As correções

As correções Jonathan Franzen




Resenhas - As Correções


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DêlaMartins 17/08/2023

Família: sempre um assunto complexo
"As correções" é um livro complexo sobre um assunto complexo: família. Jonathan Franzen vai nos apresentando os personagens de forma clara, mostrando seus traumas, suas broncas, seus preconceitos, suas expectativas e experiências usando acontecimentos cotidianos de cada um deles.

A família Lambert é de uma pequena cidade do meio-oeste dos EUA. Alfred, o pai, sempre trabalhou na companhia de estradas de ferro, sempre foi rígido com seus conceitos e preconceitos. Enid, a mãe, é uma otimista, bastante relegada a 2º plano pelo marido, com grandes expectativas, mas vive preocupada com o que os outros pensam, vive para parecer feliz e bem-sucedida. Os três filhos saíram da pequena cidade e foram para o leste. Gary, o mais velho, é banqueiro, tem muito dinheiro, casado com a tóxica Caroline que, por sua vez, não gosta da sogra e manipula os 3 filhos contra o pai. Gary sofre de depressão e tem um grau preocupante de alcoolismo. Chip, o filho do meio, solteiro, tem como sonho escrever um roteiro de um filme e passa o tempo todo reescrevendo seu 1º roteiro. Ele era professor universitário que foi demitido depois de se envolver com uma aluna e, então foi para a Lituânia para trabalhar numa empresa fake. Denise, a mais nova, é chefe de cozinha, divorciada de outro chefe, alcançou o sucesso, mas perdeu o trabalho depois de ter um caso com a mulher de seu chefe e também com ele. Uma família disfuncional, mas com um grau de normalidade e, muitas vezes enxergamos fatos que acontecem com nossas próprias famílias, ver traços de nós mesmos em alguns personagens.

A narrativa gira em torno do declínio de Alfred, que se aposentou e acabou desenvolvendo mal de Parkinson e demência, mas manteve sua rigidez e teimosia. Enid, a eterna otimista, sempre acha que a doença dele é um problema de atitude. Até um cruzeiro com Alfred ela organiza... Alfred, durante o cruzeiro, tem nitidamente uma piora, com alucinações e limitações muito maiores que as esperadas pela família (a narrativa desses episódios é de uma clareza impressionante). Enid quer fazer um último Natal em casa, com toda a família e a insistência dela é um ponto alto da leitura - ela consegue parcialmente o que quer. Principalmente durante essa confusa reunião familiar, Franzen nos mostra como entes queridos podem muitas vezes machucar uns aos outro, apesar da plena consciência do amor que os une.

O declínio do patriarca, a demora na aceitação da família, os choques entre eles, a falta de discernimento contrastada com momentos de lucidez de Alfred, me levaram a enxergar que, no fundo, a disfunção dessa família é quase normal.

Um bom livro, mas complexo.
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Claudio.Berlin 17/04/2023

Famílias com seus acertos e erros
O autor foi extremamente hábil , na dissecção das personalidades.
Os personagens são o aspecto mais importantes desse romance , e são personagens fortes .
Trata- se do conturbado relacionamento de uma família cujos pais já idosos , moram numa pequena cidade no meio oeste americano ( ou seja , no meio do nada ) , com valores rígidos , e imutáveis, meio que parados no tempo, com puritanismo em excesso.
Os filhos trabalhando nas grandes cidades , todos sem tempo nem paciência para convivência com os pais .
Autor de uma criatividade ímpar , de um profundo conhecedor das variadas facetas das pessoas .
Em muitos trechos a história se alonga demais .
A leitura não é muito fácil . As vezes entediante.
Gostei bastante.
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Iuri 23/08/2021

As Correções é muito punk.

O calhamaço de mais de 500 páginas nos brinda com uma trip super neura pelos subterrâneos de uma típica família classe média americana.

Alfred é o patriarca egoísta, irascível, teimoso e preconceituoso. Engenheiro aposentado de uma estrada de ferro que vive, com Enid, sua esposa, em St. Jude, uma cidade fictícia Super-WASP. Perfeito exemplo dos “valores tradicionais”, trata sua mulher como lixo, um burro de carga sem voz e sem vontade que ele tiraniza, explora e desrespeita. Seguidor da linha “homem forte e macho”, do “homem utilitário e sério”, Alfred fracassa em desenvolver laços emocionais com quem quer que seja. Assim, afunda-se na solidão e terror ao reconhecer a destruição do seu corpo e de sua mente pelo Mal de Parkinson. E, mesmo diante da crescente decrepitude geral, faz a linha “durão” e se recusa a pedir ajuda ou aceitar qualquer sugestão de mudança em seus velhos hábitos. Neste quadro da dor, o papai – como um pateta total - passa por momentos de delírio, sedução pelo suicídio, luta pela vida, enfrentamentos com a família e desesperadas batalhas com suas necessidades fisiológicas

Enid, a matriarca, empenha-se em construir um mundo de fantasia, um mundo envernizado onde sua família (completamente fraturada) surge como exemplos de cidadãos, com ótimas profissões, , ótimos relacionamento e ótimas realizações. Para construir e sustentar este universo de mentiras, ela recorre a diversos expedientes (principalmente o auto engano), culminando no uso de uma droga milagrosa, daquele tipo que “traz a felicidade”. Assim como Alfred, ela filtra sua relação com os filhos através de valores – na sua opinião corretos - que só ocasionam afastamento e rancor. Apegada à felicidade de aparências, a mamãe empenha-se em montar “cenas familiares de felicidade”, e sofre pelo fato dos personagens errarem seus papéis.

Chip, o filho do meio, é um “intelectual de passeata”, como diria Nelson Rodrigues. Um cara – um professor cheio de ideias revolucionárias e “ousadas” - que soa completamente anacrônico e é incapaz de qualquer ação prática e útil. Marxista naufragado, aproxima-se da completa alienação (e diga-se de passagem também quase torna-se uma espécie de delinquente – em cenas absolutamente ridículas - ) após envolver-se com num escândalo sexual com uma de suas alunas (uma garota gostosa, disponível e rica). Absolutamente sem perspectivas e sem um tostão no bolso, acaba na Lituânia, trabalhando – num tipo de atuação falcatrua - para um vigarista empenhado em locupletar-se e, ao mesmo tempo, num viés patriota, “contribuir para o futuro do país”.

Gary seria o exemplo perfeito de um “vencedor”. Filho mais velho de Alfred e Enid é aquele tipo de cara bem sucedido socialmente, com um bom emprego, boa esposa, bons filhos; tudo emoldurado por uma bela casa repleta de avanços tecnológicos. Nada a reclamar, tudo perfeitamente encaixado numa foto colorida digna de um belo comercial familiar. Porém Gary é depressivo e quase alcoólatra, situações que ele se esforça para ocultar de sua esposa Caroline (uma megera) e dos filhos totalmente imbecilizados (tirando um, o Jonah, Mas que também acaba na vibe dos demais). Gary desconfia que a esposa e filhos tramam contra ele e, seguidor dos manuais do tipo “como educar seu filho”, mostra-se incapaz de exercer qualquer papel educacional ou de respeito diante da sua plugada prole (devidamente associada à Caroline). Assim como sua infeliz mãe, Gary inventa “cenas de felicidade” ( do tipo churrasco para a família, passeios com o filhos, etc) que acabam sempre em raiva e mais neura. Com o objetivo de “progredir”, de “levar vantagem” e , ao mesmo tempo “ocultar a infelicidade, o mêdo e a depressão”, Gary acaba condenado a uma desgraçada existência de mentiras. Amaldiçoado a sustentar uma aparência de “realizado”, exatamente dentro daquilo que se espera de um típico vencedor, de um cara que “se deu bem na vida”, Gary é o perfeito quadro de um looser-winner (se é que isto existe).
Jonathan Franzen

Denise, a filha mais nova, segue a linha do pai no que se refere à seriedade profissional desde seu primeiro emprego. Como uma bem sucedida chef, encontra o reconhecimento pleno no alto mundo gastronômico. Porém, como não poderia deixar de ser, sofre de profundas doenças “da alma” e todos seus relacionamentos amorosos fracassam magnificamente. Com uma sexualidade ambígua (com um toque masoquista) ela alterna paixões com homens e mulheres de forma um tanto arriscada e suicida. Assim, logo ela se descobre insatisfeita e o “amor” desaparece entre brigas, mentiras e traições.

Todo este cenário bizarro vai culminar em uma reunião familiar para “comemorar o último Natal”. O que rola ali vai desde o mais bizarro até o mais amoroso, passando claramente pela raiva, ódio, desconsideração, egoísmo e desamor. Sim amor e desamor misturados, o que afinal acaba traduzindo o relacionamento da imensa maioria das famílias de qualquer época ou país.

Livraço.
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Davi A. 19/07/2021

Não é o melhor de Franzen
Deixei para ler o primeiro livro de Franzen por último e não foi à toa.

Zerei todas as obras do autor e já dá para ver o quanto evoluiu a escrita do norte-americano.

Em As Correções, não há clímax ou anticlímax, tudo se passa como se fosse uma série de TV sem rumo e, por isso, Liberdade e Pureza se destacam para mostrar algum foco.

De todo modo, o final do livro é lindo. O definhamento de Alfred e a grandeza de Elid são anátemas de uma história universal da humanidade, um ciclo de vida que uma hora funda.

Obrigado, Franzen! E que venha ?Crossroads?!
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Sophia Estrela 25/03/2021

Fiquei assim??? E o pior é que enquanto você está lendo você só consegue pensar que o autor escreve muito bem mas não consegue te prender. Pelo menos tem uma sapatão pra alegrar a história (e com um final pseudo-feliz). Não entendi todo o bafafá desse livro, me senti completamente enganada. E outra, que vontade de matar aquela Caroline... Alguém da um tabefe naquela mulher, que agora eu quero ver a costa dela é doendo.
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otxjunior 19/12/2020

As Correções, Jonathan Franzen
Jonathan Franzen deve ser meu autor favorito que não recomendo a ninguém. Leia As Correções, seu terceiro romance, por sua conta e risco. Um épico de uma família decadente da classe média norte-americana do final do século passado, nos moldes de... bem, Franzen não escreve como ninguém que já li. As comparações podendo ser feitas apenas dentro de sua própria obra; mas aqui, o humor perverso e a prosa tão eloquente quanto maluca superam seu mais famoso Liberdade, principalmente quando a miscelânea cultural, política e humana culmina nos momentos que mais me emocionaram ao ler qualquer livro este ano. Já quanto a força dos personagens é igualado ao seu sucessor, Enid, Alfred, Gary, Chip e Denise são os novos Patty, Walter, Joey, Richard e Connie. Ou os velhos! Estaria ele escrevendo o mesmo livro?
Assim como Chip e seu roteiro eternamente inacabado e rejeitado por todos, tendo como último rascunho, em suas palavras, uma tentativa de tragédia reescrita como farsa. Quem diria que este seria meu gênero literário predileto! Porque As Correções se enquadra perfeitamente nele. Ainda por cima, a seu modo bizarro, é uma história de Natal! Que diferentemente dos exemplares piegas da categoria, retrata o exercício do perdão e união fraterna de maneira real e tocante. Afinal, nada é óbvio quando a trama te leva de uma crise na Lituânia pós-soviética a um cruzeiro geriátrico de temas nórdicos. Boa Viagem e Feliz Natal!
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16/09/2019

Ufa, 583 páginas e 1 mês e meio depois, consegui terminar esse calhamaço. Foi difícil? Foi, porque os personagens deste livro são detestáveis. Eu realmente não suportei nenhum deles, e agora que terminei entendo o motivo: todos eles são demasiadamente humanos.

O livro aborda uma típica família americana disfuncional da virada do século XXI, os Lambert. Alfred, o patriarca, sempre foi muito severo com os filhos e a esposa, mas agora, no fim de sua vida, se vê com o Mal de Parkinson; Enid, sua eposa, vive numa bolha na qual mais do que ser feliz, o importante é parecer feliz; Chip, o filho do meio é um fracassado, que acaba de perder seu emprego como professor em uma universidade depois de se envolver com uma aluna; Gary, o filho mais velho, que tem sérios problemas de depressão e alcoolismo, além de uma esposa que odeia os sogros e usa os filhos contra ele; Denise, a caçula, uma chef bem sucedida que põe tudo a perder depois de ter um caso com os donos – marido e mulher - do restaurante em que trabalha.

O livro não tem grandes acontecimentos, porque o foco é mergulhar fundo na cabeça desses personagens problemáticos. Além do Mal de Parkinson, Alfred está apresentando os primeiros sinais de demência, então ele começa a ter alucinações e falar nada com nada, e a gente acompanha essa estranheza junto com ele. Conseguimos entender também o caráter egoísta de Enid, se deliciando, por exemplo, ao ver seu filho sendo castigado pelo pai quando criança, por tê-la “magoado” – ele não quis comer a comida que ela preparou. Além disso, ela tem a mania de colocar um filho contra o outro, comparando o sucesso de um com o fracasso do outro. Isso, lógico, irá afetá-los – cada um à sua maneira – e, na primeira oportunidade dão o fora da casa dos pais e só voltam quando estritamente necessário.

E é aí que chegamos ao último natal deles. Enid está obcecada em ter uma última festa com toda a família reunida, antes do seu marido piorar de vez. Como se a festa pudesse corrigir anos e anos de amargura. Nem é preciso dizer que as coisas não saem como o esperando.

Como diria Tolstoi, “todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira”.
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Malu 02/10/2018

Todos temos nossas "correções"
Parece que quando ficamos mais velhos nossos preconceitos vão nos deixando, parece que com o passar do tempo largamos as velhas amarras que nos prendiam e nos tornamos mais tolerantes e mais sábios, claro que não acontece com todo mundo, mas com boa parte das pessoas. Não nos cabe mais vestir máscaras porque no fim da vida não precisamos mais provar nada a ninguém. No fim do romance é essa a lição que fica, ou como o autor diz: as correções. Não importa quanto preconceito estamos impregnado, no fim ele não importa mais.
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Biblioteca Álvaro Guerra 11/05/2018

Jonathan Franzen, uma das revelações da literatura americana, conta uma saga contemporânea tragicômica, que vai de Nova York à Lituânia, e expõe dramas pessoais, crises conjugais e os conflitos que separam duas gerações de uma típica família dos Estados Unidos nos anos 1990.

Empreste esse livro na biblioteca pública

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535918878
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Rogério 28/11/2017

Contundente e sagaz, um dos melhores romances contemporâneos
O Natal dos Lambert promete ser um acontecimento perturbador desde que ele é anunciado nas primeiras páginas. O leitor acompanha seus cinco membros - o casal Enid e Alfred, os filhos Gary, Chip e Denise - em seus dramas particulares mas com profundas relações emocionais que permearam a própria constituição dessa família. A marca narrativa de Jonathan Franzen é a contundência, mirando seu olhar sobre a eloquência daquilo que não é dito nas interações, a influência dos sentimentos relegados aos recessos da história de um casal, a hostilidade e o amor em constante negociação, a doença, a velhice, o ressentimento. Diversos episódios curiosíssimos, cômicos, alguns grotescos, entre eles o brilhante "Jantar da Revanche" me fizeram rir, mas um riso nervoso. Tão logo o terminei já parti para "Liberdade", em que Franzen mantém a tônica, consolidando seu lugar como um dos ficcionistas estadunidenses mais importantes da atualidade. Recomendo!

site: https://www.amazon.com.br/review/REBSBFWHON2VC/ref=cm_cr_srp_d_rdp_perm?ie=UTF8
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Artax 22/05/2017

Conta a história de uma família, os Lambert, sob os diversos pontos de vista de seus membros. A cada narrativa você se pega amando e odiando cada personagem e não entende como isso é possível, sem conseguir nunca eleger um preferido porque logo em seguida ele vai lá e faz um podre que destrói toda a boa imagem que você criou dele. E é esse o acerto, sabe? Não existem personagens perfeitos nesse livro porque não existem pessoas perfeitas na vida real. Mesmo a pessoa que você mais ama pode te desagradar um dia e isso é normal porque não tem como agir conforme as expectativas de todo mundo. Compreender isso tornou a experiência de acompanhar os Lambert incrível. Você se sente muito próximo de todo mundo porque enxerga ali sua mãe, seu pai, seu irmão, e até você mesmo. E eu me peguei chorando emocionada por um personagem, justamente aquele que eu mais odiava. CARA, é muito bão esse trem, recomendo mesmo com mil estrelinhas. É grande, é cansativo, mas é amor.
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deportado 25/09/2016

Muito entediante
Nao consegui ler todo. Muito chato.
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Maitê 01/08/2015

Bom
é o segundo livro do autor que leio, e não se é por ter me acostumado mais com sua narrativa, mas acho que curti mais esse livro. Ele também é a historia de uma família, mas nesse me senti como se fosse alguém muito próximo espiando essa família e fazendo parte dela, apesar de que não cheguei a "gostar" de nenhum personagem ou ao menos me identificar com nenhum deles, acho que isso até ajudou a gostar mais da leitura.
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Arsenio Meira 08/02/2013

Jonathan Franzen aprofunda as personalidades e os problemas de todas as personagens explorando, em detalhes, a história de cada um e a maneira com que se relacionam.

É como se o narrador se fundisse a eles sutilmente para assim mostrar ao leitor seus pensamentos mais íntimos, e a cada nova informação liberada, mais ainda se percebe a agonia das personagens e a certeza de que, uma hora ou outra, todo esse material inflamável reunido em um espaço tão pequeno entrará em combustão.

A família tradicional, próspera e bonita que Enid tanto lutou para construir à imagem de seus vizinhos de classe média alta irá desabar permanentemente. Mas Franzen consegue, de algum modo, manter os pedaços dessa família unidos e o leitor atento a todo esse drama.

A união está na vontade que sentem de acertar as contas uns com os outros para, assim, corrigirem todos os problemas que atrapalham suas vidas e suas relações. Na vontade, na verdade, dos filhos que pensam e vivem de forma tão diferente de seus pais, que seguiram rumos de certa forma contrários daquilo que Enid, principalmente, esperava de sua família que representa o típico lar norte-americano.

A impossibilidade de ela aceitar essas diferenças, jogando aos ares seus julgamentos antiquados tentando manter a imagem que sempre sonhou que sua família deveria ostentar de riqueza, requinte, prosperidade e união. O que seu marido não ajuda nem um pouco conforme é mais e mais consumido pela doença degenerativa.

O materialismo, a sexualidade, o egocentrismo, a competitividade e a teimosia de cada membro dessa família é trabalhado por Franzen para atingir e causar reações que revelem e incrementem ainda mais os seus problemas.

O romance todo é tomado por essas relações conflituosas muito bem apresentadas ao leitor e que os fazem reconhecer e tomar partido dessas personalidades, sem conseguir vislumbrar um desfecho que não seja trágico. Surpreendentemente, ele encerra essa história de forma bem pacífica, com as correções devidamente instauradas nessa família, mas isso não significa que todos tenham seus finais felizes. Afinal, quanto pode durar esses tempos pacíficos até a próxima crise?

Eis um romance dividido entre a complexidade do tema – as relações familiares ameaçadas pela sua decadência – e a facilidade da leitura, que rapidamente conquista o leitor com os dramas da família Lambert, traga toda a sua atenção para a tristeza e incompreensão que habitam o livro.

Nenhuma família é perfeita, não o tempo todo, e o contraste entre as expectativas e a rigidez de Enid e Alfred com a liberdade ansiada pelos seus filhos dá vida ao livro. É por isso que essa ficção parece tão verdadeira e humana.
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jota 07/01/2013

Ah, as famílias...
Um dos inícios mais conhecidos em literatura é de Leon Tolstoi, em Anna Karenina, onde ele diz que "Todas as famílias felizes são iguais. As famílias infelizes o são cada uma à sua maneira". Bem, essa família Lambert, de que trata Jonathan Franzen, não é muito uma coisa ou outra, pois a toda hora seus membros estão fazendo suas correções, ou tentando fazê-las, nem sempre com sucesso, e algumas vezes até reincidindo em erros passados. Mas vão tocando a vida em frente...

Temos Alfred, o pai e Enid, a mãe, ambos na faixa dos setenta; três filhos entre trinta e quarenta e poucos anos, Gary, Chip e Denise, apenas um casado; três netos, meninos entre oito e catorze (Aaron, Caleb e Jonah), filhos de Gary e Caroline. Todo mundo aqui tem algum tipo de problema - grave, como Alfred, sofrendo do mal de Parkinson e incontinência urinária - ou nem tanto, somente até certo ponto, caso dos irmãos Gary, Chip e Denise e também dos outros, especialmente Caroline (a esposa de Gary) e suas manias ou manobras (maternas).

É sempre interessante saber como todos se viram ou se viraram literalmente no avesso para tocar suas vidas em frente, apesar dos outros ou deles mesmos. Franzen vai fundo na vida de cada um e os cinco personagens principais tem suas histórias esmiuçadas com uma lente de aumento. Então, mesmo que o livro tenha tantas páginas (e tão poucos capítulos ou partes), dificilmente você se cansará ao mergulhar nele – ainda que em certas passagens é impossível não ser levado a pensar quão dolorosa pode ser a nossa vida no futuro – quando ficarmos velhos e nossa saúde física ou mental (ou ambas) mostrarem sinais de debilidade.

As Correções recebeu as melhores críticas possíveis da imprensa, como The New York Times Book Review, que chamou o livro de “maravilhoso”, e a obra de Franzen é mesmo grandiosa, em vários sentidos. Michael Cunningham, autor de As Horas, compara o livro à saga familiar de Os Buddenbrook, a excepcional obra de Thomas Mann, premiada com o Nobel de literatura. Também não deixa de ter certa razão, mas o livro de Mann é um clássico sobre a decadência – tanto que nas edições mais antigas há até um subtítulo sintetizando o romance: A decadência duma família. Não me pareceu que a família americana tivesse descido tanto quanto a alemã...

Recomendo este livro com entusiasmo (mas não para todo mundo).

Lido entre 22/12/2012 e 07/01/2013.
Daniel 17/01/2013minha estante
Eu gostei mais deste do que do "Liberdade", publicado posteriormente e que causou mais falatório na imprensa.


jota 17/01/2013minha estante
Então, Daniel, já li muitas opiniões semelhantes à sua e até mesmo quanto à tradução apressada do livro (que conteria vários erros, mas como não li ainda, não posso confirmar isso). Entretanto, achei muito pretensiosa a "propaganda" na capa do livro, citando o Guardian, dizendo tratar-se não apenas do livro do ano, mas do século. Pombas, ainda faltam muitas décadas para o século XXI acabar! E vão surgir muitos livros e autores novos, para nossa felicidade de leitores e liberdade de escolha. não?




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