A Fortaleza da Solidão

A Fortaleza da Solidão Jonathan Lethem




Resenhas - A Fortaleza da Solidão


8 encontrados | exibindo 1 a 8


Fer . 09/01/2022

Pseudo Noir
Apesar de não se encaixar na literatura noir, alguns elementos me levaram a ter essa sensação durante a leitura: a violência, o foco no ambiente urbano do Brooklyn, a ideia de um super herói. Em alguns momentos, nas imagens que se formavam na minha cabeça, parecia que eu estava lendo um HQ. E isto tornou a leitura mais prazerosa para mim.
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Alessandro 13/10/2010


"1.


Como um fósforo riscado num quarto escuro:
Duas meninas brancas, de camisola de flanela e patins de vinil vermelho com cadarços brancos, traçando círculo hesitantes numa calçada de pedra azulada e cheia de rachaduras às setes horas de uma noite de julho.

As meninas murmuravam rimas infantis, eram rimas infantis, com seus cabelos rosa-celeste, finos como névoa, fluindo torrencialmente como se nunca tivessem sido cortados. Os pais das meninas tinham deixado que elas voltassem para a rua depois do jantar, desde que antes vestissem a camisola e escovassem os dentes, para se banharem no entardecer rosa-alaranjado do verão, o ar e a luz que pairavam sobre a rua e sobre todo o bairro de Gowanus como a palma de uma mão ou a superfície interna de uma concha. Os homens porto-riquenhos sentados em engradados em frente à bodega da esquina grunhiram diante da aparição, sem saber ao certo o que estavam vendo. Arreganharam os lábios para mostrar os dentes uns aos outros, um gesto que era uma demonstração de paciência, de tolerância solienciosa. A rua estava repleta de chapinhas semi-enterradas no asfalto amolecido, Yoo-Hoo, Rheingold, Manhatan Special.

As meninas, Thea e Ana Solver, brilhavam como uma chama recém-acesa.

Antes dos Solver, uma velha senhora branca já havia se mudado para o quarteirão imbuída da missão de resgatar um dos sobrados violentados, um sobrado que antes era uma casa de cômodos, substituindo quinze homens apenas consigo mesma e seus pertences encaixotados. Ela foi a primeira, na verdade. Mas Isabel Vendle só se movia furtivamente, como um rumor, um apóstrofo dentro de sua brownstone, onde nesse momento ela se arrastava de bengala entre o apartamento do subsolo e o seu quarto no térreo, na antiga sala de visitas, para o quarto onde ela lia e dormia sob o esfacelado teto de gesso não restaurado. Isabel Vendle era curta feito o nó de um dedo, seu corpo se dobrava ao redor da cartilagem de velhas feridas. Isasbel Vendle relembrava um passeio de carro no lago George num barco latado, escrevia cartas mergulhando a caneta num tinteiro, umedecia selos passando-os numa esponja sobre um pires. O tampo da mesa era de cortiça. Isabel Vendle tinha dinheiro, mas os cômodos do subsolo da casa fediam a casca de fruta e jornal molhado.

As meninas de patins eram a novidade, sob o foco dos holofotes para iniciar o show: os brancos estavam voltando para a Dean Street. Alguns."

.........

Há extrema semelhança na narrativa dos jovens escritores norte americanos. Os jovens. Não falo de Philip Roth, não falo de Thomas Pynchon nem Don DeLillo, estes bastiões da literatura estadunidense. Refiro-me aos Jonathans (Lethem, de quem retirei o trecho acima, de seu A fortaleza da solidão; Safran Foer, sem dúvida o mais hypado dos três; Franzen - autor do sensacional As correções). Refiro-me, também, a Michael Chabon e mais uns tantos que, no momento, não me vêem. No entanto, acho que isto é assunto para outro post. Fica a provocação. Segue, então, minhas opiniões sobre este calhamaço de Jonathan Lethem.

Repleto de referências pop, a começar pelo título, e quase todas elas do universo dos quadrinhos - ao estilo e trazendo à mente, instantaneamente, o escritor um pouco mais conhecido no Brasil, Michael Chabon - A fortaleza da solidão, de Jonathan Lethem conta a história de amizade de dois garotos que, em comum, só tem três coisas: os nomes de gênios da música, a paixão pela chamada banda desenhada e o fato de serem criados longe de suas mães, por pais fechados em seu próprio universo (e os dois universos repletos da amargura de serem artistas, cada um em seu campo, não-realizados em suas carreiras). De resto, Dylan Ebdus e Mingus Rude são, com o perdão da frase fácil, opostos que se atraem: Dylan, um dos poucos garotos brancos do Brooklin, importunado quase todos os dias pelos garotos negros do bairro: no começo do livro estamos nos anos 70, quando os ideais da integração racial ainda eram um rascunho em um bairro eminentemente negro e latino; Mingus, o negro bem nascido, filho de ex-cantor de soul, que ao invés de escolher ser mais um dos “agressores” de Dylan, prefere deixar sua marca de outra forma, tornando-se um dos mais ousados grafiteiros do Brooklin.

Os quadrinhos são o ponto de encontro de Dylan e Mingus - mesmo que a escola, os hábitos sociais e tudo o mais (afinal, era uma época em que qualquer atitude estava repleta de componentes raciais que poderiam se tornar faísca para maiores conflitos) compactuassem para o contrário. E são os quadrinhos de super-heróis, mas também o grafite, o soul, o funk e o hip-hop, que se tornam combustível para a amizade que se estabelece entre os dois.

Romance de formação com elementos autobiográficos, A fortaleza da solidão é leitura prazerosa não só pelo ritmo envolvente e extremamente seguro com que Lethem quase que documenta a ocupação do Brooklin por brancos de classe média e a tensão racial decorrente disto. O livro é também um registro do passado recente estadunidense, flagrando a difícil relação entre negros e brancos em meio a uma busca da prometida integração racial
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Rafael 29/06/2009

A amizade entre Dylan e Mingus é uma das coisas mais lindas que já vi na vida. Um professor que tive na universidade dizia que um bom leitor sente o cheiro da boa literatura a quilômetros de distância. Apaixonei-me por este livro desde o primeiro momento em que o vi na prateleira de uma livraria feia e sem maiores atrativos, na qual entrei só para esperar a chuva passar.
A história é de uma simplicidade e beleza únicas. Até hoje, poucos foram os livros que li, capazes de despertar em mim uma vontade de mudar alguma coisa no mundo. Este livro nos faz pensar. Mexe com nossos sonhos, preenche o vazio de nossos corações.
Jonathan Lethem nunca havia chegado nem perto dos meus ouvidos como autor, mas agora é está entre os autores que eu mais gosto no mundo. Boa literatura de primeiríssima linha. Altamente recomendável!
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Joana 09/04/2016

Muito longo e nem sempre consegue manter o pleno interesse do leitor. Mas é uma obra importante para quem quer conhecer um pouco da cena cultural americana dos anos 1960 a 1980 sem recorrer a livros de história, sociologia ou coisa parecida.
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Kaio 09/08/2018

Um livro sobre a amizade e um anel
"Aprendi que encontrar a sua arte é matar o tempo com um tiro só."

Tenho uma vaga lembrança de ter comprado o livro em um brechó da igreja da minha rua, por um preço risível, talvez a uns quatro ou cinco anos atrás. Tinha simplesmente o abandonado na minha estante, sempre ao alcance dos meus olhos, mas nunca tive interesse em lê-lo, talvez meio preconceituoso pela forma que o adquiri e pelo autor que até então era desconhecido por mim.

Mas acontece que resolvi dar uma chance e, se quer mesmo saber, ainda bem que tomei a decisão. Logo estava navegando em um Brooklyn da década de 70, em meio aos conflitos raciais, a violência, as drogas, a solidão.

E que solidão!

Não é possível não comover-se com as trágicas estórias dos amigos Dylan e Mingus. A conturbada Dean Street, a ausência das mães, pais distantes, drogas a um passo de distância, o racismo, a música e as histórias em quadrinho. Tudo tão enraizado na vida dos garotos que entra em conflito com a amizade solitária que existe entre eles.

Uma narrativa incrivelmente realista com uma pequena dose de fantasia. Um anel que concebe o poder de voar e, depois, da invisibilidade aos improváveis amigos,um elo/segredo que os mantém ligados mesmo após ambos tomarem rumos diferentes em suas vidas.

A Fortaleza da Solidão é um livro sobre a amizade, mas também uma profunda reflexão histórica e social sobre os conflitos raciais nos EUA na segunda metade do século passado e, de certa forma, um retrato do racismo institucionalizado que se mantém até hoje.

Um calhamaço para vida!
Edson.Oliveira 07/01/2019minha estante
Ainda não li o livro, eu comprei em uma promoção, acho que vou dar uma chance


Drica 01/07/2019minha estante
Estou começando essa viagem agora! Também estou achando que vou gostar demais!




Kaio 09/08/2018

Um livro sobre a amizade e um anel
"Aprendi que encontrar a sua arte é matar o tempo com um tiro só."

Tenho uma vaga lembrança de ter comprado o livro em um brechó da igreja da minha rua, por um preço risível, talvez a uns quatro ou cinco anos atrás. Tinha simplesmente o abandonado na minha estante, sempre ao alcance dos meus olhos, mas nunca tive interesse em lê-lo, talvez meio preconceituoso pela forma que o adquiri e pelo autor que até então era desconhecido por mim.

Mas acontece que resolvi dar uma chance e, se quer mesmo saber, ainda bem que tomei a decisão. Logo estava navegando em um Brooklyn da década de 70, em meio aos conflitos raciais, a violência, as drogas, a solidão.

E que solidão!

Não é possível comover-se com as trágicas estórias dos amigos Dylan e Mingus. A conturbada Dean Street, a ausência das mães, pais distantes, drogas a um passo de distância, o racismo, a música e as histórias em quadrinho. Tudo tão enraizado na vida dos garotos que entra em conflito com a amizade solitária que existe entre eles.

Uma narrativa incrivelmente realista com uma pequena dose de fantasia. Um anel que concebe o poder de voar e, depois, da invisibilidade aos improváveis amigos,um elo/segredo que os mantém ligados mesmo após ambos tomarem rumos diferentes em suas vidas.

A Fortaleza da Solidão é um livro sobre a amizade, mas também uma profunda reflexão histórica e social sobre os conflitos raciais nos EUA na segunda metade do século passado e, de certa forma, um retrato do racismo institucionalizado que se mantém até hoje.

Um calhamaço para vida!
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Edson.Oliveira 07/01/2019minha estante
Ainda não li o livro, eu comprei em uma promoção, acho que vou dar uma chance


Drica 01/07/2019minha estante
Estou começando essa viagem agora! Também estou achando que vou gostar demais!




Kaio 09/08/2018

Um livro sobre a amizade e um anel
"Aprendi que encontrar a sua arte é matar o tempo com um tiro só."

Tenho uma vaga lembrança de ter comprado o livro em um brechó da igreja da minha rua, por um preço risível, talvez a uns quatro ou cinco anos atrás. Tinha simplesmente o abandonado na minha estante, sempre ao alcance dos meus olhos, mas nunca tive interesse em lê-lo, talvez meio preconceituoso pela forma que o adquiri e pelo autor que até então era desconhecido por mim.

Mas acontece que resolvi dar uma chance e, se quer mesmo saber, ainda bem que tomei a decisão. Logo estava navegando em um Brooklyn da década de 70, em meio aos conflitos raciais, a violência, as drogas, a solidão.

E que solidão!

Não é possível comover-se com as trágicas estórias dos amigos Dylan e Mingus. A conturbada Dean Street, a ausência das mães, pais distantes, drogas a um passo de distância, o racismo, a música e as histórias em quadrinho. Tudo tão enraizado na vida dos garotos que entra em conflito com a amizade solitária que existe entre eles.

Uma narrativa incrivelmente realista com uma pequena dose de fantasia. Um anel que concebe o poder de voar e, depois, da invisibilidade aos improváveis amigos,um elo/segredo que os mantém ligados mesmo após ambos tomarem rumos diferentes em suas vidas.

A Fortaleza da Solidão é um livro sobre a amizade, mas também uma profunda reflexão histórica e social sobre os conflitos raciais nos EUA na segunda metade do século passado e, de certa forma, um retrato do racismo institucionalizado que se mantém até hoje.

Um calhamaço para vida!
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Edson.Oliveira 07/01/2019minha estante
Ainda não li o livro, eu comprei em uma promoção, acho que vou dar uma chance


Drica 01/07/2019minha estante
Estou começando essa viagem agora! Também estou achando que vou gostar demais!




Eliane406 25/02/2024

O garoto que mora logo ali
?Sou apaixonada por romances de formação, ele narra não só o amadurecimento e as fases de vida do personagem como a transformação histórica do espaço em que a narrativa está sendo ambientada, nesse caso o livro de Jonathan Lethem tem um lado autobiográfico.

Quem visita o Brooklyn hoje e vê toda a sua opulência e casas chiques e lugares da moda, nem imagina como ela era entre os anos 70 e 80, as pessoas chegavam de todas as partes e podiam pagar e comprar suas casas pir valores bem baixos, tinha muito movimento pelas ruas, muita diversidade, situações conflituosas, marcadas pela violência com a explosão do crack e das gangues (aqui me lembrei do filme The Warriors).

Nesse cenário o protagonista viverá sua infância até a adolescência, passando por diversos conflitos familiares, pessoais e sociais. Enxergando de perto o racismo e o mundo contraditório em que os adultos criaram. Além disso tem um registro musical muito forte, marcado pela música negra, do soul, funk, hip-hop e rap, até encontrar o rock nas idas ao CBGB. Mostra toda a cultura em transformação, um mundo rico antes da tecnologia tomar conta e extinguir muitos prazeres.

Nesse contexto o protagonista vive em sua solidão, onde ninguém entende o seus sentimentos e nem imaginam o que se passa em sua vida. A solidão te prende nessa hermética que foge do medo e das consequências das atitudes de cada um, a fortaleza nesse sentido funciona como uma barreira que impede de expressar seus sentimentos e deixar que os outros atinjam seu coração por medo da realidade.

?"...Ele não lutou, não gritou, nem nada. Não é cedo demais pra você ficar sabendo, meu querido é profundo filho, o mundo é mais louco do que um hospício. Corra se não puder lutar, corra e berre fogo ou estupro, seja mais maluco do que eles, use labaredas no cabelo, esse é o meu conselho." pág. 69.

Abaixo um link que mostra um pouco da história do Brooklyn.

https://www.vice.com/pt/article/ev7nw7/como-o-brooklyn-realmente-era-nos-anos-70-e-80
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