já foi , outrora, gloriosa ,e ,que nos dias atuais , não possui sequer o mérito de se manter como a capital da Turquia – hoje é Ankara.
O. Pamuk traz à tona , escritores poeta , pintores ( ele se dedicava à pintura até se decidir pela literatura ) o que torna o livro riquíssimo .
Se eu esperava encontrar um livro colorido, encontrei um livro branco e preto, como as fotos (inúmeras ilustrações) brancas e pretas, entretanto, é gritante o pertencimento que o autor sente em relação à Istambul, e apesar de ter me encantado com o livro, não pude deixar de ser tomada pelo hüzün.
comentários(0)comente



Renata.Borges 18/04/2022

Istambul. Uma cidade que merece uma visita. Istambul: um livro que merece a leitura. Istambul: história e aventura!
Detalhes poéticos relembrando dados, fatos, locais, amigos, brincadeiras, família. É tão interessante a capacidade descritiva dos detalhes da cidade de forma tão poética, com palavras tão bonitas. E a qualidade da memória? Como se recordar de tudo isso e imprimir tanta realidade, apesar de já ter-se passado dezenas e dezenas de anos?

Repleto de fotos da cidade, é uma delícia de ser saboreado, sentir os odores, mexer nos tecidos, visualizar os panoramas, uma festa para a imaginação. Como alguém pode ter lembranças tão íntegras de temas tão distintos e complexos da sua infância? Descrições sensacionais de seus pensamentos, impressões e alucinações. Magnífico!!!

Faz também uma interessante abordagem sobre a visão dos estrangeiros em relação a cidade. O autor diz que gosta de ler os relatos dos autores ocidentais sobre a cidade, pois lhe parecem sonhos exóticos alheios. Neles ele encontra detalhes que nunca reparou ou que nunca reparou da mesma forma, pois ele está lá cotidianamente. O mesmo ocorre quanto a quantidade de descrições da cidade. Há muitas feitas por estrangeiros, mas quase nada por nativos. Por que? Porque “quando vemos uma cidade de fora é o exótico ou o pitoresco. Para os nativos, a conexão é sempre mediada pelas memórias.”

“… o que importa para um romancista não é o curso dos acontecimentos, mas a sua sequência, e o que importa para um memorialista não é a correção factual do que conta, mas a sua simetria.”

Gostaria de ter lido esse livro antes de conhecer a cidade, mas me parece que ao fazê-lo após a visita, acabei por desfrutá-lo mais, pois me localizei nos bairros, locais e paisagens citados, descritos ou mencionados.

A capacidade memorial e descritiva do autor são fenomenais. A obra é brilhante, o autor, Prêmio Nobel de 2006. Muitos destes premiados realmente tem uma capacidade de escrita superior. Não consigo explicar, mas sinto no jogo das palavras e na fluidez do texto. A qualidade da edição com as imagens ilustrativas foi algo que me conquistou.

Istambul. Uma cidade que merece uma visita. Istambul: um livro que merece a leitura. Istambul: história e aventura!
comentários(0)comente



Ligia.Carvalho 04/07/2021

Melancolia
Um misto de autobiografia com historia. Ler esse  livro é encarar as relações pessoais e familiares do escritor turco e, ao mesmo tempo, caminhar pelas ruas da sua cidade natal.

Cenas cotidianas, análises de antigas imagens e textos jornalísticos, descrição de fatos marcante da história da região e apresentação das particularidades do município. A queda do império bizantino, o nascimento de Istambul, o canal do Bósforo, ocidental x oriental.

O livro é marcado pelo sentimento de melancolia, algo intrínseco a todos os moradores da cidade.
A melancolia é, acima de tudo, um traço cultural da Turquia contemporânea.
comentários(0)comente



otxjunior 18/06/2021

Istambul, Orhan Pamuk
Ao fim do primeiro capítulo de Istambul, seu autor pede ao leitor compaixão. Talvez por conta do completo exercício de autoindulgência que virá nas próximas páginas, enquanto Orhan Pamuk entremeia seu vasto conhecimento enciclopédico - literalmente - da cidade título com seus primeiros anos de vida até sua resolução de seguir a carreira de escritor. Esta amplamente premiada, o autor parece dever a sua conexão com a cidade turca que passou por diversas transformações ao longo dos últimos séculos, como Pamuk garantirá que se conheça tudo a respeito com detalhes.
Ou pelo menos tudo sob seu ponto de vista e de suas influências artísticas. Confesso que após a leitura, Istambul foi completamente desmistificada para mim e substituída pelo quadro em preto e branco que o pintor/autor pinta de seu panorama. O que deve falar mais sobre ele do que a localidade em si, coisa que é até difícil separar, principalmente no último capítulo, que destaco como o clímax da busca do artista por uma voz autêntica.
Apesar dos insights do Pamuk ensaísta sobre seu lugar de origem, é "o outro Orhan" que mais me interessa. Assumidamente de uma família de elite que experimenta a decadência desde a queda do Império Otomano e o estabelecimento da nova República, ele parece necessitar de uma fé em um passado glorioso para profetizar seus grandes feitos vindouros. O conflito das visões oriental e ocidental marca os dramas de um cotidiano familiar, guardadas as devidas proporções, típico.
Mas o foco está realmente na melancolia que contagia os habitantes de Istambul e os leitores deste livro por tabela. Seu autor principalmente parece tirar disto a matéria-prima para seu trabalho e estado de espírito ideal para exercê-lo. Numa relação que não é menos tumultuosa do que a sua com a cidade, a qual ama odiar e vice-versa.
comentários(0)comente



LETRAS e VEREDAS 22/06/2020

A MELANCOLIA DAS RUÍNAS
O escritor turco Orhan Pamuk é uma das grandes vozes literárias dos nossos dias. Agraciado merecidamente com o Prêmio Nobel de Literatura em 2006, esse grande escritor arrancou das ruinas e dos escombros da cidade de Istambul a beleza melancólica que recobre a sua obra literária.

"Istambul: Memória e Cidade" (Ïstambul: hatiralar ve Sehir, 2003) retrata o território da antiga Constantinopla pelo prisma das reminiscências e da melancolia ostentada por suas ruinas, desnudando uma civilização que não reviverá as glórias e os triunfos de seu passado.

A identidade da cidade e do povo de Istambul reside no nebuloso e confuso sentimento representado pelo termo turco hüzün, "que denota uma melancolia antes compartilhada do que particular".

"A hüzün de Istambul não é apenas um estado de espírito evocado pela sua música e sua poesia, mas um modo de encarar a vida que envolve a todos nós, não tanto um estado de espírito quanto um estado mental que, no fim das contas, tanto afirma quanto nega a vida". (p.101)

Outro elemento vital para conhecer a identidade da cidade de Istambul é o seu mítico Rio Bósforo: "surpreender-se com as belezas da cidade e do Bósforo é ser lembrado da diferença entre a nossa vida miserável e os felizes triunfos do passado".

Em virtude de seus posicionamento político de denunciar o genocídio do povo armênio promovido pelo Imperio Otomano, Orhan Pamuk sofreu ameaças de morte que o obrigaram a exilar-se nos Estados Unidos, quatro anos após a escrita de "Istambul: Memória e Cidade".

Ao sabermos dessa informação a leitura dessa fascinante obra não se inscreve apenas em sua dimensão estética, mas também revela-se um ato de solidariedade com um homem cujo destino de sua existência esteve sempre associado a cidade que ele devotou sua subjetovidade e na qual ele talvez jamais regressará.
comentários(0)comente



Luís Gustavo 21/06/2020

Maravilhoso
O autor mistura a história da decadência de Istambul com a história da sua família e de si mesmo. Tem um ar nostálgico muito grande, quando ele descreve a sua infância e como ela se relacionou diretamente com a cidade.
É um livro lindo. Pamuk escreve de maneira livre, mas sempre direta. Ele se abre totalmente, contando suas frustrações, suas descobertas, sua relação com a família e com o dinheiro herdado pelo pai, que ao longo do anos se esvaiu. De maneira indireta, mostra como a decadência econômica de Istambul e sua crise de identidade, por estar, geograficamente, entre o que se convencionou chamar de Oriente e Ocidente, também se refletiu nele mesmo e nos habitantes da região. Ao mirarem sempre no modelo francês de sociedade, a sociedade Turca (e de Istambul) se viu perdida.

É curioso ler esse livro, porque, em boa parte dos momentos nos quais o autor fala da sua própria história, o assunto predominante é para onde, naquela época, ele pensava que iria. No final do livro, quando ele conta de uma conversa com a mãe sobre sua decisão de deixar a faculdade de Arquitetura, na época com 20 anos, para ser artista (no sentido de pintura), ela diz que seria um caminho árduo, com pouco ou nenhum reconhecimento fora da Turquia e dependente das classes ricas do país, e, mesmo assim, fadado à pobreza. Este livro foi publicado em 2003 e, em 2006, ele viria a ser premiado com o Nobel de Literatura.

Um baita livro, muito pessoal, com descrições sobre uma cidade e uma sociedade distante das nossas daqui do Brasil. Recomendo muitíssimo.
comentários(0)comente



Edna 21/05/2020

Uma viagem ao passado
"E como essa atração pelo mundo das sombras, sempre preferi o inverno ao verão em Istambul."

Um dos primeiro turcos a falar abertamente sobre o massacre de armênios promovido pela Turquia no início do Século XX e por esse fato se viu obrigado a abandonar Istambul e se exílar nos Estados Unidos retornando 50 anos mais tarde e é suas memórias que narra neste livro.

Ele conta os fatos históricos da época desde os Impérios Romanos, Bizantino e Otomano até 1923 quando o período Republicano fora incorporado à Turquia.
Mesclando com as memórias entre passado e presente ele apresenta o menino que fora e o outro que desejava ser, da arte e arquitetura à escrita e complementa "__que nossos medos infantis refletem em nós a vida toda."

A melancolia de uma forma diferente, como Ele sente, acompanha toda a narrativa detalhando fatos da cultura como o que é esse estado de espírito melancólico e que difere da tristeza e chega a ser encarado como um prazer.

"A huüzün de a Istambul ñ é apenas um estado de espírito evocado pela sua música e a sua poesia, mas um modo de encarar a vida que envolve a todos nós, ...um estado mental."

Tratando em ambiguidade como à maioria dos sentimentos que são sentidos de formas distintas em cada ser.

"Retornar aos sonhos de nossas riquezas de há muito perdidas, do nosso passado lendário. Da mesma forma, quando vejo a escuridão cair aos poucos como um poema sobre a luz fraca dos lampiões de rua para engolir esses velhos bairros, sinto-me reconfortado de saber que, pelo menos por aquela noite, estaremos a salvo; a vergonhosa pobreza da nossa cidade ficou oculta aos olhos ocidentais."

A narrativa as vezes por ser tão autêntica nos sentimentos e tão descritivas nos transmite em determinados trechos uma melancolia mais atingível e deixa o livro um pouco triste, e foi esse o motivo de demorar tanto para concluído, como um espelho há detalhes nas obras que nos remetem às nossas próprias lembranças.

Além de todas as ilustrações das obras que ele detalha sobre a Istambul do Século XIX que complementa o livro, foi uma experiência que só ganhei em acompanhar e conhecer a Obra Orhan Pamuk através de suas memórias

#Bagagemliteraria
#Istambul
#Istambulmemoriaecidade
#OrhanPamuk
#Bookstagram
#Instalivros
#Fiqueemcasa
#Instalivros
comentários(0)comente



Eliane Maria 10/10/2013

Está tão perfeita a sinopse do skoob, que achei desnecessário fazer muito comentários. De um modo geral esse livro é para ser lido para quem gosta de fatos históricos porém não romanceados.

Sinopse - Istambul - Memória e Cidade - Orhan Pamuk
"Istambul - antiga Constantinopla, sede do Império Bizantino - é uma cidade encravada no meio do grande dilema que se apresenta para a humanidade neste início de século: o encontro entre Ocidente e Oriente. A secularização promovida por Atatürk - herói nacional e fundador da Turquia moderna, em 1923 - baniu as roupas típicas, coibiu costumes milenares e transformou progressivamente o panorama local. Para Orhan Pamuk, que nasceu e passou toda a sua vida na cidade, embora os habitantes tenham cumprido as novas regras, no espírito do povo turco essa operação nunca se completou. Entre a modernização crescente e o apego ao passado, entre ter sido um império e conhecer a decadência, criou-se nos habitantes um sentimento de melancolia que permeia toda a cidade, e também este livro. Sem nunca se ater a um gênero específico - Istambul é parte autobiografia, parte ensaio e parte elegia -, Pamuk traça uma história afetiva de sua cidade e revela, "com os olhos da memória" - nas palavras do escritor Alberto Manguel -, os personagens, as ruas e becos, os grandes e os pequenos acontecimentos que definiram sua vida. O centro de tudo é o Edifício Pamuk, construção que no início da década de 50 abrigava, espalhada em seus andares, toda a família do autor.
Circulando pelos corredores do edifício, o pequeno Orhan tenta dar sentido a coisas que vê mas não entende por completo: as ausências do pai, as fotografias espalhadas pela avó, o indefectível piano que todos seus parentes têm nas casas, mas que nunca tocam. Conforme cresce, ele ganha as ruas, em longos e solitários passeios, e começa a se impregnar dessa tristeza coletiva que assombra a cidade. Mas, ao mesmo tempo em que de certo modo o oprime, Istambul fornece um repertório de imagens - as casas na beira do Bósforo, os incêndios das mansões dos paxás, as enciclopédias de curiosidades compradas em sebos - que para ele ganham enorme força simbólica, e que estarão sempre presentes em sua obra. Como a Dublin de Joyce e a Buenos Aires de Jorge Luis Borges, Pamuk tira da cidade a experiência que o conduziu à arte."
comentários(0)comente



Alexandre Kovacs / Mundo de K 08/08/2013

Orhan Pamuk - Istambul
Editora Companhia das Letras - 400 páginas - Lançamento 24/04/2007 - Tradução da versão inglesa de Sergio Flaksman.

Istambul sempre representou um mistério para o ocidente, localizada entre Europa e Ásia, antiga Bizâncio e Constantinopla, é uma cidade que durante séculos assimilou diferentes culturas, tendo sido dominada pelos impérios Romano, Bizantino e Otomano até ser incorporada à República da Turquia em 1923 devido às reformas políticas implementadas pelo estadista Mustafa Kemal Atatürk. Este livro é uma autobiografia nada convencional, confundindo as memórias de vida de Orhan Pamuk, prêmio Nobel de Literatura de 2006, com a história e os costumes da sua cidade natal à partir de um ponto de vista sentimental, mas ao mesmo tempo questionador e crítico.

Pamuk identifica e define o sentimento de melancolia coletiva dos habitantes de Istambul pela palavra hüzün, um estado característico de tristeza e angústia, originado em parte pela perda das tradições e status da cidade após a queda do Império Otomano e a rápida modernização forçada pelas reformas de Atatürk. Segundo o autor, "a hüzün de Istambul não é apenas um estado de espírito evocado pela sua música e a sua poesia, mas um modo de encarar a vida (...), não tanto um estado de espírito quanto um estado mental que, no fim das contas, tanto afirma quanto nega a vida." Os verdadeiros istambullus, no entanto, não carregam este sentimento como uma dor indesejada da qual devem se livrar, mas sim ostentam a hüzün por escolha própria e até mesmo orgulho.

A imagem exótica de Istambul difundida no ocidente, como explica Pamuk, se deve muito às descrições da cidade feitas por escritores franceses como Gérard de Nerval, Théophile Gautier e Gustave Flaubert no século XIX, estereótipos criados à partir de lendas sobre sultões, haréns e o mercado de escravos, instituições abolidas no século XX após a fundação da República. Talvez todos esses clichês hoje sejam tão estranhos para os moradores de Istambul quanto para os ocidentais e só permanecem mesmo como chamariz turístico.

Na verdade, este livro certamente decepcionará aqueles que buscam uma descrição turística tradicional da cidade e de seus atrativos mais famosos como a Mesquita Azul, Museu Hagia Sophia ou o Palácio Topkapi. Istambul é uma narrativa não linear que mistura livro de memórias, crônicas e ensaio, mas que também tem muito de ficcional, como não poderia deixar de ser em um livro escrito por Orhan Pamuk.

"Quando vejo as multidões em preto e branco que se apressam pelas ruas cada vez mais escuras de um começo de noite de inverno, experimento um sentimento profundo de camaradagem, quase como se a noite envolvesse as nossas vidas, as nossas ruas, cada pertence nosso num manto de escuridão, como se, depois de nos refugiarmos em nossas casas, nos nossos quartos, nas nossas camas, pudéssemos retornar aos sonhos de nossas riquezas de há muito perdidas, do nosso passado lendário. Da mesma forma, quando vejo a escuridão cair aos poucos como um poema sobre a luz fraca dos lampiões de rua para engolir esses velhos bairros, sinto-me reconfortado de saber que, pelo menos por aquela noite, estaremos a salvo; a vergonhosa pobreza da nossa cidade ficou oculta aos olhos ocidentais."
comentários(0)comente



jota 13/05/2012

O menino e a cidade
A apresentação do livro de Orhan Pamuk é feita por Milton Hatoun, um de nossos maiores escritores vivos, autor de Dois Irmãos, entre outros. Então, você não está diante de um livro comum, é certo.

Na contracapa, muitos elogios da imprensa internacional. The New York Times diz que aqui está "a história de uma melancolia invisível e de como ela age na mente de um jovem cheio de imaginação."

Na capa, em primeiro plano, o menino "com olhos de corça", como o próprio Orhan se vê, e ao fundo, sua cidade. E belas fotos em p&b de Istambul, dele mesmo e de sua família e dos habitantes da capital da Turquia (que um dia já se chamou Constantinopla) encontram-se espalhadas por todo o volume.

Nunca fui a Istambul e tampouco havia lido Orhan Pamuk antes. Isso não importa: este livro é interessante demais e nos leva para uma viagem enriquecedora através do tempo à capital da Turquia, especialmente a partir da década de 1950 (Pamuk nasceu em 1952).

A palavra-chave aqui é melancolia. Como afirma o resenhista do New York Times Review of Books, ao evocar as mudanças graduais no panorama de Istambul e nos próprios rostos de seus habitantes, Pamuk expõe o declínio - mas não a queda - de uma grande cidade.

São vários capítulos recheados de muitas fotografias, como já disse, e se a melancolia não pode ser nelas vista porquanto é invisível, claro, pode ser sentida através da elegante escrita de Pamuk.

Acompanhamos suas memórias até a juventude, depois de uma decepção amorosa, quando ele deixa a pintura primeiro, e a arquitetura depois, para se tornar escritor.

Especialmente aí é quando esse menino da capa começa a nos deixar com saudades de sua infância e de sua cidade tão maltratada – ou seria aquela melancolia que acaba passando para nós, melhor pensando? Então já estamos nas páginas finais.

As ótimas críticas dos editores internacionais, publicadas na contracapa procedem, sem dúvida. Istambul, de Orhan Pamuk me agradou tanto quanto o livro de Edmund de Waal, o notável A Lebre Com Olhos de Âmbar, com quem guarda muitas semelhanças. Da mesma forma que o livro de de Waal, Istambul vai para minha lista dos melhores livros lidos em 2012.

Lido entre 04 e 13.05.2012
comentários(0)comente



BibliotecaCCBNB 10/11/2011

Neste livro, o autor traça uma história afetiva de sua cidade e revela os personagens, as ruas e os becos, os grandes e os pequenos acontecimentos que definiram sua vida. O centro de tudo é o Edifício Pamuk, construção que no início da década de 50 abrigava, espalhada em seus andares, toda a família do autor. Circulando pelos corredores do edifício, o pequeno Orhan tenta dar sentido a coisas que vê, mas não entende por completo - as ausências do pai, as fotografias espalhadas pela avó, o indefectível piano que todos seus parentes têm nas casas, mas que nunca tocam. Conforme cresce, ele ganha as ruas, em longos e solitários passeios, e começa a se impregnar dessa tristeza coletiva que assombra a cidade. Mas, ao mesmo tempo em que de certo modo o oprime, Istambul fornece um repertório de imagens - as casas na beira do Bósforo, os incêndios das mansões dos paxás, as enciclopédias de curiosidades compradas em sebos. Pamuk tira da cidade a experiência que o conduziu à arte.
comentários(0)comente



bandida.com 11/02/2011

Tentando pela 2ª vez
O LIVRO É MEIO FRACO CONTA A INFÂNCIA DO ESCRITOR NA CASA DE SUA GRANDE FAMILIA RESIDENTE EM ISTAMBUL ANTIGA CONSTANTINOPLA, ALÉM DE UNS CONTOS TIPO VISITA AO MUSEO, OCORRE ALGUNS CAUSOS QUE CHAMAM ATÊNCÃO E É SÓ, ESTOU NO 3º CAPITULO.
comentários(0)comente



lucio marques 14/10/2009

chiaroscuro
Pamuk de repente conheceu a fama, ganhou o mundo...esteve brilhante feito a Neve no livro homonimo, e em Meu nome é vermelho colore iluminuras na nossa imaginação como desde a idade média não se via coisa igual. Todavia seu Istambul chegou-nos sépia, onde ele parece ter derramado café com leite dormido pra todo lado. Ao final nãose sabe se isso é um scrapbook de memórias de uma turquia que ele viveu na infancia, lembrado em terras outras,e a coisa tem a singularidade da chatura que é ver o album de viagens dos outros, ou ter de ver as fotos cor de ambar de familias dantes wealthy e depois falidas...numa profusão de melancolia e fantasmas! Istambul não se parece em nada com a cidade que lá está hoje, cheia de cores, vida, ponte cultural de ligação de continentes, mais parece um meio charuto deixado no cinzeiro a lembrarnos um cheiro de nargile esquecido na garagem.
Não tem os azuis do céu e do mar, o bater de asas das aves marinhas, o colorido dos barcos, é absolutamente sépia e sem graça. Um chiarooscuro de memorias familiares e cinzentos incomodos com gente de seu passado que já devia ter sublimado...Pamuk ja fez coisa muito melhor e certamente pode fazer uma literatura muito melhor. E o fará!
comentários(0)comente



19 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR