jota 13/05/2012O menino e a cidadeA apresentação do livro de Orhan Pamuk é feita por Milton Hatoun, um de nossos maiores escritores vivos, autor de Dois Irmãos, entre outros. Então, você não está diante de um livro comum, é certo.
Na contracapa, muitos elogios da imprensa internacional. The New York Times diz que aqui está "a história de uma melancolia invisível e de como ela age na mente de um jovem cheio de imaginação."
Na capa, em primeiro plano, o menino "com olhos de corça", como o próprio Orhan se vê, e ao fundo, sua cidade. E belas fotos em p&b de Istambul, dele mesmo e de sua família e dos habitantes da capital da Turquia (que um dia já se chamou Constantinopla) encontram-se espalhadas por todo o volume.
Nunca fui a Istambul e tampouco havia lido Orhan Pamuk antes. Isso não importa: este livro é interessante demais e nos leva para uma viagem enriquecedora através do tempo à capital da Turquia, especialmente a partir da década de 1950 (Pamuk nasceu em 1952).
A palavra-chave aqui é melancolia. Como afirma o resenhista do New York Times Review of Books, ao evocar as mudanças graduais no panorama de Istambul e nos próprios rostos de seus habitantes, Pamuk expõe o declínio - mas não a queda - de uma grande cidade.
São vários capítulos recheados de muitas fotografias, como já disse, e se a melancolia não pode ser nelas vista porquanto é invisível, claro, pode ser sentida através da elegante escrita de Pamuk.
Acompanhamos suas memórias até a juventude, depois de uma decepção amorosa, quando ele deixa a pintura primeiro, e a arquitetura depois, para se tornar escritor.
Especialmente aí é quando esse menino da capa começa a nos deixar com saudades de sua infância e de sua cidade tão maltratada – ou seria aquela melancolia que acaba passando para nós, melhor pensando? Então já estamos nas páginas finais.
As ótimas críticas dos editores internacionais, publicadas na contracapa procedem, sem dúvida. Istambul, de Orhan Pamuk me agradou tanto quanto o livro de Edmund de Waal, o notável A Lebre Com Olhos de Âmbar, com quem guarda muitas semelhanças. Da mesma forma que o livro de de Waal, Istambul vai para minha lista dos melhores livros lidos em 2012.
Lido entre 04 e 13.05.2012