Jacque Spotto 03/05/2022
Em Vida Vertiginosa, João do Rio dos dá um cenário da sociedade carioca do final do século XIX e início do século XX a tão falada Belle époque brasileira, em que estava efervescente a cultura das grandes cidades, novas formas de arte, novas tecnologias - era recente a iluminação elétrica, os automóveis, o feminismo, dentre outras novidades que borbulhavam na Capital do Brasil, na época, o Rio de Janeiro.
Da mesma forma que evidencia todo o esplendor carioca, ele o faz de forma muita irônica, e mesmo sendo escrito no início do século XX, é impossível não compararmos o comportamento de uma sociedade com semelhanças que não se diluíram com o tempo e vemos ainda hoje em nosso meio.
O escritor evidencia o paralelo de uma cidade de ostentações, com a população muitas vezes deixada de lado como os mendigos e os trabalhadores que moram nas favelas. Também mostra essa cultura que o carioca/brasileiro tinha (ainda tem?) de valorização de tudo que é estrangeiro: teatro, música, artes, roupas, viagens, e até da própria língua. E também a desvalorização de nossa cultura, matérias-primas e a arte do país, e essa busca constante em não nos apresentar como pessoas primitivas.
João do Rio traça esse panorama de figuras como os patriotas que esculhambam qualquer tipo de Governo pois não são do seu grupo; da desvalorização dos jornalistas; de estar sempre em evidência e se perder entre o particular e público; entre a modernidade da vida e apesar da tecnologia nos trazer novos aparatos para facilitar nossos processos, estarmos cada dia mais atarefados pela falta de tempo.
Nessas 25 crônicas não há somente uma descrição geral da cidade, mas a essência de cada tipo existente tanto na política, no comércio, na intimidade de uma casa, ou na seresta das favelas, até mesmo nos animais muito discretos e explorados como os burros de carga, e ele fez isso magistralmente, como observador ele conseguiu incluir nos seus escritos a estrutura e natureza das pessoas de uma época.
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