Taverneiro 11/04/2017Ótima Fantasia Nacional ^^...
Esse livro de fantasia se passa no mundo de Athelgard e é o primeiro de uma trilogia que inclui A Ilha dos Ossos e A Fonte Âmbar. Trilogia por serem os mesmos personagens, porque todo o arco de história que nasce aqui nesse livro termina aqui mesmo, fazendo ser bem autossuficiente.
O Castelo das águias é uma escola de magia encontrada nas terras férteis de Athelgard. Uma terra fantástica de elfos e homens. Nós acompanhamos aqui Anna de Bryke, uma moça nascida longe das cidades grandes e que foi chamada para ser a nova Mestre de Sagas do castelo. Ela é jovem para essa posição, e tem que se acostumar com essa nova responsabilidade e com o modo de vida da “cidade grande”.
O castelo tem esse nome por um motivo, eles treinam águias aprimoradas magicamente para a batalha, e essas águias precisam da agua de uma fonte que só existe nos arredores do castelo, e a mestra Anna acaba caindo no meio de uma trama política liderada pelo mago elfo Hillias, que deseja transportar essas águias para outras cidades, mesmo elas não aguentando muito tempo longe da fonte. Por meio de experiências cruéis com as aves ele deseja leva-las para toda a Athelgard.
O Mestre das Águias Kieran é o principal ponto opositor dessa ideia. Com o apoio do castelo, mas vai ser necessário mais do que a bravura de Kieran para impedir que esses animais sejam maltratados, e a mestra Anna com sua sensibilidade vai ter uma importância vital nesse empasse.
O livro é bem curtinho se comparado a qualquer outra fantasia medieval de atualmente, e tem muita coisa legal nessas quase duzentas páginas.
O primeiro ponto que destacou a obra para mim foi o tratamento dado aos personagens. A protagonista é explorada emocionalmente, e acaba sendo fácil criar um laço com a personagem e pelo que ela está passando. A temática de escola de magia não é novidade, mas a autora sabe usar isso de uma maneira mais sutil, não é tão presente na trama esse detalhe, e, além disso, a protagonista tem o ponto de vista de uma professora, e não um aluno, o que deixa tudo bem interessante.
Combinado com isso vem o fato de ser uma escrita muito mais “sóbria”, sem exageros de enredo ou traços muito destoantes na história. É uma leitura mais sublime, para ser lido como um passeio enquanto se ouve o barulho de ondas e sente o vento da maresia no rosto (gostaram da minha analogia? 😄 ). Esse não é o tipo de leitura que eu procuro ativamente e eu já estava imaginando que iria odiar antes de começar, mas de repente eu me vi empolgado com os grandes momentos da história (até mesmo os de romance, por mais incrível que pareça 😄 ). A autora me amarrou aos seus personagens e qualquer coisa que abalassem eles ia me atingir também, o que é ótimo.
O livro tem seus momentos de combate e tensão bem pontuais. Eu achei o suficiente, mas alguém com maior desejo de ação pode ficar um pouco decepcionado. O prologo revelando o que ia dar errado na trama espalhou o tom de tensão por todo o livro, isso foi uma escolha muito acertada da autora.
E o sistema de magia dela é muito, muito legal, com suas divisões entre magia de forma, magia de pensamento, e principalmente a base de toda a magia, que é o conhecimento de sagas! Eu adorei essa associação com livros e grandes histórias como sendo a base da magia, e o “mago” é o conhecedor dessas histórias. Isso toca qualquer leitor ou escritor e é um dos pensamentos desse livro que eu vou levar para a vida. ^^
“Você tem que entender as bases da Magia, não para pratica-la, mas para explicar aos seus alunos que as sagas contêm mais do que apenas uma trama bem elaborada.”
“Descobrir as histórias de vidas daqueles jovens. Fazer com que as contassem, as representassem, as enlaçassem a outras historias que existiam no mundo. Só assim poderiam viver segundo o lema da escola. Pela Arte e pela Magia!”
Obviamente o livro não é perfeito. Os personagens secundários são quase um monte de nomes sem proposito. Eu li o conto dos mares gelados, onde um dos coadjuvantes aqui é o protagonista lá e, se o background de metade dos nomes citados nesse livro foi trabalhado como o desse homem, já seria um grande trabalho de criação de mundo, mas não é isso que eu senti enquanto lia o livro. A maior parte deles eu nem consigo lembrar.
E outro ponto que me deixou meio para baixo foi a falta de participação da protagonista na cena final. É uma cena incrível, mas é outra pessoa que tem o foco lá, e eu queria que a Anna fizesse mais coisas. Mas isso é só uma questão pessoal mesmo, a cena é muito boa.
Conhecer Anna de Bryke, a Mestre de Sagas e Filha dos Lobos, foi um privilégio. Ana Lucia Merege criou um ótimo mundo aqui, e conseguiu me deixar com vontade de continuar acompanhando esses personagens em mais aventuras.
Livro muito recomendado, e se você quiser ver outros trabalhos da autora, tem também uma pequena resenha de um conto por aqui mesmo, e ela tem diversos textos menores pra quem não quiser ler um livro inteiro, vocês podem conferir mais no blog ou na pagina do facebook do livro, vocês não vão se arrepender. ^^
“O fogo me revelou que a Magia e a Ciência não bastam. Precisamos da Imaginação. E quem melhor para isso do que a nossa Mestre de Sagas?”
site:
https://tavernablog.com/2017/03/19/o-castelo-das-aguias-de-ana-lucia-merege-resenha/